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Governo Bolsonaro e as vacinas contra a Covid: veja a cronologia e entenda as polêmicas

Por Redação em 17/07/2021 às 08:26:58
Brasil tem contrato assinado para receber doses do Covax Facility, CoronaVac, Pfizer, Janssen, Sputnik e AstraZeneca. Negociações com outros dois fabricantes também tiveram início, mas não avançaram por suspeitas de irregularidades e até pedido de propina. Enfermeira prepara dose de vacina contra a Covid

Por diversos meses, o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) insistiu em um discurso contra a vacina de Covid e colocou obstáculos para a assinatura de contratos para a aquisição do imunizante.

Governo Bolsonaro agiu contra vacinas que respondem pela maioria das doses aplicadas, aponta CPI

Quando foi lançado o consórcio Covax Facility, liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o país optou pela cota mínima de doses, que daria para imunizar apenas 10% da população brasileira.

O governo assinou em julho de 2020 um acordo com a AstraZeneca para a produção de vacina pela Fiocruz. Depois idas e vindas, assinou contrato em janeiro de 2021 para a aquisição da CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan. Em seguida, foram compradas doses de mais três fabricantes: Pfizer, Janssen e Sputnik.

O Ministério da Saúde começou a discutir a negociação de outras duas vacinas, Covaxin e CanSino, mas as tratativas não avançaram por motivos diversos, incluindo suspeitas de irregularidade e até mesmo pedido de propina.

Entre outros percalços, as negociações por vacinas enfrentaram os seguintes problemas:

CoronaVac – O Ministério da Saúde chegou a anunciar a compra de 46 milhões de doses, mas voltou atrás após Bolsonaro mandar cancelar o negócio. O contrato foi assinado três meses depois. Em paralelo, veio à tona que Pazuello negociou a Coronavac com uma empresa intermediária por um valor quase o triplo do pago ao Butantan.

Pfizer – Ofertas de vacina ficaram meses sem resposta do governo, que considerava o contrato abusivo.

Covax Facility – O Brasil optou pela cota mínima de 10% de doses no consórcio internacional liderado pela Organização Mundial de Saúde.

AstraZeneca – Atritos do governo brasileiro com a China causaram atraso no recebimento de insumos para a fabricação da vacina pela Fiocruz. CPI da Covid investiga negociação paralela com o Ministério da Saúde em que teria havido um pedido de propina.

Sputnik – O governo assinou contrato depois que governos estaduais fizeram compras separadas.

Covaxin – A negociação até a assinatura do contrato foi mais rápida em comparação a outras vacinas. Servidor do Ministério da Saúde relata ter sofrido pressão para aprovar a importação e ter contado a Bolsonaro sobre as irregularidades. STF autorizou abertura de inquérito para analisar se Bolsonaro prevaricou ao não mandar investigar.

CanSino – Foi assinada uma intenção de compra prevendo US$ 17 por dose. Negócio foi intermediado por uma empresa investigada e não avançou.

Neste sábado (17), o início da vacinação completa 6 meses. Até sexta, 15,73% da população havia sido totalmente imunizada (tomou as duas doses ou a vacina de dose única). Veja abaixo a cronologia do governo Bolsonaro e as vacinas contra a Covid:

No dia 26, é confirmado o primeiro caso de Covid no Brasil, cerca de um mês após a cidade chinesa Wuhan, epicentro da doença, já estar vivendo um surto e haver registro de casos em vários outros países. Ao redor do mundo, laboratórios começam a dar o pontapé inicial nas pesquisas de uma vacina contra o novo vírus detectado na China.

No dia 6, Bolsonaro diz que, ainda que "o problema possa se agravar, não há motivo para pânico". No dia 11, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declara que o mundo está vivendo uma pandemia de Covid. No dia 12, é registrada a primeira morte por Covid no Brasil. Mesmo diante do aumento de casos e mortes no país, Bolsonaro minimiza a doença e afirma, no dia 20, que não seria uma "gripezinha" que iria derrubá-lo. No dia 24, ele volta a chamar a Covid de "gripezinha" ao dizer que, pelo seu "histórico de atleta", se fosse contaminado, não desenvolveria a forma grave da doença.

No dia 16, Bolsonaro demite Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. Nas semanas anteriores, eles tiveram divergências públicas em razão das estratégias para conter o contágio da Covid. Mandetta defendia medidas como isolamento social para toda a população. Ele foi substituído por Nelson Teich, que tomou posse no dia 17. No dia 28, quando o Brasil passava de 5 mil mortos pela doença, Bolsonaro, ao ser questionado, responde: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?".

