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Operações como a da Vila Cruzeiro são 'incompatíveis' com estado de direito, diz órgão do MP Federal

Por Redação em 25/05/2022 às 21:09:29
Câmara de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público cobra investigação 'isenta, imparcial e autônoma' para se apurar responsáveis pelos 25 mortos na operação policial no Rio. Polícia ainda não identificou todos os mortos na operação na Vila Cruzeiro, no Rio

A Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional do Ministério Público Federal classificou em nota divulgada nesta quarta-feira (25) como "absolutamente incompatíveis" com o estado de direito ações policiais como a realizada na véspera na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro.

A operação policial contra traficantes durou 12 horas, provocou pânico entre moradores da comunidade e levou à morte 25 pessoas.

Na nota, os subprocuradores defendem uma investigação "pronta, independente, isenta, imparcial e autônoma", a fim de que sejam identificados e responsabilizados os autores das mortes.

"Essas ações são absolutamente incompatíveis com o Estado de Direito, em uma sociedade democrática", diz o texto da nota, assinado por três subprocuradores do órgão do órgão, vinculado à Procuradoria-Geral da República (leia a íntegra da nota ao final desta reportagem).

De acordo com os subprocuradores, "tais modos de atuar e conceber trazem inequívocos elementos de racismo, maltratando o direito à vida de pessoas e populações marginalizadas da sociedade".

A Câmara aponta como "indispensável" uma análise das atuações dos órgãos de segurança e dos gestores públicas que resultam na repetição de " execuções coletivas, como as registradas na Vila Cruzeiro".

Íntegra da nota

Leia abaixo a íntegra da nota divulgada pela Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional do Ministério Público Federal:

NOTA PÚBLICA

A 7ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (7CCR/MPF), colegiado com atribuições de coordenação, integração e revisão da atuação funcional do MPF em matéria de controle externo da atividade policial, expressa profunda preocupação com o desfecho da operação policial realizada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope/PM/RJ) na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Trata-se da intervenção policial com o segundo maior número de vítimas fatais, sendo 24 mortos, além de sete feridos.

A 7CCR expressa total apoio à atuação dos membros ministeriais com atribuições naturais para realizar investigação pronta, independente, isenta, imparcial e autônoma, que permita a responsabilização dos autores dos gravíssimos atos praticados.

Lembra ainda que, em fevereiro de 2017, no caso Favela Nova Brasília, a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou:

“O Estado, no prazo de um ano contado a partir da notificação da presente Sentença, deverá estabelecer os mecanismos normativos necessários para que, na hipótese de supostas mortes, tortura ou violência sexual decorrentes de intervenção policial, em que prima facie policiais apareçam como possíveis acusados, desde a notitia criminis se delegue a investigação a um órgão independente e diferente da força pública envolvida no incidente, como uma autoridade judicial ou o Ministério Público, assistido por pessoal policial, técnico criminalístico e administrativo alheio ao órgão de segurança a que pertença o possível acusado, ou acusados, em conformidade com os parágrafos 318 e 319 da presente Sentença"

Por fim, a Câmara considera indispensável a análise do padrão de atuação das instituições de segurança, que tem dado causa a repetição de execuções coletivas, como as registradas na Vila Cruzeiro. Além disso, é preciso analisar a atuação dos gestores públicos, responsáveis pelo desenho de políticas públicas em que tais formas letais de intervenção são concebidas, autorizadas ou não reprimidas.

Essas ações são absolutamente incompatíveis com o Estado de Direito, em uma sociedade democrática. Tais modos de atuar e conceber trazem inequívocos elementos de racismo, maltratando o direito à vida de pessoas e populações marginalizadas da sociedade.

Paulo de Souza Queiroz

Subprocurador-Geral da República

Coordenador da 7a Câmara de Coordenação e Revisão do MPF

Ela Wiecko Volkmer de Castilho

Subprocuradora-geral da República

Luciano Mariz Maia

Subprocurador-geral da República

Fonte: G1

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