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Falta de conhecimento é principal fator da intolerância religiosa, diz dirigente de casa de Umbanda de Cuiabá

Por Redação em 21/01/2023 às 16:02:45
O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa é comemorado nesse sábado (21) como forma de homenagear Iyalorixá Mãe Gilda, fundadora do terreiro Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum, na Bahia. Além de ser uma tentativa de combater o desrespeito à crenças. Imagens negras do altar de terreiro de umbanda

Fábio Tito/G1

Qual o limite entre a crença em algo superior e o desrespeito ao outro que crê em algo diferente? A intolerância religiosa é a resposta. E como tentativa de combatê-la, a data simbólica comemorada neste sábado (21) foi criada em 2007 no país. A TV Centro América conversou com o dirigente espiritual de uma casa de Umbanda de Cuiabá, Glauco Henrique Modesto, que afirma ser a falta de conhecimento por parte dos indivíduos o problema central da discriminação.

"Tudo aquilo que se torna diferente do convencional, se torna estranho, e muitas vezes sem o devido conhecimento nós entramos nesse universo da intolerância. Pessoas que não tem o conhecimento da Umbanda, tendem a trazer a intolerância porque não conhecem", disse.

O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa é comemorado como forma de homenagem à Iyalorixá Mãe Gilda, fundadora do terreiro Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum, na Bahia.

Há 23 anos, ela foi vítima de ataques de ódio e desrespeito, tendo sua imagem e história expostas de maneira preconceituosa e racista por seguidores de outra religião. Abalada, acabou enfartando e morrendo.

Falta de conhecimento e desrespeito

Busto de Mãe Gilda em Salvador

Elói Corrêa/Governo da Bahia

O professor de História e pesquisador da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), Adilson José Francisco, disse que junto à estranheza do desigual, surge o processo de "demonização" da religião do outro. Dessa forma, a religião se torna justificativa e meio de separação, de discriminação.

E como defende Glauco, o problema está justamente nas ações humanas e não nos ensinamentos religiosos em si. É aí que o “amar ao próximo como a ti mesmo” fica para trás.

"O problema não é a religião. A questão somos nós seres humanos. Se o diferente não pensa da forma que penso, não pode ser meu amigo. O problema é não nos permitirmos ir além do que conhecemos", disse.

Além do preconceito encarado pelos integrantes de religiões de matriz africana, em vários momentos de suas vidas, a intolerância afeta até mesmo a possibilidade da criação de um espaço onde os cultos possam ser exercidos e celebrados pelo grupo.

Glauco Modesto, dirigente de uma Casa de Umbanda em Cuiabá

Gabi Braz

E, como explica Glauco, essa falta de espaço para os umbandistas entra em contraste com a quantidade de templos de outras religiões erguidos pela cidade – o que representa, ainda, um desdobramento da repressão que a Umbanda sofre desde seu início no Brasil, quando a população não podia sequer falar abertamente sobre ela nas ruas.

Portanto, como explica o professor Adilson José Francisco, falar de intolerância religiosa nos leva a falar em racismo. Segundo ele, ambos os crimes estão presentes na sociedade brasileira desde a vinda forçada de povos africanos escravizados seguida pela implantação da religião católica como sendo a única aceitável e correta.

“Isso, sem sombra de dúvidas, ajudou a reforçar e a reproduzir estereótipos. Não conhecendo o sentido, o significado dos elementos religiosos das matrizes africanos, se julgou e se definiu como algo diabólico ou satânico. Isso nos leva a uma dificuldade de conviver com a diversidade”, afirma o professor.

Aprender a mudar o olhar

Glauco explica que o ponto de mudança para o cenário da intolerância seria a capacidade dos seres humanos em se permitirem adentrar, conhecer e entender o que é diferente das crenças particulares, que foram ensinadas desde a infância.

"Só porque é diferente daquilo que você foi doutrinado desde a infância, que vivenciou universos diferentes e não se abre para outros lugares, não quer dizer que isso é errado", contou.

Mudança na lei

Festa na Casa de Umbanda

Morena Santos - IAOB/FEESK

Neste mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei igualando o crime de injúria racial ao de racismo e ainda deu mais amparo aos casos de liberdade religiosa

Com a mudança, além de pagamento de multa, a pena passa a ser de 2 a 5 anos de prisão para quem impedir ou empregar violência contra qualquer manifestação ou prática religiosa, sendo que a pena aumenta a metade se o crime for cometido por duas ou mais pessoas.

Projeto de lei

Em Mato Grosso, um projeto de lei apresentado pelo deputado estadual Allan Kardec (PDT), está em tramitação na Assembleia Legislativa (ALMT) e tem o objetivo de criar o subtítulo de "Intolerância Religiosa" para classificar as denúncias nos registros de ocorrência da Polícia Civil.

Além disso, o texto ainda propõe a produção e divulgação de dados estatísticos sobre este tipo de crime através da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp-MT).

Também está em tramitação na Assembleia, uma outra proposta, do deputado Wilson Santos (PSDB), que determina a criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância no estado.

Se aprovado, a unidade ficará responsável por registrar, investigar, abrir inquérito e outros procedimentos necessários em casos de violência ou discriminação.

Fonte: G1/MT

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