As medidas de combate à Covid também foram motivo de enfrentamento entre Bolsonaro e governadores. No dia 14, o presidente critica mais uma vez as medidas de isolamento adotadas por estados e recomendadas por autoridades sanitárias. Os atritos são principalmente com o governador João Doria (PSDB), de São Paulo, potencial adversário dele nas eleições presidenciais de 2022.

No dia 15, menos de um mês após assumir o cargo, Teich deixa o Ministério da Saúde. Assim como Mandetta, ele também divergiu de Bolsonaro em relação às ações contra a Covid. Até então secretário-executivo da pasta, Eduardo Pazuello, mais alinhado com o presidente, assume como ministro interino.

No dia 27, o Ministério da Saúde anuncia uma parceria que prevê a transferência de tecnologia da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, do Reino Unido, e a farmacêutica AstraZeneca para que a Fiocruz produza a vacina no Brasil. O acordo também preve? a compra de lotes da vacina.

No dia 30, o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, faz uma primeira oferta de vacinas CoronaVac ao governo federal com 60 milhões a serem entregues ainda em 2020 e mais 100 milhões em 2021. A vacina é desenvolvida em parceria com um laboratório da China, país alvo de críticas por parte do governo federal.

Ainda no dia 30, Bolsonaro ironiza a CoronaVac de forma velada, exaltando o acordo feito com a Universidade de Oxford. Ele diz que o imunizante comprado não era "daquele outro país", em referência à China. O Palácio do Planalto não responde à oferta do Butantan. A Pfizer também inicia os primeiros contatos com o governo federal.

No dia 31, o governo e a AstraZeneca assinam documento que dará base para o acordo de parceria na elaboração da vacina.

No dia 6, Bolsonaro assina uma medida provisória que libera R$ 1,9 bilhão para viabilizar a produção da AstraZeneca pela Fiocruz, conforme acordo anunciado no fim de julho. No dia 15, a Pfizer faz a primeira oferta de vacina ao Brasil. As propostas incluíam entrega de doses ainda em 2020, mas não há resposta do governo. No dia 18, o Butantan reitera a sua proposta, mas continua sem retorno.

Bolsonaro mantém seu discurso contra a vacina e afirma no dia 1º: "Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina". Dias depois, no dia 12, a Pfizer cobra mais uma vez o governo sobre uma oferta de vacinas feita no mês anterior. Há registro de que a carta chegou no gabinete de Bolsonaro no dia 14. No dia 16, Pazuello é efetivado ministro da Saúde. No dia 25, o governo informa ao consórcio Covax Facility, da OMC, que iria optar pela cota mínima de vacinas, suficiente para imunizar apenas 10% da população brasileira.

No dia 7, o Butantan envia para o governo federal o terceiro ofício com uma proposta, mas continua sem resposta. Ainda no dia 7, o então secretário-executivo da Saúde, Élcio Franco, diz que o governo optou pela cota mínima do consórcio Covax Facility, suficiente para só 10% da população brasileira. No dia 19, Bolsonaro diz que a vacina contra a Covid "não será obrigatória". No dia 20, Pazuello anuncia em reunião com governadores que comprará 46 milhões de doses da CoronaVac.

No dia seguinte (21), Bolsonaro diz que já tinha mandado cancelar qualquer compra e depois que não irá comprar "a vacina da China". No dia 22, Pazuello recebe a visita de Bolsonaro e grava um vídeo em que declara: "É simples assim. Um manda e o outro obedece". No dia 28, reitera que não vai comprar a Coronavac e, dirigindo-se a Doria, diz: "Eu que sou governo, dinheiro não é meu, é do povo, não vai comprar tua vacina. Procura outro para comprar tua vacina".

Em depoimento à CPI da Covid no Senado, já em maio de 2021, Pazuello nega ter recebido ordem para suspender a aquisição da CoronaVac. Dimas Covas, diretor do Butantan, no entanto, afirma aos senadores que, sim, as negociações foram interrompidas após as falas de Bolsonaro. Segundo ele, o atraso impediu que 100 milhões de doses da vacina fossem entregues até maio de 2021.

Documentos do Ministério da Saúde sobre a estratégia de comunicação na pandemia mostram que o governo federal não queria o "protagonismo" de Doria no calendário de vacinação. Na época, a pasta só tinha contrato com a AstraZeneca e o Covax Facility, mas sem data de quando as doses chegariam.

