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Pandemia esfria 'esquenta' de blocos e escolas de samba para o carnaval 2022, no Rio

Por Redação em 10/05/2021 às 07:54:50
Discussão sobre apresentações e retomada de trabalhos nos barracões só vão acontecer no segundo semestre. Liesa estuda opções de desfiles possíveis para não deixar escolas morrerem. Banda de Ipanema em seu último desfile em 2020; por causa da pandemia tradicional bloco carioca não vai desfilar em 2022

Fernando Maia/Riotur

Uma luz amarela, de atenção, se acendeu sobre o futuro do carnaval de 2022 no Rio com a decisão da Banda de Ipanema - um dos blocos mais tradicionais da cidade - de não desfilar no ano que vem por causa da pandemia. O anúncio feito em abril deixou em alerta blocos e escolas de samba, que só devem retomar o ritmo das decisões sobre desfiles a partir de agosto.

Com os números da Covid-19 ainda em níveis muito elevados no país, o "esquenta" - como a apresentação de protótipos de fantasias e demais preparativos para o carnaval carioca - foi adiado.

E apesar do otimismo do presidente Jorge Perlingeiro, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) já estuda pelo menos três alternativas para que o carnaval de 2022 possa evoluir e conquistar nota máxima nos quesitos inovação e engajamento (veja mais detalhes abaixo).

Sem ânimo e animação

Cláudio Pinheiro, presidente da Banda de Ipanema, diz que riscos de contágio de Covid ainda são muito grandes para os foliões

Cristina Boeckel/G1 Rio

Cláudio Pinheiro, presidente e fundador da Banda de Ipanema, que no ano quem vem completa 56 anos de folia, disse que a situação do país é trágica e que não vê perspectiva de melhoras até fevereiro. Por isso, em abril se antecipou:

"Como em 2021, a Banda de Ipanema não vai sair em fevereiro de 2022. No melhor dos cenários, só teremos 70% da população vacinada em dezembro/janeiro. E mesmo assim, nada garante que a vacinação vai ser o ponto final dessa pandemia. A vacina não é um salvo-conduto para a folia", disse Pinheiro.

"Gostaria de botar a Banda de Ipanema na rua amanhã, mas o risco ainda é grande demais e não seria justo com nossos músicos e foliões. Não seremos vetores de contágio da população".

Lives podem ser uma opção para que os seguidores não fiquem mais um ano sem o desfile da Banda de Ipanema. Mas, pela grandiosidade do bloco, que tem cerca de 50 músicos, Pinheiro disse que terá de buscar patrocínio para fazer as apresentações virtuais.

"A Banda de Ipanema tem uma sonoridade única, riqueza de repertório, que vai de marchinhas a óperas, e com menos de 20 músicos perderia suas características. Teríamos de buscar um palco grande e isso tem um custo elevado. Precisaríamos de patrocínio para bancar essa produção", falou Pinheiro.

A presidente da Sebastiana, Rita Fernandes (ao centro), diz que decisões sobre carnaval de rua serão tomadas após o seminário "Desenrolando a Serpentina", como acontece há 17 ediçõs

Isabela Marinho/ G1

A presidente da Liga dos Blocos de Rua da Zona Sul e Centro (Sebastiana), Rita Fernandes, considerou a decisão de Pinheiro muito precipitada. Embora o momento ainda não seja de espalhar confete e serpentina, "muita água ainda vai rolar" até o próximo carnaval.

"Nós acreditamos que é muito cedo ainda para avaliar qualquer coisa em relação ao carnaval, no que diz respeito aos blocos de rua. Temos mais tempo para uma decisão, diferente das escolas de samba, que precisam de um planejamento mais longo. Vamos aguardar o segundo semestre e ver como caminha a vacinação e a imunização das pessoas. A gente começa a se preparar em outubro. Temos tempo ainda", disse Rita.

