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Região de Campinas já tem 39% mais casos e 81% mais mortes por meningite do que 2021; entenda tipos, contágio e quando se vacinar

Por Redação em 20/10/2022 às 07:53:26
Departamento Regional de Saúde (DRS-7) computou 296 diagnósticos da doença de janeiro a início de outubro, com 29 óbitos. Em todo o ano passado, foram 212 casos e 16 mortes, nas 42 cidades. Meningite pode causar sequelas

Reprodução/EPTV

O Departamento Regional de Saúde sediado em Campinas (DRS-7) registrou 296 casos positivos de meningite entre janeiro e a primeira quinzena de outubro, sendo 29 mortes de moradores. Os números desta doença, que é a inflamação na membrana que reveste o cérebro e a medula espinhal (meninge), já superaram o total registrado em 2021. A alta chega a 81,25% em mortes e 39,62% nos diagnósticos positivos.

Os registros somam tanto casos de meningite bacteriana como também viral e, ainda, os pacientes que tiveram a doença em decorrência de tuberculose e pneumonia, por exemplo, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. A DRS-7 abrange 42 municípios do interior de SP. Veja dados no gráfico abaixo:

O g1 conversou com a médica infectologista da Prefeitura de Campinas Valéria Almeida para esclarecer ponto a ponto os tipos mais comuns de meningite no Brasil, como se dá a transmissão, em quais casos ela é mais grave e quando é necessário tomar as vacinas.

Clique para entender:

Tipos mais comuns de meningite no Brasil

Sintomas de meningite

Como é feito o diagnóstico

Tratamento da meningite

Como acontece a transmissão da doença

Quando o caso pode ser mais grave

Vacina é mais necessária para crianças - veja quem mais precisa

A capital paulista tem enfrentado surtos pontuais de meningite meningocócica, um dos tipos transmitidos por bactéria, em algumas localidades da cidade, o que trouxe à tona a necessidade de se conhecer mais sobre a doença e seus riscos. Dez pessoas morreram na capital até o início deste mês.

A vacina no calendário nacional tem foco em crianças - grupo de maior risco - e é recente, só está disponível há 12 anos de graça na rede pública. Mais recentemente, adolescentes foram inseridos no público-alvo. Para profissionais de saúde, a primeira campanha de imunização também gratuita está ocorrendo este ano.

"A meningite é uma doença muito mais grave em crianças, principalmente as pequenas. Elas não têm anticorpos, não entraram em contato com outros vírus, bactérias", explicou a infectologista.

Campinas registrou 97 diagnósticos positivos da doença este ano, com seis mortes, menos do que em 2021. Um levantamento feito pelo g1 nas dez maiores cidades da área de cobertura, aponta alta de casos em três delas e mortes em seis municípios. Confira no quadro abaixo:

1- Tipos mais comuns de meningite no Brasil

Coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Campinas, a infectologista Valéria Almeida explica que os tipos mais frequentes de meningite são os causados por infecção, seja por vírus ou bactérias.

As meningites virais costumam apresentar sintomas mais leves que as versões bacterianas, e podem ser transmitidas por diversos tipos de vírus. O paciente tende a se recuperar em poucos dias, com medicação pontual para reduzir os sintomas e normalmente não evolui para um caso mais grave.

Dentre as meningites bacterianas, que são as mais graves, os três principais agentes causadores são: meningococo (que se divide nas variantes mais conhecidas, C, A, W e Y), pneumococo e haemophilus. Atualmente as crianças recebem vacinas para os três tipos.

Normalmente o quadro de saúde do paciente se agrava muito rápido, passando de febre e dor de cabeça a baixa de pressão e até choque séptico.

"Às vezes a criança está bem, mas em duas horas aproximadamente piora e pode ter que ser internada com urgência. A criança pode ficar em choque séptico, hipotensa, pressão baixa, pálida e piora muito rápido. Às vezes precisa ser intubada e ter cuidados de UTI. A evolução rápida às vezes impede que a criança seja salva a tempo, e ela pode morrer", alertou a infectologista - veja outros detalhes no vídeo abaixo.

A bactéria meningococo é a mais frequente - e responsável pelos surtos na cidade de São Paulo. A pneumococo pode causar meningite, por exemplo, por complicações de infecção de ouvido que não foi adequadamente tratada, infecção de garganta ou até por causa de uma pneumonia.

Médico infectologista do Devisa de Campinas explica tipos de meningite

2- Sintomas de meningite

Os principais sintomas são: dor de cabeça, febre, confusão mental, podem ocorrer vômitos e rigidez no pescoço.

O paciente pode ter manchas roxas pelo corpo, no caso de ser causada pela bactéria meningococo. Em crianças pequenas, a moleira pode ficar mais elevada do que o nível do crânio.

3- Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico é feito por meio da coleta do líquido cefalorraquiano (líquor), substância incolor que pode ser extraída por meio de uma punção da medula, logo abaixo do crâncio ou na região lombar.

Esse líquido ocupa um espaço no cérebro e tem aparência semelhante à água potavel quando saudável.

A análise verifica, por exemplo, a coloração dele e a textura, para o médico chegar a um diagóstico. O resultado para a suspeita de meningite sai em algumas horas. Se for positivo, já é possível identificar se foi causada por vírus ou por bactéria.

