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Tatuadora relata aumento na procura de homenagens a mortos por Covid: 'Necessidade de extravasar a dor'

Por Redação em 20/07/2021 às 07:01:29
Fernanda Teles, de 30 anos, trabalha como tatuadora em Sorocaba (SP) há cinco anos. Ela iniciou um projeto que reúne histórias de superação na pandemia após perceber aumento na procura por homenagens e também por pessoas que queriam realizar sonhos antigos que foram adiados. Fernanda Teles durante a tatuagem da fotografia de Aparecido Forine

Arquivo Pessoal

As marcas de uma dor transformadas em eterna homenagem na forma de tatuagem. Os traços da escrita e fotografias que um dia pertenceram a alguém, agora, são detalhes marcados na pele de pessoas que perderam familiares para a Covid-19 durante a pandemia.

A procura por trabalhos que resgatam a lembrança de pessoas que morreram pela doença aumentou neste período, segundo a tatuadora de Sorocaba (SP) Fernanda Teles, de 30 anos. Ela trabalha na área há cinco anos e se especializou em tatuagens "fine line", com características minimalistas.

Ao G1, Fernanda contou que desde a metade do ano passado houve uma grande procura de pessoas que decidiram homenagear parentes com tatuagens. Além disso, também foi frequente a busca pela realização de uma tattoo, como um sonho antigo que foi adiado.

"Eu faço bastante assinatura, carta, digital, foto ou uma imagem que a pessoa fez ou quis replicar, e até mesmo uma frase que a pessoa falava, a própria escrita dela. Em momentos de homenagens eu sempre estendo o tempo da tatuagem. Muitos chegam nervosos, choram muito."

Aumenta a procura por tatuagens de homenagens à familiares que morreram por Covid em Sorocaba

Arquivo Pessoal

Para Fernanda, a tatuagem é uma forma de expressar sentimentos e também uma arte que é expressada através de uma ilustração na pele.

"A pandemia aflorou a necessidade de extravasar essa dor, saudade ou alegria. Nos preocupamos muito em proporcionar esse momento que carrega muito sentimento. Pensamos que a pandemia trouxe a necessidade de não deixar para o amanhã o que podemos fazer hoje."

Ela explica que sempre buscou seguir todos os cuidados de prevenção à Covid-19 no estúdio, e normalmente os agendamentos ocorrem com antecedência para que haja intervalos entre os atendimentos.

Ela também criou um projeto nas redes sociais que traz histórias de superação. A ideia surgiu como uma maneira de reunir os relatos que chegam por meio do trabalho.

"Devido à fragilidade do momento, a ansiedade dos dias e essa inconstância, a gente foi ouvindo muitas histórias, histórias edificantes, acho que posso usar essa palavra. Eu aprendo com cada história e quis trazer um pouco de cada pessoa, para mostrar diferentes visões e realidades."

Fernanda Teles é tatuadora há cinco anos, em Sorocaba

Arquivo Pessoal/ Fernanda Teles

"Queria ele marcado em mim"

Em um curto espaço de tempo, Vanessa Marques Forine Brunhara, de 36 anos, se viu sem chão. Ela perdeu o pai, Aparecido Forine, para a Covid-19 em abril deste ano, mês com mais mortes registradas desde o começo da pandemia em Sorocaba.

Em entrevista ao G1, ela contou que decidiu homenageá-lo com uma tatuagem, algo que nunca tinha feito antes. A imagem escolhida foi uma foto tirada no ano passado, no aniversário dele, de 67 anos.

“Foi algo de duas semanas. Ele ficou gripado e acabou sendo internado. Depois de 3 dias ele veio a óbito. Eu também estava com Covid, meu marido, filho e minha mãe. Não teve velório. Sou evangélica, a gente sempre faz o culto fúnebre e não pôde. Eu fiquei com essa coisa na cabeça de querer fazer algo.”

Tatuagem foi feita em maio desde ano

Arquivo Pessoal/ Fernanda Teles

Aparecido era morador de Sorocaba e ainda não tinha sido vacinado contra a Covid-19. Segundo Vanessa, ele morreu uma semana antes de a faixa etária dele ser contemplada na fase da campanha.

"Ele sempre foi muito alegre, sorridente, gente boa. Para ele não tinha tempo ruim. Foi uma maneira que eu achei para homenageá-lo. Eu não contei para ninguém da minha família, foi uma surpresa. Eu queria ele marcado em mim. Quando minha família viu, se emocionou."

Aniversário de 67 anos de Aparecido Forine, em 2020

Arquivo Pessoal

Forma de despedida

Vanessa Bertim Martinez de Oliveira, de 42 anos, decidiu homenagear o irmão caçula, Felipe Bertim Martinez, com uma frase que representa a saudade que sente, mas também a liberdade que um voo pode alcançar.

Ao G1, ela contou que desde 2012 Felipe fazia hemodiálise por causa de uma insuficiência renal. Ele morava em Sorocaba e aguardava por um transplante. Por isso, precisava frequentar o hospital três vezes por semana devido ao tratamento.

“Mesmo fazendo trabalho em home office e adotando todo isolamento, tinha a rotina de hemodiálise. Ele acabou se contaminando com a Covid e não resistiu. Mas tudo que ele deixou de aprendizado foi lindo. De nunca desistir, perseverar. Ele sempre tinha um sorriso no rosto.”

Vanessa fez a tatuagem em outubro de 2020, dois meses após a morte do irmão

Arquivo Pessoal/ Fernanda Teles

Felipe morreu aos 29 anos, em 23 de agosto de 2020. Dois meses depois, Vanessa decidiu tatuar a homenagem, como forma também de preservar a memória do irmão.

“Meu amor é imenso e poder eternizar esse amor foi simplesmente uma experiência única, é como se ele estivesse em mim. Eu e minha irmã ficamos e ele foi para voos mais altos. Um passarinho como ele era, gostava de voar. Foi uma forma de me despedir também."

Felipe morreu aos 29 anos em 23 de agosto de 2020

Arquivo Pessoal

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Fonte: G1

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