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Por que a bolsa não despencou depois de atos golpistas contra os Três Poderes da República?

Por Redação em 09/01/2023 às 17:22:42
Respostas do Governo Federal, alinhadas aos outros Poderes, foram bem-recebidas pelos investidores estrangeiros e amenizaram os impactos negativos das invasões ao Congresso, Planalto e STF. Bolsonaristas radicais durante a invasão do Congresso, em Brasília

REUTERS/Adriano Machado

Um dia após os atos terroristas de bolsonaristas radicais, com as invasões ao Congresso Nacional, Planalto do Palácio e Supremo Tribunal Federal (STF), não houve pânico no mercado financeiro. Apesar de uma alta do dólar contra moedas emergentes, o principal índice da bolsa de valores de São Paulo, o Ibovespa, subia na tarde desta segunda-feira (9).

Para analistas ouvidos pelo g1, o movimento tem explicação. Ainda que as cenas de destruição nas sedes dos Três Poderes tenham levado os olhos de investidores do Brasil e do mundo de volta para a política brasileira, a rápida resposta dada pelas lideranças das instituições brasileiras tranquilizou a reação dos mercados.

A próxima dúvida é saber se o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), terá a força necessária para promover um apaziguamento na sociedade, de forma que novos atos golpistas não voltem a acontecer e não causem instabilidade política no Brasil.

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Respostas do governo foram bem recebidas pelo mercado

Daniel Moura, especialista em mercado de capitais, explica que o alinhamento dos Três Poderes para combater os atos golpistas deste domingo (8) foi visto de forma positiva, uma vez que essa união traz uma sinalização de segurança política. Para ele, independentemente do posicionamento político de cada um dos agentes, o executivo, o legislativo e o judiciário estão trabalhando juntos para a manutenção da ordem.

O professor de Economia do Ibmec, Alexandre Pires, destaca que a nota em defesa da democracia — divulgada em conjunto pelos líderes dos Três Poderes na manhã desta segunda — reforça um fundamento essencial para o mercado: as instituições estão empenhadas em fazer com que o país volte à normalidade.

Nota em defesa da democracia

Reprodução/Twitter

Já Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, afirma que o mercado não teve uma reação tão negativa porque a resolução do governo foi acertada.

"A resposta que o mercado quer ver é a garantia do funcionamento das instituições, e isso aconteceu. Apesar de demorada, a resposta foi muito boa: as instituições mostraram que estão trabalhando para garantir a ordem, a democracia, o mapeamento dos responsáveis e a retomada da normalidade", diz a economista.

Neste contexto e favorecido por um dia positivo no mercado internacional, o dia para os ativos brasileiros foi melhor do que o esperado. O Ibovespa acompanha os índices internacionais, apoiado em notícias de reabertura econômica da China, que favorecem empresas exportadoras de commodities.

O dólar chegou próximo aos R$ 5,30 no começo do dia, mas diminuiu seus ganhos ao longo do dia e voltou à casa dos R$ 5,25. A moeda americana também vive um dia de valorização frente a outras divisas emergentes.

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O que pode trazer volatilidade para o mercado na esteira dos atos golpistas?

De acordo com Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, passado o momento de maior conflito, o que é determinante para o investidor estrangeiro trazer o dinheiro para o Brasil é saber como o governo vai lidar com os grupos opositores ao longo do tempo — e se vai conseguir formar maiorias no Congresso e promover uma reaproximação com parte dos opositores.

Pires, do Ibmec, pontua que, o estrangeiro vai passar a olhar com atenção para a legitimidade popular de Lula após a eleição — ou seja, se a população vai viver em harmonia com o novo governo ou se haverá um crescimento no número de manifestações contrárias ao presidente.

"Se um governo tem pouca aceitação popular, ele terá mais dificuldade em governar: terá de ceder mais, terá dificuldade de colocar sua agenda em pauta", explica o professor.

"(Antes dos atos) o mercado estava preocupado com o cenário macroeconômico, atento a como ficará a questão fiscal e as reformas neste começo de governo. Mas o governo está sendo atropelado pela questão política", pontua Pires.

Por fim, o professor destaca que as forças de segurança serão um novo foco de atenção, já que a ação dos policiais neste domingo foi amplamente contestada por especialistas. Durante a invasão, a GloboNews flagrou diversos agentes de segurança de braços cruzados.

"Uma questão que fica e se as Forças Armadas serão leais ao governo atual", diz Pires.

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Questões para depois da volta à normalidade

Do ponto de vista econômico, em prazo mais longo, os especialistas afirmam que o Brasil ainda precisa dar sinais de confiança para o investidor estrangeiro, para continuar recebendo investimentos no país. Para Felipe Izac, as palavras-chave são estabilidade, segurança e retorno.

"O Brasil dá retorno porque nossas taxas de juros estão bem altas. A estabilidade depende de não termos crises institucionais ou políticas. Por fim, é preciso garantir a capacidade do país de honrar suas dívidas", afirma Izac.

Para Daniel Moura, o governo ainda precisa "se provar" em relação aos gargalos macroeconômicos, com destaque para a política fiscal e para reformas importantes, como a tributária.

Carla Argenta, da CM, destaca ainda que as prioridades do investidor interno não são as mesmas que do investidor externo, e que o estrangeiro olha para aspectos que o brasileiro ainda não está atento.

"Um exemplo é a importância que os investidores europeus e americanos dão para as questões climáticas. As empresas lá devem seguir regras de compliance que têm relação com a sustentabilidade e, para receber esses recursos, os outros países também precisam cumprir alguns requisitos", diz a economista.

Ela explica ainda que há políticas características do governo Lula que podem ser benéficas para atrair investimentos para o país, como foi indicado na semana seguinte ao resultado da eleição.

Fonte: G1

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