No dia 9, o então secretário de comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, toma conhecimento da carta da Pfizer sobre oferta de vacinas que está há dois meses sem resposta e entra em contato com a farmacêutica. Ele tem reuniões com representantes da empresa. Uma delas teve a participação do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, filho do presidente, e do assessor especial da Presidência Filipe Martins.

No dia 19, um lote com as primeiras 120 mil doses da vacina CoronaVac chega a São Paulo trazido da China. No dia 20, o Ministério da Saúde faz a primeira reunião para negociar a compra de uma outra vacina, a Covaxin, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. No dia 26, Bolsonaro diz que não há vídeo ou áudio em que ele tenha chamado a Covid de "gripezinha".

No dia 14, Bolsonaro defende exigir termo de responsabilidade de quem for vacinado no Brasil, medida criticada por especialistas.

No dia 17, Bolsonaro diz que não tomará vacina e que, se a pessoa tomar e "virar jacaré", "o problema é dela", ao comentar cláusula da Pfizer de que não se responsabilizaria por eventual efeito colateral. No dia 19, quando o país somava 186.365 mortes por Covid, Bolsonaro afirma, em vídeo publicado nas redes sociais, que a pandemia estava acabando e que a "pressa da vacina não se justifica".

No dia 28, o presidente diz que são os laboratórios que deveriam ter interesse em vender vacina para o Brasil.

No dia 6, Bolsonaro edita uma medida provisória dando condições para a compra de vacinas sem licitação. Em dezembro, o governo tinha discutido uma minuta com uma cláusula específica para contemplar as vacinas da Pfizer e da Janssen, mas desistiu.

Ainda no dia 6, uma comitiva representando clínicas particulares vai à Índia negociar a compra de uma vacina chamada Covaxin, produzida pelo laboratório Bharat Biotech. Um dos integrantes deste grupo era o presidente da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, representante no Brasil da Bharat. Na Índia, ele é recebido pelo embaixador do Brasil em Nova Délhi.

No dia 7, o Ministério da Saúde assina contrato com o Instituto Butantan para a aquisição de 46 milhões de doses da CoronaVac. No dia 8, Bolsonaro envia carta ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e fala do interesse do governo brasileiro em comprar a Covaxin. Foi o único imunizante de que se tem notícia que o presidente interveio pessoalmente. No dia 12, o representante da Precisa tem uma reunião no ministério. No mesmo dia, segundo a "Folha de S. Paulo", a Bharat Biotech envia um ofício à pasta com uma oferta de vacinas.

No dia 17, a Anvisa autoriza o uso emergencial das vacinas CoronaVac e da AstraZeneca. No mesmo dia, o governo de São Paulo aplica a primeira dose de vacina no Brasil em uma enfermeira paulista. No dia 18, Bolsonaro diz que o imunizante do Butantan "é do Brasil, não é de nenhum governador não".

No dia 22, Bolsonaro volta a questionar a eficácia da vacina e diz que "não há nada comprovado cientificamente sobre essa vacina aí".

No dia 3, a Anvisa decide que o estudo de fase 3 (última etapa para comprovar eficácia) no Brasil deixa de ser obrigatório para uso emergencial, o que poderia beneficiar a aprovação da russa Sputnik e a indiana Covaxin.

Ainda no dia 3, o deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, apresenta emenda para flexibilizar a medida provisória sobre a compra de vacinas, facilitando a aquisição da Covaxin. O deputado também propôs um projeto de decreto legislativo para derrubar a exigência da realização da fase 3 de ensaios clínicos no país como condição para autorização emergencial de vacinas. No dia 4, Barros ameaça "enquadrar" a Anvisa se a agência não eliminasse exigências para aprovar vacinas.

No dia 16, o Ministério da Saúde assina contrato com o Butantan para a compra de mais 54 milhões de doses da CoronaVac.

No dia 22, o governo empenha R$ 1,6 bilhão para a aquisição da Covaxin, ou seja, já reserva a verba para pagar o contrato.

No dia 23, a vacina da Pfizer é a 1ª contra a Covid a obter registro definitivo no Brasil. Projeto com a emenda de Barros é aprovado na Câmara. Projeto passa no Senado em março e é sancionado por Bolsonaro em 10 de março.

No dia 25, o Ministério da Saúde assina contrato para aquisição de 20 milhões de doses da Covaxin. Naquele momento, não havia autorização da Anvisa para uso da vacina no Brasil. Publicamente, o presidente Bolsonaro dizia que só autorizaria a compra de vacinas aprovadas pela agência. Mesmo assim, o contrato foi assinado.

