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Metade dos alunos de faculdade de ciências humanas da USP deixou de receber benefício e tem dificuldade de manter estudos

Por Redação em 28/05/2021 às 16:12:32
Sem o benefício da universidade, muitos alunos não conseguem se manter estudando: em 2019, antes da pandemia, 645 alunos concluíram a graduação. No ano passado, só 328. Aumentou 75% o número de matrículas trancadas. Dispara número de alunos que abandonam a FFLCH/USP

Quase metade dos alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) deixou de receber benefícios da universidade em 2019 e têm tido dificuldade para manter os estudos.

Em 2019, eram 3.489 que recebiam algum tipo de auxílio da universidade. No ano passado, foram 1.886.

Sem ajuda, a situação de muitos alunos é crítica e eles não conseguem manter ou terminar os estudos. Em 2019, antes da pandemia, 645 alunos concluíram a graduação. No ano passado, só 328.

Além disso, aumentou 75% o número de matrículas trancadas. Em 2019, foram 878. No ano passado, 1.535.

A Sandra Gomes, estudante de obstetrícia, mora no Tatuapé, na Zona Leste, em uma república particular, mas depende dos auxílios moradia e alimentação para estudar na USP Leste, em Ermelino Matarazzo.

“Eu sou de Belo Horizonte, vim para fazer obstetrícia na USP em 2016 e para mim faz toda diferença receber essa bolsa. A questão da USP é uma questão complicada né, durante a pandemia tem se mostrado uma questão muito complicada. Só que a questão da USP Leste é um pouco pior porque o nosso campus está na Zona Leste, nós estudantes do campus Leste não moramos no entorno porque não temos muitas possibilidades de moradia no entorno”, afirma ela.

A Carolina Talia da Silva Paulino faz gestão pública e também precisa das bolsas: R$ 400 para a moradia e R$ 90 para a alimentação. O pagamento está atrasado.

“Eu sou uma das alunas que recebem bolsa de permanência. Recentemente no dia 19 de maio, um dia antes do pagamento das bolsas, eles informaram os estudantes que atrasaria o pagamento e que seria pago apenas em junho, sem comunicar os motivos”, conta ela.

Segundo ela, a situação fica complicada sem os auxílios.

“Esses estudantes têm apenas a bolsa pra contar, eles tinham as refeições que eram oferecidas nos restaurantes universitários como a sua única opção. E quando eles não podem acessar esse auxílio que é a marmita dentro das universidades, o que que eles fazem? Quando o nosso pagamento é atrasado, o que nós fazemos?”

Na pandemia, a USP passou a distribuir marmitas para os alunos dentro da universidade. O problema é que os estudantes que moram longe nem sempre tem dinheiro para buscar no campus.

“Desde março do ano passado nós estamos sem o auxílio-alimentação e devido à pandemia, não é viável ir buscar marmita, pela exposição mesmo. O ideal é não circular pela cidade. E além dessa questão de também não poder buscar marmitas, a gente não tem a gratuidade do transporte que era concedido quando a gente estava tendo aula presencial. Então assim, não compensa, não vale a pena e além disso, nós que somos bolsistas não temos dinheiro para ir buscar essas marmitas”, afirma Sandra.

Crusp deplorável

No campus da USP no Butantã, na Zona Oeste da capital, a situação do Conjunto Residencial da USP (Crusp), onde moram muitos alunos, é deplorável.

O corredor inteiro não tem iluminação. Há fungos e infiltrações nas paredes, como mostrou o estudante de ciências sociais Antônio José.

“Morar no Crusp e sofrer com problemas de falta de infraestrutura são quase sinônimos. Tem alunos que relatam infiltrações, muita água saindo de dentro de casa. Tem um aluno que mandou a foto de um fungo que está crescendo dentro da parede dele, inclusive pode comprometer a nossa saúde aqui”, afirma.

Outro problema muito grave enfrentado pelos cruspianos é a baixa qualidade das marmitas.

