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Boulos e Covas pregam prevenção à Covid-19 em SP, mas provocam aglomerações no 2º turno da campanha eleitoral

Por Redação em 28/11/2020 às 08:20:35
Candidato do PSOL testou positivo para a doença dois dias antes da votação; adversário do PSDB fez agendas em padarias e restaurantes, levando pessoas a ambientes fechados sem usar máscara. Governo de SP reconheceu que campanha disseminou o vírus no estado e que aumento de número de casos preocupa. Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) fazem corpo a corpo com eleitoral no 2º turno da eleição em São Paulo

Montagem/G1 e TV Globo

Apesar de pregarem medidas sanitárias contra a Covid-19 em São Paulo durante a campanha, a prevenção contra a propagação do coronavírus não foi a principal preocupação de Guilherme Boulos (PSOL) e Bruno Covas (PSDB) no 2º turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo.

A busca pelo voto dos paulistanos levou os dois candidatos a provocar aglomerações nas ruas da cidade nas várias atividades de campanha das últimas duas semanas.

Tanto Boulos quanto Covas, porém, defenderam em entrevistas a prevenção à doença e passaram a maior parte do tempo sempre de máscara de proteção no rosto, mas não evitaram o corpo a corpo e o contato físico com o eleitor.

Boulos provocou aglomerações e juntou multidões por onde passou no 2º turno

TV Globo

Na última sexta (20), ao lançar uma frente democrática com vários representantes de partidos de centro esquerda que o apoiam, o candidato do PSOL disse que o tema da pandemia em São Paulo "tem que ser tratado com responsabilidade, não com conveniências políticas e eleitorais".

"Na semana passada, nas vésperas das eleições, a Prefeitura ficou cinco dias sem atualizar os números da Covid. Agora o governo do estado, que é liderado pelo padrinho político do Bruno Covas, o Doria, disse que só vai fazer a reavaliação Plano SP no dia 30 de novembro. Um dia após as eleições. O tema da pandemia tem que ser tratado com responsabilidade, não com por conveniências políticas e eleitorais. Essa é a preocupação que nós temos. E essa preocupação vai muito além de uma agenda de campanha. É a preocupação com a vida das pessoas na cidade", declarou.

Apesar das ideias de defesa à saúde, ambos os candidatos foram flagrados colados ou muito próximos a grandes grupos de pessoas, dentre os quais sempre havia alguém sem máscara.

Eles também não evitaram o contato físico, conforme mostram várias fotos registradas ao longo do 2º turno pela reportagem do G1 e da TV Globo, que acompanharam diariamente os candidatos.

Multidão ao redor de Bruno Covas na Avenida Paulista

TV Globo

Na mesma sexta (20), o candidato Bruno Covas (PSDB) defendeu no debate realizado pela TV Bandeirantes que era "importante lembrar o respeito e o cuidado que nós precisamos ter ainda neste momento" com a pandemia do coronavírus.

"O inquérito sorológico e o censo que realizamos entre alunos e professores mostram que a gente ainda tem uma quantidade muito grande de crianças que não está imunizada, que podem levar essa doença para dentro de casa. (...) O vírus não é nem de esquerda, nem de direita. É uma realidade a ser enfrentada", disse o tucano.

No dia seguinte à defesa do distanciamento social como forma de prevenção, no sábado (21), Guilherme Boulos realizou uma caminhada de uma hora e meia na comunidade Heliópolis, na Zona Sul, onde foi acompanhado por militantes, levando multidões às ruas do bairro (veja foto abaixo).

Candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, durante caminhada em Heliópolis, na Zonal Sul de São Paulo, no sábado (21).

Giba Bergamim/TV Globo

Mesmo caso do candidato Bruno Covas (PSDB), que, na segunda-feira (23), foi flagrado sem máscara, tomando café em lugar fechado com o vereador eleito Thammy Miranda (PP) no bairro da Liberdade.

Os dois sem máscara estavam a menos de um metro e meio de distância, em ambiente fechado, ferindo as orientações das autoridades de saúde (veja foto abaixo).

Bruno Covas (PSDB) toma café ao lado do vereador eleito Thammy Miranda (PL), filho da cantora Gretchen, no bairro da Liberdade em 23 de novembro.

Walace Lara/TV Globo

A visita de Bruno Covas à Liberdade, aliás, gerou vários momentos de aglomeração e o candidato era abordado a todo momento por eleitores, sendo cobrado sobre calçadas esburacadas e cobrança de tributos durante a pandemia.

Ao responder os munícipes, o prefeito o tempo todo tocava nos eleitores, mais uma vez infringindo as normas de distanciamento da Vigilância Sanitária.

O candidato Bruno Covas (PSDB) é abordado por eleitores na Liberdade, que pedem melhoria de serviços públicos na cidade em 23 de novembro.

Walace Lara/TV Globo

Bruno Covas, que já teve o diagnóstico de Covid confirmado em junho deste ano, incluiu todos os dias na agenda de campanha deste segundo turno encontros em padarias e restaurantes, para cafés da manhã e almoços, levando a aglomerações de pessoas, assessores e curiosos sem máscaras ao seu redor e, assim, possibilitando a propagação da doença em ambientes fechados.

Nestes eventos, inclusive, o prefeito tem defendido que a doença está sob controle na capital paulista, apesar do aumento dos casos, e que não há necessidade de restringir as flexibilizações da quarentena.

