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Custos altos e preços baixos comprometem rentabilidade da soja em MT

Por Redação em 13/01/2024 às 09:57:55

A manutenção de custos em patamares elevados no início da safra 2023/24, a queda nos preços da soja no mercado internacional e a redução de produtividade das lavouras vão comprometer a rentabilidade dos produtores da oleaginosa em Mato Grosso. A conta não vai fechar mesmo se a "quebra" na colheita não for tão grande como projetado por algumas consultorias.

O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) calcula que, de acordo com os dados atuais, são necessárias 65 sacas de soja por hectare apenas para cobrir os custos totais das lavouras, estimado em R$ 7,2 mil por hectare.

O cálculo inclui custos de depreciação, pró-labore, operações mecanizadas, mão de obra, correção de solo, sementes, defensivos, fertilizantes e oportunidade. Na safra passada, a colheita histórica de 62,3 sacas por hectare em média, com receita bruta de R$ 8,4 mil, garantiu lucro ante os gastos equivalentes a 56 sacas por hectare (R$ 7,6 mil). Em 2021/22, com custos bem menores, a rentabilidade foi ainda maior. Naquela temporada, o custo total foi equivalente a 35 sacas de soja por hectare e a colheita alcançou rendimento de 59 sacas por hectare.

Para cobrir despesas gerais da safra, sem considerar gastos com investimentos e arrendamento, por exemplo, são necessárias 50,8 sacas de produtividade nesta safra. O Custo Operacional Efetivo (COE), levantado pelo Imea, também é o maior dos últimos anos. Em 2022/23 foram 46 sacas por hectare, com colheita de 62,3 sacas; em 2021/22 o COE foi de 27,6 sacas ante produção de 59,3 sacas; e em 2020/21 esse custo foi de 30 sacas enquanto as lavouras mato-grossenses renderam 57,4 sacas por hectare.

Para o milho, o cenário é ainda pior, com custo total estimado em 161 sacas por hectare, equivalente a R$ 5,8 mil. Já o COE apurado é de 122,7 sacas, com perspectiva de produtividade de 103,84 sacas por hectare. Cleiton Gauer, que apresentou os dados em reunião no Ministério da Agricultura nesta quinta-feira (11/01), ressaltou que os dados podem mudar ao longo da safra.

A comercialização da soja está atualmente em 33,9% da produção prevista, abaixo da média das últimas cinco temporadas, mais próxima de 45% para esta época do ano. O preço negociado está bem menor. O grão está precificado em R$ 111,37 a saca, com negociações abaixo dos R$ 100 para entrega em março, disse Gauer. No ano passado, a cotação em Mato Grosso em janeiro estava em R$ 149,28 a saca.

"O problema está nos custos altos e na projeção de preços da soja abaixo de R$ 100 para comercialização futura. A seca só vai piorar o problema que já existia", alertou o assessor especial do Ministério da Agricultura, Carlos Ernesto Augustin, durante a reunião.

"A conta já não fechava. A questão não é a quebra da safra, com certeza vem turbulência pela frente", disse Sérgio Bortolozzo, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). "Os produtores estão com incapacidade de gerar caixa dada a redução de produtividade e a baixa precificação do produto. A recuperação da produção da América do Sul como um todo coloca o bode na sala", disse André Dobashi, presidente da Câmara Setorial da Soja.

Endividamento

"O principal ponto é a preocupação com a rentabilidade, com novas recuperações judiciais e o endividamento na temporada, que pode dar um choque em produtores que estavam mais alavancados e ter impacto significativo em Mato Grosso e outros Estados", disse Gauer. "É uma questão que não víamos, com perdas acima de 10% em Mato Grosso. Isso aconteceu e pode impactar negócios dos produtores e elevar patamar de endividamento do setor", completou.

Como a maior parte dos financiamentos da safra mato-grossense é privada, Carlos Augustin disse que vai procurar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estruturar uma linha de crédito atrelada ao dólar para capital de giro de empresas e revendas de insumos agropecuários. "Vamos tentar que a linha aberta para as cooperativas do Rio Grande do Sul no ano passado possa ser aberta para revendas, tradings, aqueles que vendem para agricultores, esse que têm capital e podem prorrogar para o agricultor", disse.

O diretor de Política de Financiamento ao Setor Agropecuário, Wilson Vaz de Araújo, disse que é "ilusão pensar que o Tesouro Nacional pode absorver dívidas privadas". Ele salientou que existem limitações na formulação dessas medidas e que qualquer proposta de reescalonamento generalizado de dívidas rurais no país, com gastos para a União, vai gerar diminuição no orçamento disponível para equalizar o crédito. "Nos últimos anos, toda tentativa de fazer renegociações além do que está autorizado no Manual de Crédito Rural foi sacrificado do recurso do Plano Safra", explicou.

O setor expôs ao ministério que pode precisar de prorrogação de dívidas, o que gera custos ao Tesouro Nacional. A medida está no radar, principalmente para as parcelas de investimentos com vencimento em 2024. Os representantes da Pasta, no entanto, ressaltaram a dificuldade de conseguir recursos para esse tipo de ação.

Ricardo Arioli, presidente da Comissão de Cereais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cobrou, ao menos, o envio de uma orientação oficial pelo Ministério da Agricultura aos bancos para implementarem a medida, já prevista no Manual de Crédito Rural (MCR). "Não temos os instrumentos para amenizar as crises para os produtores, o remédio para uma quebra de safra é plantar de novo", afirmou.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Vilmondes Tomain, estima perdas "expressivas" na safra do Estado. "Algumas regiões que visitei estão comprometidas com até 50% de perdas. No geral, a perda pode chegar a 17%. É a perspectiva que temos em relação ao ano passado, quando a produção foi alta", disse na reunião. Ele projetou redução na área plantada de milho em função desse cenário.

Já o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Enori Barbieri, cobrou condições de estímulo e seguro rural para que não haja queda na produção do cereal na segunda safra, a principal do país. "Tem que ter segurança de que vai conseguir retornar o custo, não podemos deixar o produtor de milho desistir de plantar", apontou. Ele também cobrou melhorias no preço mínimo do grão para incentivar o cultivo.

No Rio Grande do Sul, o problema é o histórico de perdas nas últimas safras, relatou o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Elmar Konrad. As críticas dele foram em relação à falta de efetividade do seguro rural, com cobertura baixa, preço alto e dificuldades de acesso à subvenção, e problemas com novas regras do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), que limitou a abrangência entre pequenos produtores gaúchos, disse ele.

"O Rio Grande do Sul está por conta em risco, sem nenhum seguro. Precisamos de atenção especial, precisamos de alternativas. O produtor está com problemas nos bancos, estamos sem limite de crédito, sem mitigação e com dificuldade de acessibilidade ao crédito agrícola", apontou.

O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, prometeu ajudar. "Sabemos dos problemas que temos, nos articulamos no governo para dar resultado rápido para o produtor. Não vamos ficar enrolando ninguém".

Fonte: Globo Rural

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