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De onde vem o que eu como: gergelim é uma das oleaginosas mais antigas usadas pelo homem

Por Redação em 17/01/2022 às 07:05:37
Existem registros de uso do óleo e das sementes nos países asiáticos e africanos desde 4.300 anos antes de Cristo. Sementes também podem ajudar no rendimento sexual do homem e da mulher. Gergelim é uma das oleaginosas mais antigas usadas pelo homem

Ketut Subiyanto no Pexels

"Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles, num pão com... ". Quem foi criança nos anos 80 completou a frase sem dificuldade. O gergelim foi eternizado no jingle de um famoso sanduíche de fast-food no fim do século passado, mas é uma das oleaginosas mais antigas usadas pelo homem.

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Desse grupo de alimentos também fazem parte o amendoim, a castanha, a soja, entre outros.

No caso do gergelim, existem registros que demonstram que países asiáticos e africanos já usavam o óleo e as sementes 4.300 anos antes de Cristo. Entre os benefícios conhecidos dessa oleaginosa está ajudar no desempenho sexual e no combate ao estresse (leia mais abaixo).

Bem antes do hambúrguer

A cultura do gergelim foi importante na região da Antiga Pérsia, aponta o manual “500 perguntas e respostas sobre gergelim” da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Segundo a pesquisa, o cultivo apareceu pela primeira vez nas regiões da Malásia e da Indonésia. A partir da Etiópia, muito provavelmente, os plantios se expandiram para o Sudão, passando para o Egito e posteriormente para a Índia, onde surgiram diversas variedades.

Depois disso, o gergelim teria se expandido para a China e o Japão, seguindo para os países Mediterrâneos, o Norte da África e para a região da Mesopotâmia.

Sua chegada ao Brasil aconteceu muito tempo depois, no século 16, com os portugueses, que teriam trazido a semente das colônias indianas.

Apesar de ter chegado cedo ao país, só agora a cultura do gergelim tem realmente se expandido. Entre 2010 e 2020, sua produção cresceu em 20 vezes.

Produção de gergelim cresceu em 20 vezes em 10 anos.

Arte/ g1

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Mercado em expansão

O setor do gergelim tem se tornado atrativo para os produtores, principalmente quando se trata do mercado internacional, afirma a pesquisadora da Embrapa Algodão Nair Arriel, que coordena o projeto de melhoramento do gergelim para a diversificação dos sistemas de produção e dos mercados para o agronegócio.

Além da popularidade do gergelim na África e na Ásia, onde é muito comum nas culinárias, o custo de produção é baixo, a planta é resistente à seca e é uma cultura de segunda safra, que pode funcionar como um substituto para o milho, por exemplo, sendo chamado de "cultura potencial", afirma Nair

O vegetal é uma espécie bastante conhecida entre os brasileiros, principalmente na região Nordeste, que planta e consome como tempero. Mas, quando analisando comercialmente, a expansão só aconteceu de 3 anos para cá, relata.

A pesquisadora também acredita que, por a agricultura brasileira vir diversificando os seus cultivos, o gergelim é uma boa opção para a rotação com a soja, também pelo seu desempenho na segunda safra.

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Não é só pão

O pão de gergelim, popular nos hambúrgueres, é a forma mais conhecida de consumo da oleaginosa e, realmente, segundo Nair, a panificação é o maior destino das sementes no Brasil. Ainda assim, existem outros usos para ela.

A semente em si pode ser consumida como tempero. Seu óleo, por exemplo, é um ótimo substituto do de soja, além de ser benéfico em produtos cosméticos e farmacêuticos, afirma Nair.

De acordo com a pesquisadora, o gergelim é rico em proteínas, vitaminas, e tem propriedades antioxidantes que combatem os radicais livres.

Existem ainda benefícios para quem sofre com reumatismo e osteoporose, devido à presença de cálcio. Quem tem doenças nervosas, como o estresse, perda de memória, melancolia e insônia, também pode tirar vantagem do gergelim, pois ele é rico em vitamina E.

A vitamina E também tem outra vantagem, faz com que o gergelim seja considerado um restaurador da vitalidade para quem sofre com a falta de rendimento ou de capacidade sexual, tanto o homem quanto a mulher.

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Não colhe o que plantou

Um dos grandes problemas encontrados hoje nas lavouras de gergelim é a perda de sementes durante o período da colheita. O prejuízo pode chegar a mais de 50% de todo o plantio, aponta o pesquisador sobre o tema e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Diego Fiorese.

