O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (29) que os efeitos das medidas de isolamento social podem continuar sobre a economia pelo menos até a metade do ano que vem, mesmo que as restrições sejam retiradas pelas autoridades. Para ele, o medo que as pessoas sentem de serem contaminadas vai fazer com que muitos mantenham hábitos adquiridos durante o período de quarentena.
"Quando a economia reabrir, as pessoas não vão retomar velhos hábitos imediatamente", disse. "Quando comparamos os dados dos países que adotaram medidas de distanciamento social, entre aqueles que já estão reabrindo e aqueles que estão adotando as medidas agora, não muda muita coisa", afirmou o presidente do BC, em referência a instrumentos que medem a mobilidade das pessoas, como GPS de celulares.
"Tendo a pensar que os efeitos do medo podem durar pelo menos até meados do ano que vem", avaliou, ao participar de live organizada pelo Valor Capital Group. "A questão, agora, não é se vamos fechar a economia por mais oito ou nove meses, mas sim qual será o novo normal", acrescentou.
Campos Neto também comentou a agenda de inclusão financeira tocada pelo Banco Central e disse que o sistema financeiro deixou de ser o problema que foi na crise financeira de 2008 e passou a ser parte da solução no cenário atual.
O presidente do BC disse que é preciso estar atento à nova dinâmica da dívida pública brasileira, diante da necessidade de ampliação de gastos para combater os efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A projeção oficial do governo é de que a dívida encerre o ano em 93,5% do PIB, caso a queda fique em 4,7% como previsto atualmente
O próprio presidente do BC, porém, reconheceu que o tombo na atividade pode ser de 5% ou até maior. "É muito importante comunicar que tudo que estamos fazendo para combate à crise é temporário", afirmou em videoconferência.
O BC tem reiteradamente chamado a atenção para a necessidade de manter o compromisso com as reformas estruturais para indicar melhora futura da trajetória fiscal. Campos Neto tem lembrado que foi isso que permitiu a queda estrutural na taxa de juros no Brasil, que barateou o custo da dívida brasileira.
Como sinal do tamanho da crise atual, Campos Neto observou que a saída de recursos estrangeiros do Brasil é cerca de dez vezes maior que o observado na crise de 2008.
* Com informações do Estadão Conteúdo
Fonte: JP