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Filha de mulher pajé, jovem indígena se formou em medicina em MT: 'Enfrentei uma luta que não é só minha'

Por Redação em 19/04/2022 às 17:30:41
Poãn Trumai Kaiabi, de 32 anos, foi aprovada em medicina em 2014, por meio do Programa de Inclusão Indígena (PROIND). Poãn Trumai Kaiabi

Arquivo pessoal

Há menos de um ano, Poãn Trumai Kaiabi, de 32 anos, se formou em medicina pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá. A luta foi grande. Ela teve que deixar o filho com a família, na Aldeia Ytapap, localizada no Parque Nacional do Xingu, para que pudesse estudar e driblou a discriminação.

“Enfrentei uma luta que não é só minha, mas de todos os indígenas que buscam uma formação superior, pois a discriminação ainda é muito grande e muitas vezes sofremos isso de professores ou colegas, mas nada disso me impediu de seguir em frente, porque eu também conheci professores e colegas maravilhosos que me estenderam a mão e tiveram a paciência de me ensinar”, contou.

Poãn se formou em setembro de 2021 e atualmente trabalha em um posto de saúde, em Rondonópolis.

Ela disse que a inspiração e a força vêm da mãe, a pajé Tariwaki Kaiabi Suia. “Ela cura os pacientes com o dom que adquiriu desde muito cedo. Desde criança admiro o trabalho que ela desempenha na comunidade. Eu tinha o desejo de ser pajé como ela, para cuidar das pessoas”, afirmou Poãn.

A médica teve que sair da aldeia porque na escola de lá só tinha até a 5ª série do ensino fundamental. Quem quisesse continuar os estudos tinha que ir para a cidade mais próxima. Hoje em dia, em alguns polos bases do Xingu, já temos o Ensino Médio completo, o que na minha época não tinha”, lembra.

Em 2005, ela começou a fazer um curso de formação para agentes indígenas de saúde. Ela diz que o curso abriu muitas portas para que ela e outros jovens pudessem avançar nos estudos e melhorar a atuação nas aldeias.

“Nesse período de formação realizamos várias atividades de campo que tínhamos que buscar conhecimentos tradicionais, trazendo esses conhecimentos para o nosso dia a dia no atendimento, porque as parteiras, raizeiros, rezadores e pajés também fazem parte do processo de cuidado e cura de um paciente. Isso foi um dos maiores conhecimentos adquiridos que eu pretendo levar adiante”.

Ela foi aprovada em medicina em 2014, por meio do Programa de Inclusão Indígena (PROIND).

“Me surpreendi quando fui aprovada. Foi um momento de muita emoção, uma grande conquista tanto para mim quanto para os povos indígenas do Xingu. Hoje sou médica graças a este programa, que acreditou e fez com que vários indígenas pudessem chegar ao ensino superior”.

Na faculdade, ela passou por dificuldades financeiras e de adaptação. “Ao mesmo tempo que estava feliz com minha conquista também estava triste, porque minha família estava passando por muitas dificuldades, mas o desejo de me formar e voltar para trabalhar com meu povo é algo que sempre me deu forças para continuar”.

Fonte: G1/MT

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