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Professora pede abertura de investigação contra Eduardo Bolsonaro

Por Redação em 15/07/2023 às 11:26:00
Nesta semana, a professora Nelice Pompeu, servidora da rede pĂșblica de ensino do estado de São Paulo hĂĄ mais de 30 anos e integrante do Movimento Escolas em Luta, acionou o Ministério PĂșblico Federal (MPF) para que tome providĂȘncias contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por ter proferido um discurso em que compara "professores doutrinadores" a traficantes de drogas. O discurso do congressista foi feito no domingo (9), durante o 4Âș Encontro Nacional do Proarmas pela Liberdade, que aconteceu em BrasĂ­lia.
"Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta sequestrar os nossos filhos para o mundo do crime. Talvez o professor doutrinador seja pior", disse o deputado no discurso.

No dia seguinte, o ministro da Justiça e Segurança PĂșblica, FlĂĄvio Dino, determinou à PolĂ­cia Federal (PF) que analisasse as declarações do parlamentar no evento. "Determinei à PolĂ­cia Federal que faça anĂĄlise dos discursos proferidos neste domingo, em ato armamentista, realizado em BrasĂ­lia. Objetivo é identificar indĂ­cios de eventuais crimes, notadamente incitações ou apologias a atos criminosos", informou Dino em suas mĂ­dias sociais.
Em entrevista à AgĂȘncia Brasil, a professora disse que a declaração de Eduardo Bolsonaro "foi irresponsĂĄvel" e precisa sofrer algum tipo de punição. "Essa não foi só uma declaração infeliz. Foi uma declaração criminosa e irresponsĂĄvel".

"Não é liberdade de expressão quando fere os princĂ­pios de preservação da vida e de direitos e coloca o outro em risco e promove o ódio. Isso é uma fala irresponsĂĄvel. Por isso comecei a buscar mecanismos para cobrar providĂȘncias", acrescentou.

Além do Ministério PĂșblico Federal, a professora acionou também a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados para que seja tomada alguma providĂȘncia com relação à fala do congressista.

ViolĂȘncia
Para a professora Nelice Pompeu, o discurso de Eduardo Bolsonaro acaba estimulando ainda mais a violĂȘncia dentro das escolas. "O que me chamou a atenção é que isso foi dito em um evento pró-armas, estimulando a violĂȘncia, em um momento em que as escolas viveram muitas tragédias neste ano. As escolas estão presenciando uma escalada de violĂȘncia absurda. Essa polarização, esse clima de ódio, esse clima de intolerância, acaba explodindo nas escolas", alertou.

ViolĂȘncia que, segundo a professora, jĂĄ vem em uma escalada crescente nos Ășltimos anos. "De uns anos para cĂĄ, com essa polarização que se criou na sociedade, piorou muito a questão de violĂȘncia e agressão dentro das escolas e contra os profissionais professores. Tem também a questão da Escola sem Partido, esse movimento que acabou incutindo para a sociedade que o professor é um doutrinador, embora esse conceito não exista".

"De maneira geral, o que tem acontecido é um aumento dessa violĂȘncia no ambiente escolar. Um exemplo disso foram os ataques que aconteceram no inĂ­cio deste ano. Acho importante pontuar que isso não acontece de maneira descontextualizada. Isso é reflexo de um processo que acontece desde o inĂ­cio dos anos 2000, com a criação do movimento Escola sem Partido e com o processo de perseguição e de vigilância contra professores, reduzindo sua autonomia em sala de aula e atingindo, inclusive, outras instâncias como a de construção de polĂ­ticas pĂșblicas", disse Marcele Frossard, assessora de Programa e PolĂ­ticas sociais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, à AgĂȘncia Brasil.

Um levantamento feito pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, por exemplo, apontou que os eventos de violĂȘncia extremo nas escolas no Brasil começaram na primeira década dos anos 2000. Antes desse perĂ­odo, não havia registro desse tipo de ataques. Desde então, houve 16 ataques no Brasil, sendo que quatro deles ocorreram no segundo semestre de 2022 (o balanço não computou o ano de 2023). Esses ataques fizeram 35 vĂ­timas fatais. Outras 72 pessoas sofreram ferimentos.

Para Marcele Frossard, a fala de Eduardo Bolsonaro, de alguma forma, contribui para o aumento dessa violĂȘncia que jĂĄ é uma constante no ambiente escolar.

"A fala do congressista vem no bojo desse tipo de pensamento e de prĂĄtica, que foi fortalecida durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso inclusive é tema do que a Campanha Nacional pelo Direito à Educação apresenta em seu guia de resposta e prevenção de violĂȘncia às escolas e também no relatório que foi entregue pelo professor Daniel Cara [professor de Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo], ao governo de transição sobre o extremismo de direita no ambiente escolar. Essas falas estão relacionadas com essa percepção errônea da educação pĂșblica - e também da classe dos trabalhadores e profissionais da educação – e contribuem para a perseguição e para o aumento da violĂȘncia a esses profissionais", disse.

Um outro balanço, feito pelo Instituto Sou da Paz e divulgado em maio deste ano, apontou que 24 ataques a escolas ocorreram entre nos anos de 2002 e 2023 no Brasil. E também concluiu que esses ataques violentos foram ficando mais intensos nos Ășltimos anos.