Também no dia 25, Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da Davati Medical Supply, se reúne com o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, em um restaurante de Brasília.

Lá, Dias teria pedido propina de US$ 1 por dose de vacina para o ministério assinar contrato com a empresa, que oferecia 400 milhões de doses da AstraZeneca. Segundo Dominghetti, quem o apresentou a Dias foi o tenente-coronel Marcelo Blanco.

A essa altura, vacinas da AstraZeneca já tinham sido compradas pelo governo diretamente do fabricante. Além disso, a farmacêutica afirma não ter qualquer intermediário no Brasil. Todos os convênios são realizados diretamente via Fiocruz e governo federal.

No dia 26, a Davati envia proposta ao Ministério da Saúde, e a pasta pede reunião para o mesmo dia.

No dia 2, Bolsonaro sanciona a lei que autoriza o Executivo federal a aderir ao consórcio Covax Facility.

No dia 3, o Brasil fecha contrato com a Pfizer de 100 milhões de doses e com a Janssen de 38 milhões de doses. No dia 4, Bolsonaro diz que 'tem idiota' que pede compra de vacina: "Só se for na casa da tua mãe".

No dia 6, o Ministério da Saúde pede à Precisa Medicamentos a aquisição de mais 50 milhões de doses da Covaxin. Ainda não havia autorização da Anvisa.

Por volta dessa época, há uma mudança perceptível no discurso dos filhos políticos de Bolsonaro nas redes sociais a favor das vacinas. No dia 10, o senador Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho mais velho do presidente, posta uma foto de seu pai com o texto "nossa arma é a vacina". Nesse mesmo dia, Bolsonaro defende a vacinação em um evento no Palácio do Planalto.

No dia 11, em um encontro fora da agenda, o então ministro Pazuello se reúne com um grupo de intermediadores para negociar a compra de 30 milhões de doses da Coronavac quase pelo triplo do preço negociado pelo Instituto Butantan.

No dia 12, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publica uma imagem do Zé Gotinha, personagem-símbolo da vacinação, com seringa em formato de fuzil.

Também no dia 12, o Ministério da Saúde assina contrato para compra de 10 milhões de doses da Sputnik V, desenvolvida pelo instituto russo Gamaleya. O anúncio do ministério ocorre um dia após governadores e prefeitos também anunciarem seus próprios acordos para fornecimento de doses.

No dia 15, são enviados ofícios ao presidente da Precisa Medicamentos e ao diretor-presidente da Bharat Biotech solicitando a antecipação do máximo possível de doses ao Brasil. Nesse mesmo dia, Pazuello dá uma entrevista à imprensa dizendo que vai sair do cargo.

No dia 20, Bolsonaro se reúne com o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda, e seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), e ouve sobre as suspeitas em torno do contrato da Covaxin. Segundo o deputado, Bolsonaro cita o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como envolvido no esquema e promete acionar a PF.

O servidor afirmou ter levado ao presidente um recibo chamado invoice, que é uma fatura necessária para a importação. A invoice pedia o pagamento antecipado de 3 milhões de doses da Covaxin, o que não estava previsto no contrato, no valor de US$ 45 milhões, o equivalente a R$ 222 milhões.

No dia 22, segundo o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), Bolsonaro pediu que Pazuello apurasse eventuais irregularidades com a Covaxin. No dia 23, o governo diz que o Ministério da Saúde mandou corrigir o documento citado pelo servidor a Bolsonaro, para evitar o pagamento antecipado. Ainda assim, a fiscal do contrato, a servidora do ministério Regina Célia Silva Oliveira, autorizou o embarque das doses no dia 22, antes das correções no documento.

Um dia após ser supostamente comunicado por Bolsonaro acerca das suspeitas em torno da Covaxin, Eduardo Pazuello é exonerado do cargo de ministro da Saúde. Ele disse, porém, que, nessas 24 horas, encaminhou a demanda ao então secretário-executivo, Élcio Franco. Pazuello afirmou que não foram encontradas irregularidades e que, por esse motivo, não levou o assunto ao novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Dias depois da sua saída, Pazuello, num evento fechado, diz que havia uma pressão por "pixulé". Na CPI, ele diz que não se referia à propina, mas a emendas parlamentares que ainda não haviam sido pagas.

