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"AmarElo Prisma": Em novo projeto, Emicida constrói jornadas coletivas

Por Redação em 27/05/2020 às 09:30:50

Quando Emicida lançou "AmarElo", seu disco mais recente, em outubro de 2019, sua ambição já mirava voos mais altos que um simples conjunto de canções. Resultado de anos de pesquisas e vivências em diversas partes do mundo, o disco traz em sua forma esse indicativo. São raps com histórias e recados de amor, oferecendo um abraço em tempos – mesmo antes disso tudo – sombrios. Talvez num momento de falta de iluminação, artistas consigam jogar luz sobre um ambiente, e é o que pretende o novo projeto de Leandro Roque de Oliveira, 34 anos, o "AmarElo Prisma".

Está lá, na capa do Pink Floyd, para todo mundo ver: o prisma transforma um raio de luz, alterando a velocidade das ondas em cores diversas. O Prisma – projeto multiplataforma que envolve podcast, vídeos no YouTube e conteúdo nas redes sociais a partir desta quarta-feira (27) – também trata sobre isso: transformação e velocidade. "Você já parou para pensar que é parte de um sistema gigante, um sistema que envolve todos os seres vivos, todos os elementos do planeta, todas células do seu corpo?", diz, no "Movimento 1" – serão quatro, como uma sinfonia.

Em cada movimento, o cantor – que, em uma entrevista, cita de Belchior e Paulo Moura a Toni Morrison e bell hooks – exerce mais uma vez o que "AmarElo" deixava claro como um de seus preceitos: uma empatia humanista transformadora e única no cenário não só do rap nacional, mas da cultura brasileira como um todo.

A primeira das quatro partes do projeto joga sua atenção para a alimentação e os cuidados com o corpo. Com entrevistas com nutricionista, profissionais da gastronomia, da Ayurveda e de empreendedores da alimentação saudável – a maioria ligada a trabalhos em regiões menos favorecidas financeiramente -, Emicida compartilha narrativas pessoais buscando uma estratégia coletiva.

Privilégio

Um dos fatores mais interessantes da discussão, usualmente restrita às rodas de conversa de veganos, é justamente tentar compartilhar a ideia de que a alimentação saudável não pode ser um privilégio.

"A gente já concebia o AmarElo maior do que simplesmente um disco nas plataformas", explica Emicida, por videoconferência ao Estadão. "A construção do projeto trouxe muitas histórias, ideias sobre contar histórias diferentes, contrapontos à oficial. Passamos agora pelo 13 de Maio – nos últimos cinco ou dez anos, essa data foi muito atacada. Dizem que a princesa Isabel deveria ser a protagonista, mas quem está mais informado sabe que houve movimentos abolicionistas responsáveis pelo contexto." Para ele, é constrangedor que esse tipo de revisionismo histórico esteja associado a ideias absurdas como o "terraplanismo" e a total falta de entendimento sobre o que foi o nazismo. O novo projeto é também uma tentativa de nadar contra essa maré.

"Quando mergulhamos nas referências, samples e metáforas, o disco faz uma reflexão involuntária e se conecta com muito do Brasil do passado. Mas acredito que ele trata muito também sobre o futuro, e o Prisma é essa "forma geométrica" que recebe luz branca e a converte em um arco íris, dissipando para todas as possibilidade de cor."

Emicida acredita que o momento histórico é marcado pelo esgotamento do modelo da colonização, "perigoso e limitador", e a ideia é compartilhar informações e sabedorias afro-americanas, nativas, orientais.

"Penso muito sobre a escola e nos buracos deixados pela informação que recebi ali. Se a escola tivesse me instigado, com dúvidas que me fizessem olhar para o lugar onde nasci e entender que as plantas podem ser comestíveis, que taioba não é capim… Essas informações não chegaram por vias tradicionais", lamenta o artista.

Para ele, o ensino insuficiente da história do País também impediu a construção de um caminho melhor, de um "projeto Brasil com humanidade".

O Prisma é também mais um passo na missão que Emicida empreende com o rap nacional para desmontar estereótipos.

"Há uma forma de se comunicar, entre nós, que nos fez reproduzir muitos comportamentos que já não fazem sentido em 2020. bell hooks diz que o rap tem um potencial gigante, mas que arranha apenas a superfície do que é ser um homem preto. Existem tantas camadas dentro disso. Não podemos ficar limitados a ser uma cicatriz, uma tragédia. A indignação também é urgente e útil, mas é importante entender a necessidade de se conectar com a vida antes de uma tragédia."

Os Movimentos, com podcasts de cerca de 1h30, vídeos e textos nas redes sociais, vão tratar ainda sobre saúde mental, atividades físicas e da importância de se conectar com sua comunidade – "também não quero que seja individualista, quero que conexões aconteçam".

"A doçura é revolucionária", diz o artista, compositor, empresário. "Malcolm X diz, na sua autobiografia, que, se você oferecer ao sedento um copo de água suja, ele vai beber, mas, se colocar uma água limpa, melhor. A gente está oferecendo o que acreditamos que seja a água limpa. A gente parte do rap, e tudo está entrelaçado na história, a gente caiu, sofreu, chorou, mas a gente se levantou, construiu, sonhou. As pessoas precisam partir do micro, e aqui eu digo no sentido de pensar o que comer Será que a comida que eu coloco na minha mesa não tem destruído a vida de famílias no cerrado, no norte do meu País? Estou falando, nesse projeto, desse tipo de reflexão mais ampla, para que as pessoas saiam do modo avião."

*Com Estadão Conteúdo

Fonte: JP

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