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Orçamento secreto e cargos no governo Lula: o que estĂĄ travando a PEC da Transição?

Por Redação em 17/12/2022 às 08:14:53
Medida é considerada estratégica para a equipe do presidente eleito cumprir a promessa de pagar o AuxĂ­lio Brasil de R$ 600 em 2023. Arthur Lira (à esquerda) e Lula (à direita) vĂȘm mantendo diĂĄlogo desde a vitória do petista

Reuters

Após uma aprovação rĂĄpida no Senado, a PEC da Transição "travou" na Câmara dos Deputados. A estimativa é que ela fosse votada ainda nesta semana, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) sequer a colocou em pauta. A expectativa é de que ela só entre em votação na semana que vem.

A proposta de emenda constitucional (PEC) é considerada estratégica pela equipe do governo do presidente eleito Luiz InĂĄcio Lula da Silva (PT) para cumprir algumas das promessas feitas durante a campanha eleitoral deste ano. A principal delas é o pagamento do AuxĂ­lio Brasil de R$ 600 em 2023.

Mas por que a PEC aprovada com rapidez no Senado estĂĄ "patinando" na Câmara dos Deputados?

A BBC News Brasil ouviu especialistas que apontaram dois motivos principais para explicar a demora para que a medida seja colocada em votação: a indefinição sobre o chamado "orçamento secreto", cuja legalidade estĂĄ sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e a pressão feita pelo Centrão por cargos no futuro governo Lula.

Senado aprovou em dois turnos na quarta-feira (07/12) a 'PEC da Transição'

Marcos Oliveira/AgĂȘncia Senado

O que é a PEC da Transição?

A medida ganhou o apelido de "PEC da Transição" porque vem sendo desenhada por aliados de Lula.

O texto aprovado no Senado prevĂȘ uma ampliação do teto de gastos de até R$ 168,9 bilhões para os anos de 2023 e 2024.

Desse total, R$ 145 bilhões serão destinados ao pagamento do AuxĂ­lio Brasil de R$ 600 e um bônus de R$ 150 para cada famĂ­lia com criança de até seis anos de idade.

Sem essa ampliação do teto, dizem aliados de Lula, o governo não teria como pagar os benefĂ­cios nestes valores a partir de janeiro de 2023.

Além disso, o texto também prevĂȘ que até R$ 23,9 bilhões fruto de arrecadações extraordinĂĄrias poderiam ser usados para investimentos.

A PEC da Transição é considerada importante para o novo governo Lula porque permite que ele cumpra a promessa de manter o valor do AuxĂ­lio Brasil sem violar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o que poderia gerar eventuais pedidos de impeachment.

PEC da Transição é considerada estratégica para o novo governo Lula

Divulgação

Além disso, com a ampliação do teto de gastos para o pagamento do auxĂ­lio, o governo poderĂĄ usar o espaço que serĂĄ aberto no orçamento para recompor as verbas de outros programas, como o das farmĂĄcias populares, além de aumentar as verbas para a merenda escolar.

Na etapa anterior, a condução da PEC foi feita por uma espécie de "dobradinha" entre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o senador Alexandre Silveira (PSD-MG).

Pacheco se manteve relativamente distante do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a corrida eleitoral e é visto como uma figura moderada no Congresso Nacional. Silveira, por sua vez, é cotado para assumir um cargo no futuro governo Lula.

O resultado é que a PEC demorou apenas dois dias para ser aprovada no Senado.

Orçamento secreto e PEC da Transição

Mas se o consenso no Senado foi tão rĂĄpido, a história não se repetiu na Câmara dos Deputados. Sob o comando de Arthur Lira, que foi aliado de Bolsonaro ao longo dos Ășltimos anos e durante a corrida eleitoral, a Casa ainda não começou a apreciar a matéria.

Para o professor de CiĂȘncia PolĂ­tica na Fundação GetĂșlio Vargas (FGV) Marco Antônio Teixeira, os dois principais fatores atrasando a tramitação da PEC são: o julgamento no STF sobre o "orçamento secreto" e a pressão de Lira e outros lĂ­deres do Centrão por cargos no futuro governo.

O "orçamento secreto" é como ficaram conhecidas as emendas do relator-geral do orçamento. As emendas parlamentares são mecanismos em que deputados ou senadores podem destinar verbas do orçamento para municĂ­pios, obras ou programas de sua preferĂȘncia. Essas emendas, normalmente, contém informações sobre quem são seus autores e a quais projetos especĂ­ficos o dinheiro se destina.

