Segundo emenda apresentada à Câmara dos Deputados, as autarquias passariam a funcionar em formato de conselho deliberativo formado pelo governo, técnicos das agĂȘncias e sociedade civil. Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) defende que agĂȘncias reguladoras precisam ter autonomia preservada
Uma emenda protocolada nesta sexta-feira (3) pelo deputado federal Danilo Forte (União-CE) prevĂȘ a criação de conselhos vinculados aos ministérios e agĂȘncias reguladoras "para deliberação de atividades normativas". A proposta é alvo de crĂticas pelo risco de retirar poder e autonomia das agĂȘncias reguladoras.
Pela proposição, os conselhos seriam compostos por representantes da pasta, da agĂȘncia, dos setores regulados da atividade econômica, da academia e dos consumidores, aprovados pelo Congresso Nacional.
Caso aprovada, toda a atividade normativa das agĂȘncias reguladoras exigirĂĄ "a interação entre representantes do ministério, das agĂȘncias, dos setores regulados da atividade econômica, da academia e dos consumidores, garantindo o controle e a vigilância de um poder sobre o outro em relação ao cumprimento dos deveres constitucionais".
Segundo o parlamentar, o objetivo é "proporcionar maior clareza e controle das atividades executiva, normativa e contenciosa destas entidades".
A emenda foi inserida na Medida Provisória 1154, que reorganiza os órgãos da PresidĂȘncia da RepĂșblica e os ministérios do governo Lula.
A legislação atual, de 2019, prevĂȘ a "ausĂȘncia de tutela ou de subordinação hierĂĄrquica, pela autonomia funcional, decisória, administrativa e financeira" das agĂȘncias reguladoras, que são comandadas por diretores com mandatos de cinco anos, nomeados pelo presidente e que não podem ser demitidos.
Repercussão
"Não hĂĄ nenhuma intenção que não seja ocupação polĂtica das agĂȘncias", afirmou o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) à GloboNews. "As agĂȘncias reguladoras são uma conquista importante da reforma do estado. Devem ter sua autonomia funcional, econômica, polĂtica preservada", defendeu.
"Essa representação através de um conselho que tenha participação dos consumidores jĂĄ existe. VocĂȘ ter outros instrumentos de controle, que funcionem sob comando do Executivo, eu acho que acabam caracterizando uma interferĂȘncia em que o resultado é comprometer as agĂȘncias reguladoras", declarou o deputado.
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), ex-lĂder do partido, também vĂȘ a mudança com preocupação. "Sou contra enfraquecer as agĂȘncias, elas formam um escudo para o bom funcionamento do que elas regulam", disse.
O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) também foi contrĂĄrio à proposta de "enfraquecer" as agĂȘncias reguladoras brasileiras.
"É mais uma tentativa de enfraquecer os mecanismos criados para proteger o patrimônio pĂșblico. Vamos lutar para barrar esse movimento", afirmou.
Quais agĂȘncias reguladoras podem ser atingidas:
Ana - AgĂȘncia Nacional de Águas e Saneamento BĂĄsico
Anac - AgĂȘncia Nacional de Aviação Civil
Aneel - AgĂȘncia Nacional de Energia Elétrica
ANS - AgĂȘncia Nacional de SaĂșde Suplementar
Anatel - AgĂȘncia Nacional de Telecomunicações
Antaq - AgĂȘncia Nacional de Transportes AquaviĂĄrios
ANTT - AgĂȘncia Nacional de Transportes Terrestres
Anvisa - AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria
Ancine - AgĂȘncia Nacional do Cinema
ANP - AgĂȘncia Nacional do Petróleo
ANM - AgĂȘncia Nacional de Mineração
Ainda não hĂĄ prazo para a anĂĄlise da MP. Uma medida provisória vigora por 60 dias, prorrogĂĄveis por mais 60. Depois disso, se não tiver sido votada nas duas Casas, Câmara e Senado, ela "caduca", ou seja, perde a validade.