O Exército russo afirmou, neste sĂĄbado, 19, que usou mĂsseis hipersônicos na Ucrânia, um recurso que aparentemente ainda não havia sido utilizado neste conflito e que, segundo o presidente russo Vladimir Putin, faz parte de um armamento "invencĂvel". "Em 18 de março, o complexo aeronĂĄutico Kinjal, com seus mĂsseis balĂsticos hipersônicos, destruiu um importante depósito subterrâneo de mĂsseis e munições da aviação ucraniana na cidade de Deliatin, na região de Ivano-Frankivsk", anunciou o porta-voz do ministério da Defesa, Igor Konashenkov. Esta região estĂĄ localizada a cerca de 50 km da fronteira com a RomĂȘnia, paĂs membro da Otan. Até agora, a RĂșssia não havia informado sobre o uso desse mĂssil balĂstico nos dois conflitos em que estĂĄ envolvida – na SĂria e na Ucrânia -, mas apenas em manobras desde que o testou com sucesso em 2018.
"É provĂĄvel que o Kinjal tenha sido usado em condições de combate, e é uma estreia mundial", disse à AFP Vassili Kashin, analista militar e diretor de um centro de pesquisa da Escola Superior de Economia de Moscou. Esse mĂssil desafia todos os sistemas de defesa antiaérea, segundo Moscou, porque sua velocidade (cerca de 12.000 km por hora) e sua grande manobrabilidade tornam impossĂvel ou muito difĂcil de interceptar, embora alguns especialistas militares ocidentais estimem que a RĂșssia possa ter exagerado sobre as capacidades desta arma ar-terra.
Os mĂsseis balĂsticos hipersônicos Kinjal e os mĂsseis de cruzeiro Zircon pertencem a uma famĂlia de novas armas desenvolvidas pela RĂșssia e que o presidente Vladimir Putin descreve como "invencĂveis". A arma mais valiosa do exército é o planador hipersônico Avangard. Ele voa até 33.000 km/h, pode transportar uma carga nuclear e muda de direção ou altura de forma imprevisĂvel, tornando praticamente impossĂvel interceptĂĄ-lo. Os Kinjal, uma palavra russa que significa "punhal", atingiram todos os seus alvos a uma distância de mais de 1.000 km durante os testes de 2018, de acordo com o ministério da Defesa russo. O alvo de sexta-feira foi um depósito subterrâneo. "Essas infraestruturas são difĂceis de destruir com mĂsseis clĂĄssicos. O mĂssil hipersônico tem uma capacidade de penetração e poder destrutivo mais importante devido à sua alta velocidade", disse.
Para o especialista militar russo Pavel Felgenhauer, usar o Kinjal não dĂĄ à RĂșssia uma vantagem estratégica na Ucrânia, mas o efeito psicológico é claro, jĂĄ que Moscou estĂĄ implantando uma de suas armas mais destrutivas. "No final, não muda nada no campo de batalha, mas fica claro que tem um efeito na propaganda psicológica, para assustar a todos", aponta. Moscou desenvolveu esse tipo de armamento para contornar sistemas de defesa, como o escudo antimĂsseis dos EUA na Europa. Seu uso na Ucrânia ocorre em um momento em que o exército russo, apesar de seus anĂșncios, não parece estar no controle do céu, jĂĄ que a defesa ucraniana continua causando perdas.
A RĂșssia foi o primeiro paĂs do mundo a desenvolver armas hipersônicas. Outros paĂses também aceleraram seus programas de armas para tentar alcançar Moscou. A Coreia do Norte, por exemplo, diz que também os desenvolve e os testou. E também a China, que surpreendeu os ocidentais com um teste com um mĂssil supersônico capaz de viajar a cerca de 6.000 km/h. "Somos os primeiros a implantar esse armamento. Os chineses também fizeram isso recentemente, mas os Estados Unidos não tĂȘm essa arma por enquanto", ressaltou Kashin.
*Com informações da AFP
Fonte: JP