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MT é um dos estado que mais usam agrotóxicos; comunidades do Pantanal são as mais afetadas

Por Redação em 19/08/2022 às 19:51:23
Levantamento da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) analisou quatro comunidades em dois municípios no Pantanal e uma cidade próxima à região.

Mato Grosso é um dos estado que mais consomem agrotóxicos do país e o Pantanal e as comunidades que vivem na região são os mais afetados com o alto consumo do veneno , se a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), conforme levantamento referente ao ano passado.

O levantamento cita o relatório do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), que mostra que, em 2020, foram comercializados no estado 142.738,855 quilos em agrotóxicos.

Segundo a federação, esses produtos apresentam mais riscos aos trabalhadores que manuseiam diretamente os agrotóxicos e moradores de regiões em que esses produtos são fabricados ou aplicados.

A pesquisa mapeou quatro comunidades rurais que foram expostas aos produtos nos municípios de Poconé, Cáceres e Mirassol D"Oeste.


Quantidade de agrotóxicos consumidos pelos municípios analisados — Foto: Reprodução/Fase
Quantidade de agrotóxicos consumidos pelos municípios analisados


Conforme a análise, os resultados mostraram as fragilidades nos processos de controle e fiscalização de agrotóxicos.

"Demonstram um cenário preocupante da utilização de agrotóxicos em Mato Grosso, apontando a contaminação das águas, presença de resíduos dos produtos no sangue de trabalhadores e no leite materno", diz trecho do documento.

O g1 entrou em contato com Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Resíduos em Poconé

Na comunidade quilombola Jejum vivem aproximadamente 450 famílias. Segundo o relatório, em março do ano passado, cerca de 15 pessoas tiveram intoxicação aguda pela poeira tóxica resultante da colheita de soja em uma fazenda vizinha à comunidade.

"Observou-se o não cumprimento generalizado no estado do decreto que regulamentou a lei estadual que estipula distância mínima de 90 metros para aplicação de agrotóxicos de casas, fontes de águas e estradas", diz o estudo.

Em maio de 2021, foram realizadas coletas de águas da chuva, rios, córregos, cachoeiras, poços artesianos, caixas d"água de escolas rurais e tanques de piscicultura.

As amostras mostraram que as famílias estão expostas a até oito tipos de agrotóxicos. Somente nos tanques de piscicultura foram encontrados sete tipos, em sua maioria herbicidas.

"Além da toxicidade direta dos herbicidas na biota aquática, este possui efeito indireto, considerando que no processo de degradação da matéria orgânica pela morte das plantas, ocorre elevado consumo de oxigênio, restringindo-o para os peixes", disse a análise.

Produtos em Mirassol D"Oeste e Cáceres


Rio dos Bugres, no assentamento Roseli Nunes — Foto: Gilka Rezende/FaseRio dos Bugres, no assentamento Roseli Nunes


As águas do Rio Bugres apresentaram sete dos dez ingredientes ativos presentes nas amostras analisadas. O rio abastece o Assentamento Roseli Nunes, onde vivem 331 famílias que utilizam a água para consumo e na atividade agrícola.

Neste assentamento, grupos de agricultores geram renda a partir da comercialização de alimentos livres de agrotóxicos. Ainda conforme o levantamento, a contaminação das águas inviabiliza o trabalho da comunidade, causando perdas sociais e econômicas para as famílias.


Horta agroecológica do Assentamento Roseli Nunes — Foto: Flávio André/Fase
Horta agroecológica do Assentamento Roseli Nunes


Uma das amostras foi coletada na caixa d"água que abastece uma escola no assentamento. A unidade atende 400 alunos e os resultados também apresentaram resíduos de agrotóxicos.

No município de Cáceres, a 220 km de Cuiabá, nas águas do córrego Periquito, dos poços e a cachoeira do Assentamento Facão, foram identificados até dois tipos de agrotóxicos. Segundo o relatório, os resultados demonstraram que a maior parte de resíduos estavam em ambientes aquáticos, nos lençóis freáticos, águas superficiais e subterrâneas.

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O agrotóxico


Pulverização de lavoura de soja — Foto: Amanda Sampaio/G1 MT
Pulverização de lavoura de soja


O uso de agrotóxicos para o cultivo de lavouras, hortas, jardinagem e controle de pragas contamina o ar, a água, o ambiente e desencadeia doenças. Conforme o estudo, o modelo de cultivo com o intensivo uso de agrotóxicos pode gerar consequências à saúde humana, como poluição ambiental, intoxicação de trabalhadores e da população em geral.

"É urgente a criação de áreas livres de agrotóxicos e outros poluentes no entorno de comunidades quilombolas, territórios indígenas e de comunidades tradicionais. Territórios estes que desenvolvem práticas de produção de alimentos orgânicos, garantindo a saúde e reprodução de atividades agroecológicas livres de agrotóxicos", disse o relatório.

A federação explica que há dois tipos de intoxicação por agrotóxicos, de forma direta e crônica.

Na forma direta, a pessoa pode se contaminar enquanto manipula os agrotóxicos no momento das misturas ou da aplicação.

Se inalados, ingeridos acidentalmente ou ao entrar em contato com a pele e mucosas, a intoxicação é aguda.


Aplicação de agrotóxico feita por avião. — Foto: GloboNews
Aplicação de agrotóxico feita por avião.


As intoxicações agudas são as decorrentes de um ou múltiplos contatos diretos com o agente e afetam as pessoas expostas no ambiente de trabalho e as pessoas que moram em regiões agrícolas.

Outro tipo é a intoxicação crônica, decorrente da exposição prolongada a doses cumulativas de um ou mais agentes tóxicos e em um período prolongado. Este tipo pode afetar toda a população, seja pela exposição direta por meio do trabalho ou nas contaminações por névoas que migram devido ao vento, chuva ou temperaturas elevadas e também por meio do consumo de alimentos e água com a presença de resíduos.

Fonte: G1

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