Aumento dos casos no 2º turno

A disputa no 2º turno na capital paulista ocorreu em meio à divulgação de dados por parte de autoridades de saúde de aumento do número de infectados, internações e hospitalizados por Covid-19 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em todo o estado. A situação preocupa especialistas diante do temor de uma segunda onda do coronavírus.

Logo após o primeiro turno, médicos de 14 hospitais privados da cidade de São Paulo divulgaram aumento médio de 20% nos casos. O governo do estado demorou a admitir a ascendência na curva dos números e adiou para 30 de novembro, o dia seguinte à votação do 2º turno, a reclassificação da situação da quarentena na cidade. Restrições mais rígidas podem ser impostas ao comércio e a atividades de lazer em uma tentativa de conter a propagação da Covid.

Na última quinta-feira (26), porém, José Medina, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 admitiu que o crescimento vertiginoso tinha relação com as eleições. Para os técnicos que acompanham a doença no estado, campanhas eleitorais estimularam "número de contatos de corpo a corpo, de aglomerações e de festas", o que impulsionou um aumento no número de internações pela doença.

"O que possivelmente desencadeou essa subida, essa mudança de platô, ou até mesmo uma possível subida foram as atividades, não do dia da eleição, mas as atividades que aconteceram durante a campanha eleitoral", disse Medina.

O prefeito Bruno Covas e candidato a reeleição, porém, continuou negando o aumento dos casos, defendendo desnecessidade no aumento das restrições para conter o avanço da doença na capital por ora.

"Não é questão de admitir ou não admitir [o aumento da pandemia]. A Vigilância Sanitária do município que tem apontado para a estabilidade dos casos aqui na cidade. Vamos aguardar a orientação do governo do estado, mas na cidade de São Paulo não há nenhuma necessidade de voltar para trás na flexibilização que foi dada, já que há uma estabilização na evolução da pandemia", afirmou Covas.

Boulos fez reuniões, como com representantes do sindicato da GCM, após ter contato com deputada infectada por Covid

Marina Pinhoni/G1

Após ter o diagnóstico positivo para o coronavírus confirmado na sexta-feira (27), levando ao cancelamento do debate na TV Globo, Boulos voltou a repetir, em nota divulgada à imprensa, que "há indícios de uma segunda onda da pandemia, até aqui negligenciada pelos governos estadual e municipal, responsáveis pela aplicação das medidas".

Mesmo após saber da confirmação de que a deputada federal Samia Bonfim (PSOL), colega de partido com quem fez eventos de campanha, estava com a doença, o candidato continuou fazendo agendas de rua. Boulos só só suspendeu a agenda quatro dias depois, quando decidiu promover atos somente em ambientes fechados - mas sempre com a presença da imprensa e de muitas pessoas ao redor.

Após divulgar o diagnóstico por redes sociais, o candidato, que está assintomático, entrou em isolamento social em sua casa e disse que não irá votar no domingo (29), data do 2º turno.

Campanha de Boulos levou multidão às ruas de São Paulo com o candidato

Marina Pinhoni/TV Globo

O último evento de campanha será encampado pela vice-candidata do PSOL, Luiza Erundina, de 85 anos, que participará de uma carreata neste sábado (28), à bordo do chamado "Erundinamóvel". Trata-se de um veículo com vidro transparente, semelhante ao "papamóvel", que mantém a candidata isolada do contato físico com as pessoas.

"Eu tenho certeza que eu não vou poder estar (na campanha), mas muita gente vai estar no meu lugar. Eu tenho certeza que, justamente pela necessidade do isolamento, eu não possa sequer ir votar no domingo, milhões de pessoas vão poder votar. Milhões de pessoas que carregaram essa campanha nas costas", disse Boulos em vídeo divulgado após o diagnóstico de Covid-19.

Luiza Erundina, vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL), faz agenda de campanha neste sábado (21) no "Erundinamóvel", carro adaptado com estrutura de acrílico para evitar contágio pelo coronavírus.

Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo

Boulos parou de fazer panfletagem na segunda fase da disputa ao Executivo. A técnica foi bastante usada no 1º turno por ele e seus apoiadores, mas criticada por especialistas pois poderia, eventualmente, propagar a doença.

A médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro, que integra o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, conta que ficou preocupada com a campanha deste ano, em especial, por conta das aglomerações provocadas durante as agendas nas ruas.

"A principal forma de transmissão do vírus SARS-COV-2 é respiratória, a partir de gotículas expelidas pelos doentes durante a tosse, espirro e fala. Pessoas próximas até dois metros podem se infectar", afirmou a médica.

"Pessoas que estão se deslocando devem usar sempre a máscara e lavagem de mãos frequentemente, além de terem cuidado ao retirar a máscara e colocá-la novamente no rosto, pois podem se infectar", defendeu ela.

Campanha na pandemia é desafio

A reportagem pediu a posição dos candidatos sobre as aglomerações no 2º turno e aguarda retorno.

No primeiro turno, ambos relataram que a campanha foi "difícil" e diferente em meio à pandemia. Covas disse ao G1 que a "campanha foi totalmente atípica" e um verdadeiro "desafio" cumprir as regras e orientações sanitárias, mas que estava cumprindo-as "com o rigor necessário". No primeiro turno, Boulos não se manifestou sobre a questão.

O G1 aguarda o posicionamento de Guilherme Boulos.

Covas fez agendas em padarias e restaurantes nas 2 últimas semanas, sempre com pessoas sem máscaras ao redor

TV Globo

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Fonte: G1

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