A inflação oficial no país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 1,16% em setembro na comparação com agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas a inflação que os consumidores "sentem no bolso" é bem diferente das estatísticas divulgadas mês a mês pelo órgão de pesquisas. Isso porque, enquanto no IPCA é avaliada uma cesta de mais de 300 produtos e serviços no país, a inflação pessoal depende de fatores como hábitos de consumo, renda e número de pessoas que moram na mesma casa. Se o que o consumidor costuma comprar não subir mais que a média, o impacto para ele será menor em comparação com aquele que está consumindo justamente a cesta de produtos e serviços com maior variação de preços.As famílias de menor renda, por exemplo, dedicam parcelas maiores dos gastos à alimentação. As com maior renda reservam boa parte do orçamento para educação, saúde e lazer. Quem tem carro, por exemplo, vai sentir mais no bolso a alta da gasolina. Quem come mais carne vai sentir mais se esse produto subir."A inflação é percebida de maneira diferente de acordo com a quantidade de pessoas e da configuração da família, além da renda que determina a cesta e das preferências do consumo. Esse tripé faz com que as pessoas sintam a inflação de forma diferente", explica André Braz, o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da FGV-Ibre."É por isso que a inflação tem um peso diferente no dia a dia de cada um. Ela pode ser percebida através dos reajustes anuais nas mensalidades escolares, nos produtos mais caros no supermercado e no aumento nas contas de consumo, como água e luz, por exemplo", acrescenta a educadora em finanças pessoais, Carol Stange.Por isso, os dois especialistas afirmam que é importante os consumidores serem capazes de calcular a sua 'inflação pessoal'.
Fazendo as contas
Simulação de gastos mensais para cálculo da inflação pessoal
Simulação de gastos anual para controle de gastos
Nas duas simulações, a variação de 9,8% no total de gastos é bem maior que a do IPCA. Nos gastos mensais, enquanto a inflação oficial de agosto para setembro ficou em 1,16%, no acumulado de janeiro a setembro foi de 6,9%.Braz explica que no IPCA entra a média de tudo que o IBGE avalia na pesquisa. Quando vai para as famílias, é a inflação real, que depende dos hábitos de consumo e do nível de renda de cada uma. "Quando a gente personaliza, a depender do desafio de cada família, ela pode ser muito maior que o índice oficial, que é uma informação estatística para orientar a política monetária", observa.O economista explica que, dependendo da família, a inflação de um mês pode ter a mesma variação do IPCA acumulado em 12 meses, assim como é possível encontrar inflação real menor que a oficial, porque depende da renda, dos desafios da família e dos hábitos de consumo. Famílias de baixa renda sentem mais a inflaçãoQuando se analisa a inflação para famílias de baixa renda, devido à prioridade dada para itens essenciais como alimentos e contas de água e luz, que estão entre os que mais têm pressionado o IPCA, esse grupo é o que mais sente a alta dos preços. Nesse caso, a divisão das despesas para controle dos gastos será distribuída por menos grupos de despesa, já que a população de baixa renda costuma gastar seu orçamento principalmente em alimentação, habitação, transportes e comunicação. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os mais pobres gastam cerca de 30% do orçamento com alimentos, enquanto as famílias com renda mais alta gastam em torno de 10%. Com um orçamento maior, parte do dinheiro das famílias mais ricas vai para gastos que famílias mais pobres não têm acesso, como plano de saúde e mensalidade escolar.Anotar gastos ajuda no controle do orçamentoDe acordo com Braz, o consumidor pode anotar os gastos em um caderno ou numa planilha de Excel para monitorar o orçamento e a evolução dos custos. "As pessoas precisam controlar os gastos e ter visibilidade e isso só acontece com a anotação do que está sendo consumido. Quanto maior a precisão da anotação, mais a família tende a fazer um bom controle do seu orçamento", diz."Quando não sabemos as razões do aumento do custo de vida, temos a percepção de que o dinheiro escorre por entre os dedos e não percebemos exatamente para onde ele está indo. Ao longo do tempo, estamos empobrecendo sem entender exatamente como isso está acontecendo", alerta Carol Stange.De acordo com Braz, fazer a variação dos gastos é descobrir onde estão os gargalos no orçamento, ou seja, onde se gasta mais, se aquilo é normal ou não. "Muita gente tem conta em débito automático e não confere. Pode ser que tenha um vazamento e a pessoa está pagando por algo que nem está consumindo", afirma.Outra dica do especialista é deixar as contas de consumo como água e luz visíveis para toda a família ver e conscientizá-la da importância de economizar."O que importa é saber bem onde você está gastando seu dinheiro e ter tudo sob controle. Ao fazer um bom inventário dos seus gastos, você diminui as despesas que estão mais altas e faz uma boa gestão do orçamento familiar", aponta o coordenador da FGV-Ibre."É importante o consumidor manter sua inflação pessoal sob controle, com vigilância sobre seus gastos e hábitos de consumo. Para manter a inflação pessoal em níveis reduzidos, é preciso entender que os gastos devem aumentar apenas se a receita total acompanhar esse aumento", conclui Carol Stange.
G1