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Banca ou loja de conveniência? No Dia do Jornaleiro, conheça histórias de quem se adaptou para resistir à queda nas vendas

Por Redação em 30/09/2021 às 05:11:38
Santo Vanzillotta vendia jornais e revistas para Clarice Lispector e sobreviveu à crise da pandemia e a 22 dias intubado com Covid. Dona Rosa incluiu pães no vasto cardápio da banca e driblou a queda no faturamento.


Em uma banca grande, localizada na Praça Saens Peña, na Tijuca, tem de tudo: cerveja, refrigerantes, sucos, cigarros, brinquedos, carregadores de celular, livros, incensos. Tem jornal e revista também, mas esses itens já não são destaque.

A mudança no perfil de consumo de notícias, principalmente devido à internet, estabelecimentos como a Banca do Mario têm vira pequenas lojas de conveniência. Assim, o ofício de jornaleiro, comemorado neste dia 30, vem se transformando.

Mario Vanzilotta, que dá nome à banca, é um italiano de 81 anos, naturalizado brasileiro. Seu tio era capataz de um grande grupo de jornaleiros e Mario acabou assumindo o ofício, que exerce desde 1968.

Trabalhou em várias bancas, mas se estabeleceu há décadas na mais conhecida praça da Tijuca.

"Mas essa banca não era como você está vendo, era uma banca pequenininha", diz ele.

O estabelecimento atual é amplo, com muitos títulos nacionais e importados difíceis de achar. Mas o catálogo de revistas e jornais variados, sozinho, não segura mais as contas.

De 5 anos para cá, veio a decisão de incorporar outros itens à banca. "Antes só tinha revista e jornal, aí coloquei cigarro, item de tabacaria, que vendem bem, bebidas. Para sobreviver, tem que se adaptar", afirma ele, que, conhecido na área, cumprimenta muita gente que passa por ali.

Nos tempos áureos, as vendas de jornais chegavam aos milhares.

"Eu me lembro de uma data específica, quando houve o acidente com o Bateau Mouche, naquele dia eu pedi três vezes aumento nos jornais, vendi mais de 3.500 exemplares", conta seu Mario, que hoje vende cerca de 1% disso, mesmo em dias marcantes. "Hoje, eu vendo uns 30 exemplares de um dos maiores jornais. Quem ainda compra jornal impresso tem mais idade e gosta de manusear o papel, mas são poucos."

O consumo de revistas em geral também caiu bastante, segundo ele. "Eu vendia 600 cópias de revista de famosos, 400 de revista feminina, hoje vendo 10, 20", lamenta.

Outro item clássico de bancas, porém, não perdeu o prestígio por ali: "Uma coisa que vende bem aqui é gibi", conta.

O jornaleiro de Clarice Lispector


Há 52 anos trabalhando na mesma banca, Santo Vanzillotta teve como cliente famosa a escritora Clarice Lispector — Foto: Elisa Soupin
Há 52 anos trabalhando na mesma banca, Santo Vanzillotta teve como cliente famosa a escritora Clarice Lispector


Apesar do sobrenome, Santo Vanzillotta não tem parentesco com Mario — mas, como ele, mantém uma banca de jornais há décadas e vem de família italiana, apesar de nascido no Brasil. Tem 65 anos de idade e 52 de profissão.

"A banca era do meu pai. Durante 28 anos, funcionou 24 horas, mas por causa da violência passou a fechar mais cedo", conta.

Por lá, ele, que vendia em média 400 exemplares de determinado jornal diariamente, agora vende em torno de 12. No tempo em que a reportagem do g1 esteve na banca, vários clientes entraram, mas nenhum comprou jornal ou revista.

"Hoje em dia o que mais vende é refrigerante, cerveja, cigarro, bandeira do Brasil, carregador, brinquedo, bolsa. Jornal e revista ficou por último. A internet teve muito impacto, as pessoas continuam lendo notícias, mas agora assinam online."

Em abril de 2020, Santo foi infectado pela Covid e passou 68 dias internado, 22 deles intubado.

"A banca ficou quatro meses fechada. Eu nasci de novo", conta.

O jornaleiro é do tipo popular, que conhece todo mundo. Fala com um, brinca com outro. Entre os muitos compradores de anos, uma se destaca: a escritora Clarice Lispector, que morava no Leme, era cliente cativa da banca.

"Eu a conheci bem novinho, menino ainda. Ela lia o Correio da Manhã, o Diário de Notícias e o Jornal do Brasil, comprava os três todos os dias. Gostava também da Revista Cruzeiro, e de uma revista chamada A Cigarra, de moda. Era meio doida, sabe? Meu pai dizia pra mim: "Trata ela bem". Aos domingos, saía um jornal chamado Gil Brandão, de moda também, tinha que guardar para ela, senão ela ficava chateada. Tinha dia que era sorridente, dia que não. Era muito bonita, sempre bem arrumada, não esqueço", contra sobre Clarice Lispector.

Dentre coisas que continuam vendendo bem na banca, ele destaca livros de colorir. "Isso as crianças gostam mesmo. Mas outras coisas, já se acostumaram a ver no celular", diz.

Jornal, pão e bolinho


Com baixa nas vendas por causa da pandemia, a jornaleira Rosa Santoro passou a vender pães e bolos em sua banca — Foto: Elisa SoupinCom baixa nas vendas por causa da pandemia, a jornaleira Rosa Santoro passou a vender pães e bolos em sua banca


A banca de dona Rosa Santoro, no bairro de Piedade, na Zona Norte, abre às 6h e fecha às 12h. A proximidade com o Morro do Urubu é a razão para fechar mais cedo.

"Volta e meia tem algum problema aqui por perto, então melhor não arriscar", diz ela que é filha de jornaleiro e, viúva, também foi casada com um jornaleiro — o ofício tem a característica de negócio familiar.

Ela trabalha no ponto da rua Ana Quintão há 42 de seus 60 anos.

"Há uns 8, 7 anos, depois que a internet tomou conta, muita coisa mudou. Mas ainda tem leitor que faz questão de comprar jornal. Tenho percebido avós comprando gibis para comprar para os netos, o que acho muito legal."

Testemunha ocular também da história dos moradores do bairro, já viu muita gente crescer, casar e se separar.

"Tem cliente que chega me contando que vai casar, dou parabéns, mas sei que não vai durar", brinca.

Rosa conta que viu a venda de jornais e revistas cair muito nos últimos anos – e despencar na pandemia. Foi a hora de se reinventar para aumentar a renda.

"A banca estava muito parada, aí coloquei uns pães e uns bolos aqui para vender. Pego em uma padaria que fornece exclusivamente para mim", conta, sobre a estratégia que diz ter dado certo.

Durante o período de lockdown, um item clássico das bancas voltou a bombar por ali:

"Vendi muita palavra cruzada, as pessoas sem fazer nada, né, aí compravam palavra cruzada, até porque os médicos falam que é bom pra cabeça".

Fonte: G1

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