No dia 29, o pedido de certificação de boas práticas de fabricação da Covaxin é rejeitado pela Anvisa. Entre os problemas apontados estão questões sanitárias. No dia 30, o Ministério da Saúde insiste em pedir à Bharat Biotech que antecipasse o "máximo possível" de doses ao Brasil. No dia 31, a Anvisa não autoriza a importação da Covaxin porque faltavam documentos que comprovassem a segurança da vacina. A agência aprova o uso emergencial da Janssen.

No dia 27, o Senado instala uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar eventuais irregularidades na condução da pandemia.

No dia 30, reportagem publicada pela "Folha de S.Paulo" diz que o advogado do deputado Ricardo Barros atuou como representante no Brasil de outra vacina chinesa, a Convidecia, participando inclusive de reunião com a Anvisa. A empresa Belcher Farmacêutica, com sede em Maringá (PR), cidade natal de Barros, atuou como representante no país do laboratório CanSino Biologics no Brasil, responsável pelo imunizante. A empresa é investigada pela Polícia Federal.

No dia 5, a Procuradora da República no Distrito Federal cobra providências do Ministério da Saúde "quanto ao provável atraso e/ou descumprimento" do contrato da Covaxin. Em resposta, a pasta diz que era preciso "compreensão" com as dificuldades enfrentadas pelos fornecedores e ressalta que não eram exclusivas do fabricante da Covaxin.

No dia 18, o laboratório chinês CanSino Biologics encaminha à Anvisa pedido para uso emergencial da Convidecia, sua vacina contra a Covid-19.

No dia 2, em pronunciamento na TV, Bolsonaro diz que, "neste ano, todos os brasileiros que assim o desejarem serão vacinados, vacinas essas que foram aprovadas pela Anvisa"

No dia 4, a Anvisa aprova, com restrições, importação excepcional de doses da Covaxin e Sputnik V.

No dia 15, o Ministério da Saúde assina intenção de compra de 60 milhões de doses da Convidecia por aproximadamente R$ 5 bilhões. O contrato previa o pagamento de US$ 17 por dose, o valor mais alto negociado pelo governo para uma dose de vacina contra a Covid. O negócio era intermediado pela empresa Belcher Farmacêutica.

No dia 23, quando a denúncia sobre a Covaxin vem a público, o governo diz que o documento apresentado pelo servidor tinha sido falsificado. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, chega a informar que o governo pedirá à Controladoria Geral da União (CGU) e à Procuradoria Geral da República (PGR) que investiguem o servidor Luis Ricardo Miranda, do Ministério da Saúde, e o irmão dele, o deputado Luis Miranda.

Depois, o governo tem que voltar atrás diante das provas de que a invoice era verdadeira e estava no sistema do Ministério da Saúde. Aliados do governo mudam de versão e dizem que Bolsonaro falou para Pazuello apurar as suspeitas acerca da Covaxin.

Ainda no dia 23, os EUA anunciam que irão enviar 3 milhões de doses de vacina da Janssen diretamente ao Brasil.

No dia 24, Bolsonaro confirma ter se reunido com o deputado Luis Miranda, mas diz que ele não relatou suspeitas de corrupção envolvendo a Covaxin.

No dia 25, Luis Miranda diz à CPI que Bolsonaro ao saber da suposta irregularidade com a Covaxin, disse que isso deveria ser "rolo" do líder do governo, Ricardo Barros. Na mesma reunião da CPI, o irmão do parlamentar, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, confirma que sofreu pressão para liberar a Covaxin e cita que ouviu de um colega que "estavam pedindo propina". Questionado sobre o caso em um evento, Bolsonaro, descontrolado, insulta a imprensa.

No dia 28, diante das suspeitas sobre a Covaxin, Bolsonaro muda, pela primeira vez, o discurso de que no seu governo não há corrupção e diz que não tem "como saber o que acontece nos ministérios".

Como o governo não demonstrou que mandou apurar as denúncias sobre a Covaxin, três senadores pedem ao STF para investigar Bolsonaro por prevaricação (quando um funcionário se omite ou não toma providências diante de alguma irregularidade, como comunicar as autoridades responsáveis).

Em paralelo, a Anvisa encerra o processo de autorização de uso emergencial da Convidecia sem nem analisar o imunizante. O cancelamento aconteceu porque as empresas Belcher Farmacêutica do Brasil Ltda e do Instituto Vital Brazil S.A., que tinham entrado com o pedido, deixaram de ser representantes do laboratório.

