O ex-presidente Lula (PT) se reuniu na noite desta segunda-feira, 11, com senadores do MDB e de outros partidos em BrasĂlia. O encontro, que durou cerca de duas horas, aconteceu na casa de EunĂcio Oliveira (MDB), ex-presidente do Senado. O senador Jean Paul Prates (PT-RN), organizador do evento, afirmou que o "objetivo foi o de aproximar o candidato que é lĂder das pesquisas dos senadores que tĂȘm interesse em ouvi-lo, independentemente de jĂĄ estarem alinhados eleitoralmente com ele para este ano". Os parlamentares, além de ouvir a opinião de Lula sobre seus planos de pré-candidatura, alertaram o petista sobre a abordagem de "temas sensĂveis que podem ser explorados durante a campanha, para propositalmente gerar fake news, distorções, exageros ou desinformações". Na Ășltima semana, o ex-presidente se envolveu em polĂȘmica após se dizer que, apesar do aborto ter que ser uma polĂtica de saĂșde pĂșblica, era "pessoalmente contra" a prĂĄtica.
A presença de caciques do MDB repercutiu pelo fato da legenda jĂĄ ter uma pré-candidata, a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Além de ter lançado um nome próprio, a sigla discute a construção de uma postulação Ășnica de terceira via em parceria com o PSDB e União Brasil. Segundo Paul Prates, nenhuma outra candidatura, que não a de Lula, foi mencionada durante o jantar, "embora genericamente o presidente, sempre com respeito absoluto à candidatura da senadora Simone Tebet, tenha se referido à importância de uma união das forças democrĂĄticas". "[Geraldo] Alckmin, [José] Serra e FHC foram adversĂĄrios, mas nunca inimigos do PT. Eles disputavam eleições conosco em cima do tabuleiro democrĂĄtico e participativo, nunca negando ou menosprezando as bases do Estado de Direito. Agora estamos diante de inimigos da democracia", teria dito Lula durante o encontro.
Após a reunião, no entanto, os próprios membros do MDB, principalmente do Nordeste, disseram considerar Lula como opção e avaliam que insistir no nome de Tebet pode ser um "suicĂdio polĂtico". "HĂĄ uma tendĂȘncia natural de não irmos mais uma vez para um suicĂdio polĂtico. Nós fomos de [Henrique] Meirelles em 2018, quando nós sabĂamos que ele não tinha a menor condição eleitoral, não condição de capacidade, porque [isso] a Simone tem", argumentou o anfitrião EunĂcio Oliveira a jornalistas. "Eu gostaria muito que ela tivesse viabilidade polĂtica e eleitoral", acrescentou o ex-senador, argumentando que o MDB, sendo um partido de base, com maior nĂșmero de vereadores e prefeitos eleitos no Brasil, não pode se dar ao luxo de diminuir ainda mais a bancada da legenda na Câmara. "Nós encurtamos em 50% a bancada com a candidatura [de Meirelles] que nasceu natimorta. Nós temos uma preocupação com o Congresso. É através dele que vocĂȘ afirma e reafirma a democracia."
Nas eleições presidenciais de 2018, Meirelles obteve apenas 1,20% dos votos, terminando em sétimo lugar. Tebet precisa ser aprovada em convenção nacional do MDB para ser candidata do partido à PresidĂȘncia da RepĂșblica. Em entrevista à revista Veja, Renan Calheiros (MDB-AL) disse que 14 dos 27 diretórios estaduais defenderão apoio a Lula. "Para fazer o enfrentamento do Bolsonaro tem que ser com a candidatura do Lula. Não tem nada em segredo. Temos 14 diretórios cujas lideranças preferirão Lula, lideranças que tĂȘm projeto de poder estadual, tĂȘm governo, tĂȘm prefeituras de capitais e tĂȘm uma grande quantidade de prefeituras nos municĂpios." Durante a entrevista, Calheiros repetiu o argumento de EunĂcio Oliveira de que o MDB não pode se dar ao luxo de ver sua bancada encolher ainda mais e se mostrou descrente sobre um possĂvel crescimento da postulação de Tebet.
JP