“No começo da pandemia a gente tinha marmitas com muito arroz e sem feijão, sem carnes, uma marmita de baixa qualidade e isso melhorou um pouco de um tempo para cá, mas a gente ainda recebe relatos absurdos de alunos que relatam um grilo dentro da marmita. Alunos que vieram com pedaço de plástico dentro da marmita, essas coisas. Infelizmente essas coisas são recorrentes aqui.”

De acordo com a estudante de Ciências Sociais Ana Maria, a falta de cozinhas comunitárias obriga os estudantes a manter eletrodomésticos dentro dos alojamentos.

“Nós temos que colocar geladeira, fogãozinho elétrico, forno, tudo dentro de casa, e isso sobrecarrega muito os fios porque eles não aguentam. A gente sempre sofre com esse esse receio de ter uma explosão no Crusp, e uma coisa que a própria USP já colocou que não é para ter coisa dentro de casa, mas a gente não tem onde cozinhar”, afirma.

A estudante também relata que não há rede de internet no conjunto residencial da USP.

“A internet funciona em todos os lugares da USP que você for, menos no Crusp. Eles deram os modems para gente na pandemia né, mas esses modem não dá para gente fazer uma chamada no Zoom, sem condição. Qualquer plataforma digital de chamada não tem condição de fazer. Eu já passei por isso de ter que estudar na Praça do Relógio no frio de ter que assistir aula de noite, 8 horas da noite, 9 horas da noite no frio das praças ou em algum lugar na grama onde pega internet muito bem de ótima qualidade, mas aqui dentro do meu Crusp não pega”, conta.

Chegando no andar de outro prédio do Crusp, também não há iluminação, o que causa insegurança para a estudante de biblioteconomia Beatriz Nogueira, que mora no local.

“Eu não me sinto segura para caminhar aqui nessa região especial que é a nossa residência por conta da falta de luz nos corredores. O corredor principal do Crusp carece de luz há muito tempo. A gente teve questões assim em relação a violência sexual aqui no Crusp e a gente entende que isso poderia ser muito melhor amparado”, afirma.

A rotina de estudos, a pandemia e a preocupação com a permanência nos estudos pode impactar diretamente a saúde mental dos alunos, de acordo com o professor Andres Eduardo Aguirres Antunes, do Instituto de Psicologia da USP.

“De fato pode impactar bastante, sim. Nós temos feito acolhimento diariamente no escritório de saúde mental da pró-reitoria de graduação da USP. E o que os alunos nos contam num primeiro momento é que eles têm muita ansiedade, muita tristeza, às vezes essa tristeza é uma depressão não diagnosticada, não tratada, muita dificuldade de concentração, perda de motivação, desânimo, um cansaço excessivo”, afirma.

O número de atendimentos psicológicos aumentou com a pandemia, de acordo com o professor.

“Se nós compararmos o ano passado, nós acolhemos cerca de 200 alunos, tanto de graduação quanto de pós- graduação. E até maio deste ano nós já acolhemos 452, sem fila de espera. Isso é uma coisa muito boa, procurar ajuda é o sinal de esperança”, afirma.

A estudante de arquitetura e urbanismo Jessica Marcolino sente falta do apoio da universidade.

“Nós moradores do Crusp e estudantes da USP queremos sentir o apoio da universidade, a gente não quer se sentir sozinho, a gente não quer fazer tudo por conta própria. A gente quer sim ter autonomia, mas sabendo que tem alguém nos apoiando, nos orientando durante todo esse processo do nosso curso e da nossa moradia na universidade”, afirma.

A USP informou que os valores das bolsas serão reajustados em 25%, passando para R$ 500. Esse aumento será retroativo a maio e vai ser pago dia na próxima terça-feira (1).

Sobre a alimentação, a USP disse que segue critérios rigorosos de produção e que é tudo acompanhado por nutricionistas.

Sobre a falta da internet, a universidade falou que, no final do ano passado, começou a instalação da rede em todos os blocos residenciais. Sobre a infraestrutura dos prédios, disse que esse é um problema antigo e que a reforma deve começar no segundo semestre.

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Fonte: G1

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