Isso acontece por causa da própria estrutura da planta do gergelim. As sementes nascem dentro das chamadas cápsulas, que são do tipo deiscentes. Isso significa que, para a sua proliferação na natureza, as cápsulas com as sementes se abrem e o gergelim cai no chão.

Contudo, na agricultura, isso é um problema, pois essas sementes, que seriam comercializadas, são perdidas.

“É como se você tivesse 1.000 kg por hectare e, na hora que você vai colher, você colhe 400 kg, 500 kg. Uma boa parte você perde, passando, inclusive, da metade”, exemplifica o pesquisador.

Cápsula deiscente aberta com as sementes de gergelim

Diego Fiorese e Gabriel Zanelatto

Fiorese explica que existem duas formas de combater esse problema. A primeira é a genética, desenvolvendo cultivares que tenham as cápsulas fechadas, que seriam as chamadas indeiscentes, ou as que não são nem totalmente abertas, nem fechadas, as semideiscentes.

O segundo passo para resolver a perda de sementes deve vir dos fabricantes de máquinas, acredita o pesquisador.

“Quando você faz a colheita do milho, você usa a plataforma despigadora, que retira a espiga do milho. É uma plataforma completamente diferente, dedicada à cultura", compara.

"No caso do gergelim, você tem uma plataforma de corte, mas ela precisa ser estudada e trabalhada para o gergelim, pensando em evitar que esses grãos que estão lá na planta de forma exposta caiam”, completa.

Apesar dessa questão, a produtividade brasileira do gergelim é superior em quase 50% à mundial, diz Nair.

Grãos de gergelim caídos sob a palha

Diego Fiorese e Gabriel Zanelatto

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'Esgotador de solos'

De modo geral, existem três tipos de gergelim plantados no Brasil e cada um possui as suas variedades. São eles o branco, o preto e o marrom - este último usado apenas em pesquisas, relata Fiorese.

De acordo com o professor, o tipo mais popular no Brasil é o branco, enquanto o preto é mais comum na culinária japonesa.

Independente dessas variações, o gergelim é uma cultura que se dá muito bem em períodos de seca, sendo a sua temperatura ideal 27°C e precisando de apenas cerca de 600 ml de chuva.

Por isso, ele se dá muito bem na região do Mato Grosso, estado que se destaca no plantio da oleaginosa. Só o município de Canarana possuía 100 mil hectares de gergelim em 2020, ano em que o Brasil cultivou 170 mil hectares, segundo estimativa do sindicato rural local.

Por outro lado, em período chuvoso o gergelim sofre perda de qualidade, explica Fiorese.

A oleaginosa é considerada uma planta “esgotadora de solos”. Isso porque extrai bastante nitrogênio, fósforo e potássio para desenvolver os frutos e devolve pouco quando se compara com outras culturas.

O amendoim, por exemplo, retorna os elementos pela sua folhagem, já a do gergelim é arrancada da lavoura junto com as sementes, diz Nair.

Mas, apesar do termo, ele não deixa a terra infrutífera, ressalta a pesquisadora.

Uma questão nas lavouras de gergelim é a escassez de agrotóxicos especializados a ele, que sejam autorizados pelo Ministério da Agricultura. Fiorese diz que tem observado muita presença de erva daninha nos plantios, exatamente por esse problema dificultar o seu controle.

Existem três tipos de gergelim plantados no Brasil: o branco, o preto e o marrom

Ivan Samkov no Pexels

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Faltam dados

Apesar de o gergelim estar em crescimento no Brasil, o país não possui tradição de coleta de dados da cultura.

Até 10 anos atrás, não havia um levantamento estatístico sobre o gergelim, diz Nair.

“Nós não tínhamos dados de instituições oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que nos garantissem quais eram as áreas plantadas, quanto era a produção, a comercialização... Porque era uma área pequena”, diz.

A pesquisadora conta que, devido à escassez de dados, algumas regiões produtoras acabaram decidindo fazer seu próprio levantamento.

Para Fiorese, o problema não é tanto de defasagem, pois empresas e instituições fazem as coletas, mas sim de organização dos dados. “É como se um tivesse o pé, o outro a perna, o outro o dedo. O "Frankenstein" está todo esparramado, precisa pegar ele, juntar e fazer um só“, compara.

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Fonte: G1

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