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Primeiro mês de 2021 tem dois feminicídios em Rondônia

Por Redação em 25/02/2021 às 11:00:44

Foto: Editoria de Arte/G1

Duas mulheres foram vítimas de feminicídio no primeiro mês de 2021 em Rondônia. O número corresponde a um aumento de 200% em janeiro, pois no mesmo mês do ano passado não houve registro oficial de feminicídio no sistema da Polícia Civil.

Ainda conforme o levantamento, solicitado pelo G1 à Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec), em comparação a janeiro do ano passado e o mesmo mês em 2021, houve uma queda de 2.95% no número de casos de violência doméstica nas delegacias de Rondônia.

Rondônia registra quase 10 mil denúncias de violência doméstica em 2020, diz Sesdec

O total de registros de casos por violência doméstica em janeiro deste ano foi de 856. Já em janeiro do ano passado foram 891 ocorrências.

Os crimes de violência doméstica, de acordo com a Civil, são divididos em ameaça, difamação, calúnia, injúria e lesão corporal. Dentre esses, o que mais teve ocorrências registradas no primeiro mês de 2021 é do de lesão corporal, com 328 registros, um total menor que em janeiro de 2020, à época com 338 ocorrências.

Veja o gráfico que mostra os registros das ocorrências no estado em janeiro de 2020 e 2021

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Feminicídio e homicídio contra mulher

Ao longo de todo o ano de 2020, o número de feminicídios subiu 42,85% em Rondônia. Em janeiro do ano passado não teve registros do crime no estado. Já em janeiro deste ano, duas mulheres assassinadas tiveram o registro do crime como feminicídio.

O levantamento solicitado pelo G1 à Sesdec aponta que, no primeiro mês deste ano, houve um homicídio contra mulher, uma queda de 85,7% se comparado à janeiro do ano passado, onde foram registrados sete ocorrências de homicídios contra mulheres.

Anita e José estavam juntos há 13 anos

Reprodução

No dia 7 de janeiro de 2020, José de Souza matou a esposa Anita Lopes a facadas e depois cometeu suicídio em Ouro Preto do Oeste. Isso porque ele não aceitava o fim do casamento de 13 anos.

Um ano depois, no dia 7 de janeiro de 2021, um homem de 68 anos e uma mulher de 47 foram encontrados mortos dentro de uma residência, também em Ouro Preto do Oeste. Ele não aceitava o fim do relacionamento e fazia ameaças frequentes à vítima.

Roseneide Alves Cirino foi morta pelo marido, em casa, no município de São Francisco do Guaporé

Facebook/Reprodução

Outro assassinato que teve repercussão no início deste ano foi o de Roseneide Alvez Cirino, de 42 anos, que morta a facadas pelo marido em cima da cama dela em São Francisco do Guaporé (RO). O filho da vítima viu parte do crime. À época, a Polícia Civil informou ter sido o primeiro caso de feminicídio do ano na cidade.

Ciclo da violência

Veja ciclo da violência contra mulher

Infográfico: Fernanda Garrafiel/ G1

A psicóloga e mestre pela Universidade Federal de Rondônia (Unir), Selena Castiel, explica que, antes do homem de fato agredir essa mulher, ele cria uma atmosfera onde a vítima se torna fragilizada emocionalmente. O que caracteriza o primeiro estágio do Ciclo da Violência: Tensão.

"Esse termo foi criado pela psicóloga norte americana Helena Working em 1979 e passou a ser identificado padrões abusivos em relações afetivas. É preciso compreender que nada se inicia de maneira clara para se chegar na violência doméstica física, inevitavelmente se passa pela violência moral psicológica, onde o agressor inicia com depredação da autoestima da mulher, fazendo com que ela se sinta inferior, diluindo sua estrutura psicológica. Esse é um ponto importante antes de falarmos da parte da violência física de fato".

Com especialização em Psicologia Clínica, Selena conta que, por experiência, é possível analisar o padrão do agressor. Ele faz um jogo psicológico de controle dos atos com a vítima e coloca limitações a essa mulher, que acredita, inconscientemente, que o agressor esteja oferecendo afeto em troca.

"Já atendi muitos casais e esse processo se mostrava de forma muito cristalina. Alguns sinais eram padrões comportamentais bem repetitivos. Ele não bate, mas limita espaço. Começa devagar afastando a mulher do convívio. Ele não bate, mas começa a criticar o jeito que ela fala, como se veste, a dizer que ela é muito simpática com os outros. A mulher vai se reduzindo, se fechando. Ele não bate, mas vai fazendo um jogo psicológico de controle dos atos e isso tudo, muitas das vezes, a mulher não dá conta. Não de forma consciente, pois sempre há um mecanismo de defesa com que ela acredita que, esse comportamento é proteção, zelo e cuidado", explica.

Com o jogo psicológico e com agressões verbais mais frequentes, o próximo passo é a agressão física.

"Aos poucos inicia o ciclo da violência, que é quando a mulher já está devastada emocionalmente, insegura e buscando acreditar que tudo isso que ele faz é uma forma de afetividade. Ele bate mais, dá afeto", diz.

O segundo estágio, "Lua de mel", acontece depois que o homem já agrediu a mulher. Ele se mostra arrependido e tenta recompensar e reconquistar a vítima sendo mais atencioso e carinhoso.

"Esse ciclo se repete por muitas vezes. Mesmo com medo, a mulher se sente impotente. A mulher sempre pensa que foi coisa momentânea e que ele vai mudar. A vítima pode ficar anos presa nesse ciclo da violência, até chegar ao processo de dar-se conta da situação. Nesse processo é importante também falar das idealizações, projeções, fantasias onde ela acredita que esse parceiro será aquilo que ela espera e idealizou um dia", comenta.

'Cárcere patológico'

Dentre os sentimentos que a vítima da violência carrega, a psicóloga destaca a culpa, onde essa mulher acredita que falhou em algo.

"Algumas mulheres que atendi no processo clínico acreditavam que era alguma coisa relacionada ao comportamento delas e até mesmo ao estereótipo físico. Elas sentem culpa no processo que estão vivendo", diz.

Depressão, síndrome do pânico, ansiedade generalizada e muitas outras doenças podem ser desenvolvidas por vítimas que vivem a violência doméstica, é o que ressalta Selena.

Se reconhecer como vítima da violência doméstica é o primeiro passo

A psicóloga frisa que o tratamento para vítima da violência doméstica começa quando a mulher reconhece e se vê dentro do ciclo da violência.

"Até a mulher conseguir dar conta do que ela vive, pode se passar muito tempo. Porque por muitas vezes essa tomada de consciência é tomada por mecanismos de defesa, de pensamentos de negações de acreditar que o comportamento desse abusador se faz por excesso de proteção e de amor", pontua.

Quanto ao tratamento, a psicóloga Selena Castiel destaca a importância do acolhimento de pessoas próximas e também a busca por um acompanhamento profissional.

"É o resgate de si mesma no caminho de volta. Esse caminho intrapsíquico, interno. Ninguém entra em um relacionamento idealizando um relacionamento tóxico. É necessário muito acolhimento, muito afeto, um escuta sem julgamento de pessoas próximas e claro com a ajuda de um profissional de acompanhamento psicológico", afirma.

Fonte: G1

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