No dia 29, o governo exonera o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. O G1 revela, no blog do Octavio Guedes, que o pedido de propina citado por Miranda na CPI dizia respeito a uma negociação paralela de vacinas da Astrazeneca. Reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" traz à tona o suposto pedido de propina para a Davati.

Os ministros Marcelo Queiroga, da Saúde, e Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União (CGU), anunciam a suspensão do contrato da Covaxin. A PGR pede à ministra Rosa Weber para aguardar as conclusões da investigação da CPI antes de decidir sobre a notícia-crime contra Bolsonaro.

No dia 30, a Polícia Federal instaura um inquérito para investigar irregularidades envolvendo a Covaxin. A Procuradoria da República no Distrito Federal também abre uma apuração criminal sobre o caso.

No dia 1º, o policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, reafirma à CPI que o então diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias teria pedido propina em uma negociação paralela por doses da AstraZeneca.

Dominghetti diz ainda que o deputado Luis Miranda tentou negociar vacina, o que levanta as suspeitas entre senadores de que o policial foi uma "testemunha plantada" para desacreditar depoimento do parlamentar e do seu irmão. Ele tem o seu celular apreendido pela CPI.

A ministra Rosa Weber nega o pedido da PGR sobre aguardar o fim da CPI para se decidir sobre a notícia-crime contra Bolsonaro e argumenta que, entre as "atribuições do Ministério Público, não se vislumbra o papel de espectador das ações dos Poderes da República".

No dia 2, a PGR, então, pede a abertura de um inquérito para investigar Bolsonaro por prevaricação no caso da Covaxin. No mesmo dia, a ministra Rosa Weber autoriza o inquérito.

Ainda no dia 2, o Ministério Público Federal (MPF) envia à Justiça Federal uma ação contra Pazuello por improbidade administrativa. A ação cita atos que, segundo os procuradores, prejudicaram o combate à pandemia, como a lentidão na compra de vacinas. No documento, o MPF diz que a gestão dele na pandemia foi "imoral e antiética".

No dia 6, a servidora do Ministério da Saúde Regina Célia Silva Oliveira, fiscal do contrato da Covaxin, é ouvida pela CPI. Foi ela quem autorizou o avanço das negociações do ministério com a Covaxin, enquanto a área de importação do ministério constatava problemas e indícios de fraude.

Ela foi formalizada como fiscal desse contrato da Covaxin em 22 março deste ano, dois dias após Bolsonaro ser informado sobre suspeitas de irregularidade.

No dia 7, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias nega ter pedido propina ao policial militar Dominghetti. Ele afirma, inclusive, que o encontro no restaurante em que conversaram sobre vacina foi casual. No entanto, durante o depoimento dele, são revelados áudios do celular apreendido de Dominghetti que dariam a entender que o encontro havia sido combinado. Por esse motivo, ele é preso por determinação do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM). Após pagar fiança, foi liberado.

No dia 8, a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) Francieli Fantinato lista uma série de entraves à vacinação contra a Covid no país. Afirma também ter deixado o cargo após a "politização" da vacinação no Brasil e declarações de autoridades que colocaram em dúvida a eficácia dos imunizantes.

No dia 9, o técnico do Ministério da Saúde William Santana confirmou à CPI que constatou diversos erros na invoice (nota fiscal internacional) da Covaxin.

No dia 14, a diretora-executiva da Precisa Medicamentos Emanuela Medrades nega à CPI ter havido ilegalidade ou irregularidade nas negociações envolvendo a Covaxin e o governo brasileiro. Questionada sobre a previsão de pagamento antecipado à Madison Biotech, uma empresa com sede em Singapura que não aparecia no contrato firmado com o governo brasileiro, Medrades diz que a Madison é responsável por todos os contratos da Bharat Biotech e que atuou em todos os países nos quais a Covaxin foi comercializada. A CPI apura se essa empresa seria de fachada.

No dia 15, o representante de vendas da Davati Medical Supply Cristiano Carvalho disse que teve conhecimento de um pedido de um "comissionamento extra" para a aquisição de vacinas pelo governo. Ele também relatou uma disputa interna entre dois grupos no Ministério da Saúde: o do ex-secretário-executivo Élcio Franco e o de Roberto Dias.

No dia 16, vem à tona um vídeo de março que mostra Pazuello reunido com representantes de uma empresa que intermediava a venda de doses da CoronaVac por US$ 28, quase o triplo do que foi pago ao Butantan: US$ 10 por dose. A atual gestão do Ministério da Saúde disse que não em conhecimento de memorando de entendimento para aquisição de doses da CoronaVac.

Fonte: G1

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