"Uma das informações muito importantes do relatório é que ele mostra como houve, nos Ășltimos anos, principalmente desde 2019, um aumento muito significativo [de ataques violentos a escolas]. Tem crescido muito rapidamente a ocorrĂȘncia desse tipo de ataque nas escolas, que é um tipo de violĂȘncia muito extrema e muito chocante pela sua letalidade e pelo seu potencial de vitimar um nĂșmero muito grande de pessoas, entre feridos e mortos. É uma situação que tem e ainda estĂĄ sensibilizando muito a sociedade", ressalta Beatriz Graeff, pesquisadora do Instituto Sou da Paz.

"Nesse relatório trazemos algumas recomendações e uma das questões que a gente aborda é justamente a de ampliar a capacidade do Poder PĂșblicoem monitorar e diagnosticar esse tipo de risco e de ameaça em torno da escola. E para isso é muito importante que a gente melhore a capacidade de produzir dados sobre as violĂȘncias que ocorrem dentro das escolas", acrescentou.

Para Beatriz, uma fala como a que foi proferida por Eduardo Bolsonaro, acirra uma situação que jĂĄ estĂĄ bastante complicada nas escolas. "É muito claro que esse discurso de ódio, mesmo quando ele não incita diretamente a violĂȘncia, é fator de legitimação de atos violentos contra o grupo ao qual ele se dirige. É uma situação muito triste, principalmente em um momento em que estĂĄ todo mundo preocupado e muito sensibilizado com o aumento desse tipo de violĂȘncia extrema dentro das escolas. Ainda mais um ataque assim tão direto à figura do professor, que é absolutamente central para que a escola consiga realizar o seu potencial de ser um espaço não só de formação e de desenvolvimento intelectual, mas também de formação da cidadania, de proteção da criança e do adolescente e de proteção de direitos".

Cultura de paz
Para Nelice Pompeu, a violĂȘncia só vai diminuir com ações que estimulem a cultura de paz e valorizem a profissão. "Acho que é urgente a gente trabalhar a cultura da paz - e que não seja um projeto isolado. Tem que ser algo permanente para, pelo menos, se contrapor a essa plataforma do ódio", sugere.

"A escola sozinha não consegue dar conta dos problemas. Temos um trabalho limitado, faltam redes de proteção. A profissão foi muito desvalorizada de uns anos para cĂĄ, como se qualquer pessoa pudesse chegar na sala de aula e dar uma aula. E não é assim. Estamos lidando com futuro. Temos uma responsabilidade nessa formação. E o professor não pode trabalhar amedrontado, intimidado, com medo de demissão ou de perseguição. Ele precisa ter um suporte", alerta.

Para Marcele Frossard, a construção do projeto de combate à violĂȘncia passa também pela punição a falas que estimulem a violĂȘncia. "Esse deputado precisa ser punido. É importante ter algum tipo de declaração pĂșblica indicando que esse tipo de fala incita a violĂȘncia e piora um ambiente que jĂĄ é amedrontado e fragilizado devido ao que tem acontecido ao longo desse ano", defende.

"A melhor maneira de fazer essa prevenção [da violĂȘncia nas escolas] é através do fortalecimento de vĂ­nculos e da participação desses estudantes, do fortalecimento de instâncias como o grĂȘmio estudantil e também do conselho escolar, para que todos tenham responsabilidades e façam parte dessa escola, formando esses estudantes para participação na sociedade democrĂĄtica. E aĂ­ é importante que pais e responsĂĄveis estejam envolvidos para que eles também entendam o sentido desse modelo de educação, que é um modelo preconizado na Constituição Brasileira", recomenda.

Beatriz Graeff acrescenta que é fundamental que seja feito um levantamento constante sobre as violĂȘncias que acontecem dentro das escolas. Por meio desse diagnóstico, acredita, é que serĂĄ possĂ­vel criar polĂ­ticas pĂșblicas mais contundentes de combate à violĂȘncia no ambiente escolar.

"A gente acredita que é muito importante que exista uma organização em torno de ferramentas que possibilitem um diagnostico mais preciso e mais frequente [dessas violĂȘncias] e que a gente possa acompanhar mais diretamente o que estĂĄ acontecendo nas escolas e a medida em que isso estĂĄ acontecendo. Esse diagnóstico é muito importante para que seja possĂ­vel desenhar ações, seja de prevenção de ataques, que é um tipo extremo de violĂȘncia, como também de ocorrĂȘncias mais cotidianas de agressão, incivilidade ou conflito, que podem ser sinais de alerta para uma escalada de violĂȘncia que produza um estrago mais significativo".

Bolsonaro
Procurado pela AgĂȘncia Brasil, o deputado Eduardo Bolsonaro não se manifestou até a publicação da matéria. Em suas redes sociais, o deputado se manifestou sobre o ministro da Justiça ter determinado que a PF investigue as declarações feitas no evento.

"Um ministro da Justiça mobilizar a PF para investigar minha analogia sobre doutrinadores, que se aproveitam da posição de professores para escravizarem pela ideologia, agirem como traficantes que escravizam pela droga, ambas as situações propiciadas pela ausĂȘncia dos pais no dia a dia dos filhos, é mais um degrau da escalada autoritĂĄria no Brasil", escreveu.

"LamentĂĄvel ver a PolĂ­cia Federal, instituição da qual orgulhosamente faço parte, ser utilizada politicamente para satisfazer desejos autocratas de comunistas, enquanto verdadeiros criminosos parecem não se incomodar tanto", acrescentou.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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