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Entenda como a guerra na Ucrânia pode impactar a produção no campo paranaense

Por Redação em 13/03/2022 às 07:16:50
Paraná é um dos maiores consumidores de adubos e fertilizantes. Cenário pode encarecer também o valor do trigo. Impactos da guerra no agronegócio

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil é o quarto país que mais depende de fertilizantes importados. Cerca de 85% dos adubos utilizados na agricultura brasileira vêm de outros países.

Na última safra, esse número representou 41,5 milhões de toneladas. Dessas importações, mais de 40% vieram da Rússia ou de Belarus.

Para o Presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, existe um histórico que explica como o Brasil chegou a essa dependência de fertilizantes importados.

País importa 85% dos fertilizantes que utiliza.

Getty Images/BBC

"O abastecimento no mundo era regular. Hoje se produz uma oferta de 260 milhões de toneladas para um consumo de 200 milhões de toneladas. Então era muito favorável você importar fertilizantes inclusive por conta dos preços", afirma Ricken.

Segundo ele, neste momento é importante racionalizar o uso dos fertilizantes de forma geral, mas frisa a importância dos produtos na agricultura brasileira.

"Nós temos que entender que os solos brasileiros são deficientes de adubos de uma forma geral. Então, principalmente no Cerrado, nós precisamos de fertilizantes para ter a produção que nós temos. Se compararmos os nossos ao solo da Argentina ou mesmo da Rússia, são solos bem mais férteis. E esse foi o grande mérito nosso, desenvolver uma tecnologia para produzir em solos inicialmente com a fertilidade muito baixa e bastante ácido", explica Ricken.

Com o início do conflito na Europa, a primeira opção do Governo Federal para tentar contornar a situação foi a procura por outros parceiros comerciais.

“Essa alternativa poderia ser o Canadá, que é o maior produtor mundial, representa uns 30%, 1/3 do que se produz no mundo é do Canadá. Porque nós, internamente, produzimos o equivalente a 6% do nosso consumo. Então, é quase nada”, explica Ricken.

Cenário paranaense

No cenário nacional, o Paraná, que é o segundo maior produtor do agronegócio brasileiro, é também o segundo maior consumidor de adubos e fertilizantes.

De acordo com as Estatísticas do Comércio Exterior Brasileiro (Comex Stat), em 2021, a China, Rússia, Marrocos, Estados Unidos e Arábia Saudita foram os países que mais forneceram esses produtos para o estado.

Fornecimento de adubos e fertilizantes para o Paraná

Impacto na agricultura paranaense

Para o Departamento de Economia Rural do estado, o maior problema não é a possível escassez dos fertilizantes, mas o aumento nos custos que já estavam altos.

“Podemos dizer que nesse momento não há falta nenhuma de fertilizantes. A preocupação pode se dar no início da segunda safra que começa em meados do segundo semestre. Nesse sentido, também existe uma preocupação do preço que os produtores vão pagar uma vez que vai ter que ter uma outra alternativa para vir esses fertilizantes para o nosso estado”, analisa o Chefe do DERAL/SEAB-PR, Salatiel Turra.

Canadá é o maior produtor mundial de fertilizantes e adubos.

Divulgação

O cuidado deve ser com a safra de verão, segundo o Presidente da Ocepar.

“A safra de agora, segunda safra de milho, já está consolidada. A safra de inverno também já tem o abastecimento necessário. Porque o fertilizante você tem que prever com meio ano de antecedência senão não dá para fazer a logística e entregar esse produto para o produtor em tempo hábil. Então, a preocupação é a safra que vai se instalar a partir de outubro. Obviamente que esse abastecimento vai ter que começar a ser feito agora. Então vai ter que montar toda uma estratégia nesse sentido”, diz Ricken.

Impactos em outros produtos

O cenário de incertezas se repete com o trigo. Mesmo o Brasil não dependendo da Rússia, que é uma grande produtora, o conflito pode gerar um aumento de preços do cereal que o estado compra principalmente da Argentina.

Segundo Turra, o Paraná é o maior produtor nacional de trigo. Cerca de 60% do trigo nacional sai de terras paranaenses. No entanto, esse volume não é suficiente para suprir a demanda de quantidade e de qualidade do produto.