Nas emendas de relator-geral do orçamento, esse nĂ­vel de detalhamento é menor.

CrĂ­ticos afirmam que, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, houve um aumento no valor destinado às emendas de relator, que a falta transparĂȘncia abria brechas para casos de corrupção e que o mecanismo foi usado para comprar apoio polĂ­tico.

Bolsonaro, no entanto, nega responsabilidade no funcionamento do chamado "orçamento secreto".

Nesta semana, o STF deu continuidade ao julgamento de uma ação que pede o fim das emendas do relator-geral do orçamento. O julgamento foi interrompido na quinta-feira (15/12) e o placar estĂĄ cinco a quatro pelo fim do mecanismo

"Os deputados estão aguardando o julgamento no STF e tentando alguma forma de manter o orçamento secreto. Essa demora em votar a PEC é uma forma de pressionar o STF a fazer alguma concessão para que o mecanismo não seja extinto", disse o professor.

"Eles estão esperando o julgamento porque, se o Supremo julgar o orçamento secreto inconstitucional, eles vão querer barganhar mais recursos em outros tipos de emendas e vão aproveitar a PEC da Transição para fazer isso", disse.

Enquanto o julgamento do orçamento secreto no STF aguarda uma conclusão prevista para a semana que vem, deputados e senadores aprovaram uma resolução que muda algumas regras das emendas de relator.

Entenda resolução que prevĂȘ novas regras do 'orçamento secreto'

Uma das mais importantes delas é o fim da possibilidade de que a autoria de uma emenda de relator possa ser atribuĂ­da à nomenclatura "usuĂĄrio externo", sem a designação exata do seu responsĂĄvel.

A medida é vista como uma forma de dar mais transparĂȘncia às emendas do relator e apresentar uma satisfação ao STF para convencer a Corte a manter o orçamento secreto em pé.

LĂ­deres do Centrão estariam buscando espaço na composição do novo governo do presidente eleito Lula

Getty Images

Disputa por cargos

Outro elemento apontado pelos especialistas para explicar a demora na tramitação da PEC da Transição seria a suposta pressão feita por Lira e outros lĂ­deres do Centrão por cargos no novo governo Lula.

Até agora, Lula anunciou cinco ministros, todos eles do PT ou próximos ao partido: Fernando Haddad (Economia), Rui Costa (Casa Civil), José MĂșcio Monteiro (Defesa), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e FlĂĄvio Dino (Justiça e Segurança PĂșblica).

Outros nomes são especulados, como o do ex-governador do CearĂĄ Camilo Santana (PT), apontado como futuro ministro da Educação. O desafio do futuro governo, porém, é acomodar o grande nĂșmero de aliados que se formou durante a eleição e que inclui, por exemplo, a senadora e ex-candidata à PresidĂȘncia Simone Tebet (MDB).

Reportagem publicada no portal "UOL" nesta semana mostra que Lira estaria pressionando o governo eleito para indicar o novo ministro da SaĂșde, uma das pastas com o maior orçamento do governo federal. Segundo o portal o "Metrópoles", Lira quer o comando do Ministério da SaĂșde ou de Minas e Energia.

Além de Lira, outros partidos do chamado Centrão também estariam pressionando o governo por cargos, como o MDB do senador Renan Calheiros (AL), que é adversĂĄrio polĂ­tico de Lira em Alagoas.

"HĂĄ uma briga por espaço na composição do governo. Lira e Renan brigam para ocupar esses cargos e isso estĂĄ travando, também, a definição sobre a PEC da Transição", aponta Marco Antonio Teixeira, da FGV.

"Os deputados estão negociando e usando a PEC da Transição para obter cargos nos ministérios. Enquanto essa negociação acontece, a PEC não anda", diz Denilde Holzhacker, professora assistente no curso de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Oficialmente, porém, Arthur Lira nega que a demora na votação da PEC da Transição seja resultado de algum tipo de barganha. Segundo reportagem publicada pela CNN Brasil, a medida começarĂĄ a ser votada na semana que vem e o tempo que se levou para colocĂĄ-la em votação foi para obter uma "acomodação dos votos", uma vez que, até agora, não haveria apoio suficiente para aprovar a PEC.

"Diferentemente do que tem sido noticiado, sem nenhum tipo de barganha, porque essa presidĂȘncia nunca fez, mas acomodando votos para que se tenha o quórum necessĂĄrio para enfrentar as votações principais e os destaques que possam vir do plenĂĄrio desta Casa", afirmou Lira.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64008245

Fonte: G1

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