Os amplos e evidentes acenos de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, na direção de Lula e de seu estilo de governo, ressoaram no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios.
Em entrevista ao programa 'Conversa com Bial', exibido na madrugada de terça-feira (3), Campos Neto disse se arrepender de ter usado uma camisa da seleção ao ir votar nas eleições de 2022.
A aproximação progressiva, que chega ao auge após 10 meses de governo e depois de muitos carrinhos do presidente da República na política de juros do BC, foi explicitada pelo próprio Campos Neto, que descreveu Lula como um gestor mais "paciente" nas reuniões e tomadas de decisão, e ainda falou ao Bial que, hoje, não sairia de casa para votar com a camisa da seleção do Brasil.
Do ponto de vista político, avalia um aliado do ministro da Fazenda Fernando Haddad, não é possível ainda afirmar que ele e Campos Neto são aliados, mas está explícito que estão "na mesma página".
O Banco Central -- por mérito de Campos Neto, mas também de Gabriel Galípolo, indicado por Lula diretor do órgão -- tornou-se um parceiro na pregação pela manutenção da previsão da meta de déficit zero em 2024, ainda que ela seja de difícil execução.
Esse auxiliar de Haddad lembra que, em ata, o Comitê de Política Monetária tratou a perseguição desta meta como imprescindível para a manutenção da queda dos juros, hoje em 11,75%.
"Ouço muito aqui dentro que mais importante que cumprir a meta, é saber perseguir esse horizonte."
Além da união estratégica pela ambiciosa marca de déficit zero, há também um elo no que diz respeito às preocupações vinculadas ao cenário externo.
Como relevou o Conexão GloboNews na sexta passada, dia 29 de setembro, Haddad declarou ao blog ter três preocupações centrais:
a alta dos juros nos Estados Unidos;
a desaceleração da economia chinesa;
e ainda a alta no preço do barril do petróleo.
Nisso, também, Haddad está unido a Campos Neto.