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Gilmar Mendes afirma que governo 'se autoexcluiu' do combate à pandemia

Por Redação em 17/07/2021 às 15:57:17

Novo decano do Supremo, ministro destacou em entrevista que é "injusta" a acusação de que a Corte retirou da União poderes para tomar medidas de combate à crise sanitĂĄria



O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, negou, durante entrevista divulgada neste sĂĄbado (17), que o tribunal tenha retirado poderes da União para atuar contra a pandemia da Covid-19. Segundo ele, o governo federal "se autoexcluiu" do combate à crise sanitĂĄria.

Novo decano (ministro com mais tempo de atuação) do tribunal após a aposentadoria de Marco Aurélio Mello, o ministro concedeu entrevista ao podcast "Supremo na Semana", produzido pela Secretaria de Comunicação do STF.

Questionado sobre a atuação do Supremo em decisões sobre a pandemia, Gilmar Mendes lembrou os principais entendimentos fixados pela Corte para combater a crise e seus efeitos.

Nesse contexto, contestou argumento reiteradamente utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro e aliados para responder a cobranças sobre a atuação da União no combate à pandemia — o de que o tribunal retirou poderes do presidente da RepĂșblica para estabelecer medidas de combate ao coronavĂ­rus.

"O tribunal, na verdade, não se limitou à crise sanitĂĄria 'stricto sensu', mas tratou de vĂĄrios temas. Eu tenho dito que é muito injusta a acusação que se faz de que o Supremo retirou da União a competĂȘncia para atuar nesse processo. Pelo contrĂĄrio, o que o Supremo afirmou é que, diante da ausĂȘncia da União, estados e municĂ­pios não deveriam ficar impedidos de tomar as medidas de isolamento social e outras medidas restritivas", declarou.

"Mas, na verdade, quem se autoexcluiu desse processo foi a própria União, a partir de impulsos do governo federal. Num sistema - como nós sabemos e que o Supremo tem destacado — impositivamente tripartite. O SUS é um experimento institucional tripartite — estão presentes União, estados e municĂ­pios", complementou.

Desde que o STF analisou ações que discutiam a competĂȘncia de estados e municĂ­pios para tomar providĂȘncias para combater a Covid-19, no ano passado, Bolsonaro tem dito que foi impedido pelo tribunal de tomar medidas mais efetivas contra a pandemia. A alegação também tem sido veiculada por parlamentares bolsonaristas e apoiadores do presidente.

Mas, em decisões tomadas ao longo de 2020, a Corte fixou o entendimento de que União, estados, Distrito Federal e municĂ­pios tĂȘm competĂȘncia concorrente na ĂĄrea da saĂșde pĂșblica para tomar medidas para evitar a propagação da doença.

Ou seja, de acordo com essas decisões, todos os nĂ­veis de governo são responsĂĄveis por agir para enfrentar a crise sanitĂĄria. E o fato de o tribunal ter reconhecido a competĂȘncia dos governos locais para tomar providĂȘncias contra a pandemia não liberou a União de adotar medidas.

Mendes também afirmou que o Supremo tomou decisões para combater outros efeitos da pandemia. Citou como exemplos os entendimentos que permitiram ao governo estabelecer um "orçamento de guerra" sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal e, ao Congresso, adaptar o procedimento de anĂĄlise de medidas provisórias em meio à crise.

Segundo o ministro, o tribunal "atuou não só para arbitrar esse conflito entre União, estados e municĂ­pios, disciplinar a atuação do SUS, mas entrou na questão de proteção de dados, atuou no funcionamento do Parlamento, como na aprovação das medidas provisórias".

"Então, o Supremo, na verdade, viabilizou o próprio processo de governança. Como também foi o Supremo que dispensou determinadas exigĂȘncias da Lei de Responsabilidade Fiscal para deixar o governo mais à vontade no que concerne ao orçamento de guerra", declarou.

O ministro também falou do papel do tribunal em um cenĂĄrio de polarização das forças polĂ­ticas. Tratou ainda da atuação da Corte para coibir ações ilegais contra as instituições democrĂĄticas.

"Acho extremamente importante que o tribunal atue e, nesse sentido, seja até uma instituição que cumpra um papel de moderação, estabelecendo limites. E acho que o tribunal, ao longo dos anos, tem exercido esse papel quando, por exemplo, delimita a própria liberdade de expressão, não permitindo que se divulguem discursos odientos, o chamado 'hate speech'. Portanto, parece que aqui é uma importante contribuição do tribunal", afirmou.

Ele comentou ainda os chamados inquéritos das fake news e dos atos antidemocrĂĄticos. O primeiro investiga notĂ­cias fraudulentas e ataques voltados a ministros do Supremo. O segundo, arquivado a pedido da Procuradoria-Geral da RepĂșblica, investigava a organização e o financiamento de atos que pregavam pautas inconstitucionais, como o fechamento do Supremo e do Congresso. Essa segunda investigação foi arquivada, mas um novo inquérito foi aberto para apurar a atuação de uma milĂ­cia digital contra a democracia.

"Acho que essas duas atuações fizeram com que houvesse uma reversão de expectativas. Nós estĂĄvamos num crescendo de ataques ao tribunal e, a partir daquelas iniciativas — inicialmente a partir das medidas que o ministro Alexandre [de Moraes] como presidente do inquérito tomou nesse chamado inquérito das fake news, que talvez seja um nome impróprio porque a rigor é bem mais do que isso — nós tivemos um resultado", disse.

Fonte: G1

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