4- Tratamento da meningite

Nos casos virais, o tratamento é com medicações específicas para tratar os sintomas, como as dores de cabeça e a febre.

Já no caso da meningite bacteriana, o paciente precisa ficar internado, às vezes necessitando até de leito em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Precisa receber antibiótico diretamente na corrente sanguínea.

"Muitas pessoas podem ter complicações. Em um quadro importante de infecção na meninge, o paciente pode ficar em choque, precisar de UTI e pode, se for a bactéria meningococo, causar até a perda de membros, amputação de dedos e pé, por exemplo", disse Valéria Almeida.

5- Transmissão da doença

A transmissão se dá por vias aéreas, por meio de gotas de saliva - tosse, espirro - da pessoa infectada que entram em contato com uma pessoa saudável, nas mucosas de nariz e boca, por exemplo. Ambientes com muita gente e pouca circulação aumentam as chances de contágio, principalmente no inverno, quando janelas ficam mais fechadas.

Objetos contaminados e alimentos contaminados que não forem bem higienizados também podem ser um canal de transmissão da doença. O médico infectologista Leonardo Rufin explica alguns detalhes no vídeo abaixo:

Médico infectologista, Leonardo Rufin, explica sobre meningite

Valéria destaca que podem ocorrer casos de um adulto ter a bactéria e não desenvolver a doença, se tornando um hospedeiro. Apesar de ele não ter sintomas, ele transmite, e acaba sendo um risco a mais para crianças pequenas.

"A bactéria do meningococo, muitas pessoas têm ela na orofaringe. São portadoras e não adoecem, mas podem transmitir para outras pessoas. Quando a gente tem um caso de meningite meningocócica na família, todo mundo da família vai receber o medicamento para tratar a bactéria. É um bloqueio medicamentoso com antibiótico", explicou Valéria.

Segundo dados do governo estadual, em 2022, foram registrados 2.902 casos de todos os tipos de meningite em SP, sendo 295 óbitos. O número supera os registros de 2021, mas ainda fica abaixo da realidade pré-pandemia.

Meningite em SP

2022: 2.902 casos e 295 mortes

2021: 2.276 casos e 208 mortes

2019 (pré-pandemia): 6.699 casos e 403 mortes

Valéria Almeida, médica infectologista da Prefeitura de Campinas

Reprodução/EPTV

6- Quando o caso é mais grave

Este ano, Campinas teve seis mortes, sendo quatro delas por meningite causada por meio da tuberculose. A meningite por tuberculose é extremamente grave. É um dos tipos de tuberculose", disse a infectologista.

No geral, Valéria reforça que a maior gravidade da meningite está quando as crianças são infectadas pelas bactérias, porque o corpo de um bebê por exemplo, não tem nem perto dos anticorpos dos adultos - que em algum momento da vida podem ter tido contato com a bactéria e não ter desenvolvido a doença.

"Precisa ficar atento porque as crianças adoecem mais. Elas precisam estar mais vacinadas, não devem ter a dose atrasada. Muitas vezes o adulto, com uma proteção natural por ser adulto, pode ter contato com a bactéria e não ficar doente, mas o adulto pode ficar num estado de portador e transmitir para a criança. Não pode atrasar a vacinação da criança."

7- Vacina é mais necessária para crianças

O público infantil é o de maior risco para meningite, segundo a infectologista. A vacina, que começou a ser disponibilizada em 2010 pelo Ministério da Saúde, é uma proteção importante contra os casos graves bacterianos. Não existe vacina para meningite viral.

"As pessoas mais suscetíveis a adquirir meningococo, pneumococo e haemophilus são as crianças pequenas, e as vacinas fazem parte do calendário infantil. Todas as crianças devem vacinar rotineiramente dentro do seu calendário. É uma proteção importante para o resto da vida contra essas meningites".

Calendário vacinal para meningite - SUS

2, 4 e 6 meses de idade: contra haemophilus

2 e 4 meses de idade: contra pneumococo

3 e 5 meses de idade: contra meningococo C

Liberação recente da vacina - SUS

5 a 10 anos de idade: contra meningococo C

11 a 14 anos de idade: contra os quatro tipos do meningococo (ACWY)

Profissionais de saúde: contra meningococo C

"Os profissionais de saúde têm uma exposição muito grande, muitos precisam intubar o paciente, olhar na orofaringe do paciente, fazer procedimentos dentro da boca do paciente. Podem entrar em contato com o portador. Nunca tinha sido feito campanha de profissionais de saúde para meningo C", destacou a infectologista.

Vacina contra meningite meningocócica ACWY

Reprodução/EPTV

Em casos de bloqueio devido a surtos da doença, a Secretaria de Estado da Saúde de SP reforçou que deve ser analisada a recomendação da vacina meningo C para outras faixas etárias, de forma seletiva, ou seja, de acordo com a situação vacinal das pessoas.

Ainda há a vacina contra o meningococo B, menos comum no Brasil. Para essa proteção, as pessoas só conseguem a vacina na rede particular, sendo que cada dose custa, em média, R$ 500. "A gente não teve casos de meningococo B recente. É mais comum nas regiões da África", disse a médica.

As vacinas que protegem contra os outros tipos de meningite descritos já na cobertura do SUS também podem ser encontradas em clínicas particulares.

meningite arte

Arte/G1

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Fonte: G1

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