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Testes indicam produtividade até 30% maior com 'transplante biológico' na lavoura, aponta Embrapa

Por Redação em 30/03/2022 às 06:25:29
Técnica consiste em transferir microrganismos de solos saudáveis para áreas degradadas. Maior resistência a pragas e aumento no teor de potássio também foram observados em alguns casos. Na plantação de milho, produtividade cresceu até 25% com projeto da Embrapa

Divulgação/ Embrapa

Estudos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontam um aumento de até 30% na produtividade da lavoura com o "transplante biológico", que consiste na transferência de fungos, protozoários e bactérias de solos saudáveis para áreas degradadas.

A técnica se mostrou eficaz principalmente na produção de cenoura e milho. Em alguns casos, também foi observada maior resistência das culturas em relação a doenças e pragas, e elevação no teor de potássio, o que permitiu reduzir tanto o uso de defensivos quanto de fertilizantes.

“Os resultados mais expressivos foram conquistados em ambientes de produção de menor qualidade. Mas ainda existe um longo caminho de estudos para que possamos entender o quão abrangente esse processo pode ser”, avalia Andre May, pesquisador da Embrapa nas áreas de Meio Ambiente e Fitotecnia, e responsável pelo estudo.

Os testes foram realizados em condições reais de lavouras comerciais, o que garante dados mais confiáveis e a possibilidade de se pensar em sua aplicação, embora isso ainda dependa de investimentos e expertise para o processo de industrialização.

“A questão de uso em larga escala depende da habilidade no desenvolvimento industrial da rota tecnológica escolhida, já que a estabilização e a manutenção da qualidade biológica dos produtos gerados não são de simples execução. Ainda há um longo caminho pela frente e necessidade de pesquisa. Mas é o que sempre se diz por aí: ciência é a arte de enxergar o infinito”, pontua.

Resultados promissores

No transplante biológico, microrganismos de solos saudáveis e de alta produtividade são doados para lavouras que necessitam de recuperação.

No estudo conduzido pela Embrapa, os testes com diferentes culturas produtivas - como soja, batata, milho, trigo, feijão e cenoura - apresentaram um aumento de desempenho em uma escala de 10% a 30%.

Os resultados mais expressivos, da ordem de 30,3%, foram obtidos com plantações de cenoura em Andradas (MG), cujos vegetais colhidos pós-transplante ainda apresentaram menos deformações.

Na sequência, as culturas que tiveram melhores incrementos na produtividade foram milho (25%), trigo (18%), feijão (12,95%) e soja (11%).

Nas plantações de batata, além de um aumento de quase 10% na produção, foi notada maior resistência a pragas e doenças. A variedade Atlantic, por exemplo, foi menos afetada pela requeima, considerada a principal doença dessa planta no mundo. Já o tipo Ágata produziu tubérculos com menos defeitos.

Cultura de microrganismos inoculados aplicados no solo para estudo da Embrapa

Divulgação/Embrapa

Fertilizante natural

Nos testes realizados com a soja, além de uma produtividade 11% superior, os resultados obtidos em São Gabriel do Oeste (MS) demonstraram crescimento significativo da concentração de potássio no seu tecido.

Tal descoberta é relevante porque o mineral, que atua diretamente na fotossíntese e no desenvolvimento de todas as plantas, é um dos principais componentes dos fertilizantes, hoje uma questão que desperta incertezas diante da invasão da Rússia - um os principais exportadores de insumos agrícolas do mundo - à Ucrânia.

Contudo, é cedo para dizer como isso pode mudar a dependência pelos fertilizantes, explica o pesquisador.

“Não significa que há possibilidade de alteração da fertilização vigente. Experimentos capazes de responder essa questão ainda devem ser implantados”, adverte.

Mais energia para as lavouras

Chefe adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa, Rodrigo Mendes explica que as respostas mais importantes do estudo foram dadas por solos considerados “cansados”, uma forma didática de se referir àquelas áreas que têm como características:

ausência de rotação de culturas, com uma única espécie sendo cultivada há muitos anos;

necessidade de várias aplicações de insumos para manter a produtividade;

microclima (conjunto das condições de temperatura, umidade e vento específicas) menos favorável;

microbioma (conjunto de micro-organismos) menos diverso.

“Ou seja, solos com menor potência biológica – mais homogêneos, sem tanta vida, com seu ecossistema em desequilíbrio, como se as relações de comunicação entre as partes que compõem seu sistema produtivo estivessem quebradas”, esclarece o pesquisador.

Triagem de doadores

Para estarem aptas como doadoras, as culturas precisam estar em uma área de excelência, ou seja, com histórico produtivo estável, em patamares elevados e livre de doenças e pragas. "Ou seja, uma área com equilíbrio entre os organismos vivos e os demais elementos do ambiente."

Normalmente, essas áreas são encontradas em lavouras de alto nível tecnológico e gerencial, com sistemas agrícolas de grande rotação de cultura, inserção de resíduos orgânicos diversos, controle de qualidade nas operações de cuidado fitossanitário e fertilizações realizadas por técnicas de precisão.

“Não são muitas as áreas elegíveis para essa coleta, pois buscamos os pontos de máxima potência biótica. E, após a primeira etapa de triagem, temos ainda um protocolo analítico para qualificação biológica da área escolhida, que passa pelo estudo enzimático do solo e da planta cultivada e também pelo estudo do microbioma de ambos”, explica o chefe adjunto.

Vencidas essas fases, é coletada uma fina camada do solo que fica próximo à região de desenvolvimento de 90% das raízes da planta doadora e onde há também a maior concentração de fungos e bactérias importantes para o desenvolvimento das espécies.

Os transplantados

Diferentemente das especificações que determinam o doador, as culturas receptoras só precisam preencher um requisito: ser da mesma espécie da planta doadora.

De acordo com Andre May, essa exigência é relevante porque zonas produtoras similares, com sistemas agrícolas uniformes, permitem a construção de um perfil biológico que determina a linha de produção específica para o transplante.

“Tratamos soja com os ativos que vêm da planta de soja, cenoura com os ativos da planta sadia de cenoura, e assim por diante. Essa é uma estratégia utilizada para que o genoma vegetal escolha sozinho, em função do ambiente, qual genoma microbiano deseja interagir com maior intensidade e intimidade”, afirma.

Assim, o solo receptor é inoculado com o solo doador, enriquecido com grupos bacterianos ligados a funções específicas de proteção e nutrição, por meio de um pó solúvel em água.

A aplicação é feita pelas “rotas tecnológicas”, que são os meios utilizados para gerar produtos finais estabilizados: tratamento de sementes, sulco de semeio ou pulverização das folhas.

Na pesquisa da Embrapa, a principal rota utilizada foi o tratamento das sementes, fazendo com que apenas aplicações em pequenas doses fossem viáveis. Mas, segundo May, já estão em desenvolvimento alternativas para tornar os produtos gerados mais seguros e competitivos.

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Fonte: G1

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