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Há muita gente (incrível) cuidando da gente

Por Redação em 15/05/2021 às 12:33:09
“Não sei mais do que eles podem abrir mão”, disse Antonio Barra Torres, o quinto convocado a falar à CPI da Covid, na última terça-feira. O diretor-presidente da Anvisa se referia aos técnicos da agência reguladora, responsável pela aprovação das vacinas no Brasil. Vivem a renúncia de uma vida que tinham antes do novo coronavírus, para dar conta das demandas da Pandemia. A resposta compunha um argumento em defesa do comprometimento da equipe com a saúde pública, em meio a suspeitas de politização.

O executivo da farmacêutica Pfizer, ouvido no dia seguinte, agradeceu aos 2.700 voluntários brasileiros que participaram dos testes clínicos no país, ajudando a tornar possível uma elaboração de uma vacina em tempo recorde, com uma eficácia acima dos 90% e uma tecnologia totalmente nova.

Durante a transmissão na GloboNews, me lembrei de tantos com os quais cruzei nesta cobertura, brasileiros em rotina permanente de sacrifício, pela vida do outro. Um conforto. E uma nova exigência. O 12 de maio ganhou uma atenção represada: Dia Internacional da Enfermagem. Vai lá e faz um coração no calendário, foi nesta quarta. E foi diferente. Como eu nunca havia visto antes, a internet reverenciou esses profissionais com respeito e gratidão.

Nesta sexta-feira conheci mais de perto a idealizadora da “mãozinha de Deus”, uma técnica criada pela enfermeira Lidiane Melo, no Rio de Janeiro. Sem conseguir medir a saturação do paciente, ela colocou duas luvas com água quente na mão dele. A circulação do sangue melhorou e teve efeito direto no conforto e segurança.

As imagens viralizaram há algumas semanas, com muitas outras iniciativas que têm gerado muitas lições pra quem vive o maior desafio de sua carreira. Lidiane contou que escolheu ser enfermeira pela por causa da avó dela, uma parteira autodidata. Pra ela cuidar das pessoas é uma “missão de família”.

“Você muda. A gente acrescentou resiliência, mais empatia. Se coloca no lugar do outro, enquanto sofrimento. Eu sempre fui muito próxima dos pacientes, mas agora continuo participando mais da vida deles depois da alta. Eles mandam zap, contam as novidades da volta”. O relato é de Talitha da Silva Barbosa Lima, uma jovem enfermeira de 30 anos do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

A enfermeira Talitha da Silva Barbosa Lima, no Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Arquivo pessoal

Fui em busca do relato de um profissional da enfermagem em um dos maiores hospitais públicos de referência, no SUS, para nos lembrar que, apesar de tudo, há muita gente cuidando da gente.

Gente incrível, guerreira e orgulhosa pela oportunidade de compor a linha de frente. Um alento, um conforto. Conversei com Thalita numa das poucas folgas semanais, entre plantões de 12 horas incessantes. Já são quase 15 meses.

Um das primeiras a ter ensino superior, é o orgulho dos pais. Trabalha desde os 18 anos, e acha que a Pandemia deu uma vitrine mais justa aos enfermeiros nos hospitais e fora deles.

“Lá dentro cada um é um pouco do colega”, me disse, sobre a equipe multidisciplinar que se tornou fator determinante para a evolução de protocolos.

A enfermeira Talitha

Arquivo pessoal

Foram meses longe da família, até recentemente dar um abraço apertado no domingo de dia das mães. Memórias paradoxais. Vida e morte em gangorras de sobrevivência. Se pergunto sobre um paciente específico, que marcou mais, ela prefere lembrar de todos.

Mas algumas sensações marcaram: “Teve uma paciente jovem, que precisou ser entubada. Ela pedia para a equipe despertá-la sempre que a visse dormindo, porque tinha medo não acordar mais. Porque era mãe de uma criança e não podia partir”.

E a dor maior, em paralelo às perdas definitivas, sempre chega quando já não há o que fazer humanamente: “O próprio paciente pede pra ser ser colocado na ventilação porque não aguenta mais. E a gente percebe que não pode fazer mais nada naquele momento”.

Talitha se prepara pra maternidade e para o próximo dia de plantão. Acredita que a sociedade entendeu melhor a importância da equipe, além da figura do médico. Falando em mãe, morre de orgulho da própria, que estudou até a quarta série, e muito recentemente, se formou no ensino médio quase aos 50 anos.

“A gente precisa amar mais. Essa Pandemia veio ensinar que não pode deixar nada pra depois. A gente pode perder tudo muito rápido. Viver hoje, amar mais, sempre mais. Fazendo o bem, não fique em falta”, me disse.

Arquivo pessoal

Celebro Talitha, tudo o que ela representa de bom para o Brasil. Relembro a enfermeira, hoje ícone da saúde pública, a nossa Monica Calazans - também conhecida como a primeira brasileira a tomar uma vacina contra a Covid. Celebro o conforto que é relembrar: tem muita gente (incrível) cuidando da gente.

E viva os profissionais da enfermagem!

Fonte: G1

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