Paraná é o maior produtor nacional de trigo.

Reprodução/RPC

"Dada as questões de pH, da qualidade dele, para a produção de uma farinha melhor. É importante destacar também que a Rússia e a Ucrânia, esses países que estão em guerra, eles produzem cerca de 30% da produção mundial de trigo. Nesse sentido, com a falta de logística para entregar o produto, as sanções econômicas que a Rússia está sofrendo, é muito possível que países que importavam desses afetados pela guerra vão ter que achar outros substitutos", explica.

De acordo com o Chefe do DERAL/SEAB-PR, o cenário pode encarecer o cereal que o estado compra da Argentina.

“Eu não diria que possa faltar, mas há uma preocupação muito grande a nível mundial, uma vez que ele é um produto utilizado para base alimentar humana”, avalia Turra.

Rússia e a Ucrânia produzem cerca de 30% da produção mundial de trigo.

Reprodução/RPC

Para a Ocepar, esse cenário em relação ao trigo pode ser visto como uma oportunidade para o incremento interno da produção.

“Nós temos inclusive uma expectativa do aumento do plantio aqui no Brasil. Até pelo valor que a tonelada do trigo já atingiu. Então, vai estimular o produtor que não conseguiu plantar milho segunda safra e as regiões tradicionais de trigo. A expectativa é aumentar até porque pode ser interessante para o produtor, uma alternativa que vá remunerar bem o produtor”, comenta Ricken.

No sentido inverso, as exportações brasileiras também são um ponto de atenção nesse momento, de acordo com especialistas.

Em 2021 o Brasil exportou quase 1,3 bilhão de dólares em produtos do agro para a Rússia. Isso representa pouco mais de 1% das nossas exportações. Segundo dados do Agrostat, de produtos do agro paranaense, foram 214 milhões de dólares para a Rússia, com destaque para as carnes de frango e bovina, que representaram 32,2% das nossas exportações para o país e mais de 105 milhões de dólares, e para o café, com 21,3%, que movimentou mais de 45 milhões de dólares.

No Paraná, 57,2% dos produtos exportados para a Rússia foram de cafés.

Igor do Vale/ Divulgação Café Minamihara

Já para a Ucrânia, o Paraná exportou 27,1 milhões de dólares. A maior parte em café, que representou 57,2% das exportações, e no complexo sucroenergético, que representou 34,7%.

"Esse talvez seja o maior ponto de atenção, principalmente por conta do Mar Negro, ali naquela região, onde há um grande tráfego de mercadorias. Se isso prevalecer, a guerra levar um prazo maior, talvez aí sim há um risco maior. Algumas seguradoras vão onerar muito. Guerra é guerra. A gente não sabe todas as consequências", expõe o Presidente da Ocepar.

Os reflexos da guerra também se transformam em preocupação com o setor de combustíveis. O aumento do preço pode impactar todo o agronegócio até chegar às prateleiras dos mercados. O Chefe do DERAL/SEAB-PR explica que os combustíveis estão hoje em todos os níveis, desde a produção até a parte logística.

“Se você aumenta o preço dessa variável, você tem uma influência significativa em toda a cadeia. Seja ela na produção animal, florestal ou vegetal, porque impacta diretamente. Traduzindo isso, o consumidor final vai pagar mais por aquele produto”, explica Turra.

Ele acrescenta que essa situação se soma aos impactos já conhecidos da estiagem e da alta do dólar.

Estiagem aumenta perdas no campo paranaense.

Reprodução

“Todos esses fatores favorecem para que a gente traga ainda um cenário não tão significativo, de estagnação do crescimento e do desenvolvimento das economias municipais e locais”, afirma.

O Presidente da Ocepar complementa com a análise de que a formação de preços está relacionada à expectativa, pede cautela e indica a importância de um planejamento conjunto.

"Eu acho que nesse momento a gente tem que ser muito conservador nisso. Obviamente que tudo isso tem que ser bem planejado e agora vai ser como nunca o planejamento a nível local, regional, nacional e internacional, vão ser fundamentais. Tomara que dure o menor tempo possível e que a diplomacia prevaleça", reflete.

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Fonte: G1

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