Segundo juiz, houve falha no atendimento prestado pela operadora de saĂșde que 'não providenciou internação em UTI, recomendada pelo grave estado do paciente, inicialmente atendido em enfermaria'. Cabe recurso.
O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou nesta semana a Prevent Senior a pagar R$ 1,92 milhão ao aposentado Carlos Alberto Reis, 61, que tomou o "kit Covid" após ser internado em uma unidade hospitalar da operadora de saĂșde na capital paulista e não receber o tratamento adequado contra a Covid-19.
Na ocasião, ele teve de ser transferido, por opção da famĂlia, para o Hospital Israelita Albert Einstein, onde ficou internado, pois o hospital privado era a Ășnico com unidade de terapia intensiva (UTI) disponĂvel na época, em março de 2021. Ele teve alta do Einstein em 16 de maio após dois meses de internação.
A decisão, do juiz Guilherme Santini Teodoro, da 30ÂȘ Vara CĂvel, foi assinada na segunda-feira (27), mas publicada nesta quarta-feira (29), e determine que a empresa deposite em juĂzo os quase R$ 2 milhões em até 5 dias. A decisão é em carĂĄter liminar (provisória, sem a defesa da empresa) e cabe recurso. O valor serĂĄ destinado apenas para pagar o Einstein, jĂĄ que a famĂlia não pediu indenização.
Na decisão, o juiz diz ver "elementos indicativos de falha em atendimento médico-hospitalar" por parte da Prevent Senior, com base em relatórios médicos presentes nos autos. O paciente mostrou que tomou "medicamentos comprovadamente ineficazes, como ivermectina e hidroxicloroquina", além de vitamina C, para o tratamento do coronavĂrus, quando o paciente jĂĄ estava com insuficiĂȘncia respiratória.
"Aplicou-se "kit Covid" e não se providenciou internação em UTI, recomendada pelo grave estado do paciente, inicialmente atendido em enfermaria e depois, por intervenção de médico de confiança da famĂlia, em semi UTI", escreveu o juiz na decisão.
Segundo o magistrado, a piora progressiva e a falta de ventilação obrigou a famĂlia a seguir a recomendação de um médico particular e transferir o aposentado para um hospital privado. O Einstein era o Ășnico com UTI disponĂvel na ocasião, alegou a famĂlia.
"A aparente falha em atendimento médico-hospitalar da rede credenciada da ré, -- com quadro de insuficiĂȘncia respiratória, instabilidade hemodinâmica, sepse, piora progressiva e falta de bloqueador neuromuscular necessĂĄrio para adequada ventilação --, determinou, -- por decisão da famĂlia com médico de confiança, transferĂȘncia para o hospital Albert Einstein, na ocasião, aparentemente, o Ășnico com vaga em UTI, sobrevindo, então, melhor atendimento até alta que, segundo o relatório referido, demorou por causa das intercorrĂȘncias e atrasos no tratamento adequado no hospital Sancta Maggiore", escreveu o juiz.
O g1 procurou a Prevent Senior e aguarda resposta.
A famĂlia do doente disse que teve que pedir dinheiro emprestado a familiares e amigos para pagar o hospital Albert Einstein e o tratamento após a doença e que, por isso, recorreu à Justiça, para que a Prevent Senior fosse condenada a arcar com os valores do tratamento no Einstein.
Prevent Senior fez tratamento experimental sem autorização, segundo filha de ex-paciente
Prevent Senior é alvo de série de investigações por falha em serviço
A operadora de saĂșde é alvo de investigação da CPI da Covid, no Congresso Federal, do Ministério PĂșblico de São Paulo, da AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) e de órgãos de vigilância por falha na prestação de serviços e até por negligĂȘncia e omissão de mortes de pacientes com Covid-19 durante a pandemia.
A Prefeitura de São Paulo também apura falhas em unidade da Prevent Senior que atua sem alvarĂĄ de funcionamento e elevador para macas desde março deste ano.
No começo do ano, médicos denunciaram à GloboNews que a diretoria do plano de saĂșde Prevent Senior os obrigou a trabalhar infectados com Covid-19 e a receitar medicamentos sem eficĂĄcia para pacientes.
Depois disso, um dos médicos inclusive registrou um boletim de ocorrĂȘncia em que relata ter sofrido ameaças do diretor-executivo da operadora de saĂșde, Pedro Benedito Batista JĂșnior.
Agora, a CPI da Covid-19 investiga um dossiĂȘ que aponta que a Prevent ocultou mortes em um estudo com hidroxicloroquina, remédio que não funciona contra Covid.
Os indĂcios da fraude aparecem em documentos e ĂĄudios e, segundo os documentos, houve pelo menos o dobro de mortes entre os pacientes tratados com cloroquina analisados pelo estudo.
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