Rita lembrou ainda que, em agosto, a Sebastiana costuma realizar o seminário "Desenrolando a serpentina", que discute as ações de carnaval e que este ano terá sua 17ª edição. Na ocasião, vai fazer uma avaliação da situação da cidade junto com cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

"Faremos uma avaliação das condições de saúde, das condições de infraestrutura e financeira. Também sobre a questão da cadeia produtiva. Talvez a gente monte um painel com um debate nacional sobre carnaval", adiantou Rita.

Em compasso de espera

Liesa tem até agosto para avaliar situação e decidir se vai fazer desfiles na Sapucaí nos mesmos moldes grandiosos dos realizados em 2020 e com Sambódromo lotado.s.

Alexandre Durão/G1

Assim como os blocos de rua, as escolas de samba seguem concentradas à espera da hora de voltar às atividades, nas quadras e na avenida. Eleito em março para a presidência da Liesa, o comunicador Jorge Perlingeiro trabalha para não deixar a empolgação baixar.

"Estou convicto que nos dias 27 e 28 de fevereiro vamos fazer um espetáculo grandioso na Sapucaí. Vai ser o carnaval da superação. E não vamos começar do zero. Já temos a ordem dos desfiles, os enredos, os carnavalescos já desenvolveram os projetos, algumas escolas já escolheram samba", disse Perlingeiro.

"Estamos prestes a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para desinterditar e revitalizar a Cidade do Samba. Para fazer um belo carnaval, precisamos de dinheiro e disposição. Disposição nós temos. Dinheiro estamos correndo atrás, estamos trabalhando pensando em fevereiro", completou.

Perlingeiro, que teve Covid e perdeu muitos amigos com a doença, lamenta as mais de 400 mil mortes no país. Mas diz que precisa focar em quem está vivo e que o carnaval é uma importante engrenagem na retomada social e financeira não só das escolas de samba, mas de toda a cidade. Ele fixa agosto como o prazo para confirmar o carnaval em fevereiro.

"A indústria do carnaval emprega milhares de pessoas na sua cadeia produtiva e é um importante item de recuperação social, financeira e de emprego não só para as escolas de samba, mas para toda a sociedade. As pessoas estão sem emprego, sem renda e a fome também mata".

"Temos até agosto para avaliar a situação. Se as condições forem favoráveis, as escolas têm plenas condições de começar o trabalho pesado dos barracões em setembro. Aí, vamos ter quase seis meses, tempo suficiente para fazer um carnaval grandioso", disse Perlingeiro.

Garantir a retomada dos empregos da cadeia produtiva do carnaval, da qual fazem partes costureiras, é uma das preocupação dos carnavalescos e das escolas de samba

Rodrigo Gorosito/ G1

Em ritmo menos acelerado, carnavalescos, como Leandro Vieira, da Mangueira, e Tarcísio Zanon, da Viradouro - última campeã do carnaval, em 2020 - se mostram mais preocupados com a retomada do trabalho para todos que fazem parte do carnaval: de costureiras, aderecistas, carpinteiros, escultores, ferreiros a sapateiros, fabricantes dos materiais como tecidos, plumas e penas e acessórios, entre muitos outros.

"Creio que quem organiza o desfile tenha a consciência do impacto social que a não realização da atividade carnavalesca proporciona para milhares de trabalhadores. E creio que eles já estejam pensando desde já os diferentes cenários possíveis para que os trabalhadores do carnaval não passem mais um ano sem a possibilidade de retomarem suas rendas", disse Leandro Vieira.

Cauteloso, Zanon - que divide com o carnavalesco Marcus Ferreira o trabalho na Viradouro - diz que, no momento, a maior preocupação é abrir oportunidade de trabalho e renda para os profissionais ligados à folia.

"Estamos preparando um grande projeto, pois acreditamos que o próximo carnaval terá um valor sentimental muito grande para a sociedade. Os trabalhos nos barracões podem seguir com todos os cuidados sanitários possíveis, assim como nas indústrias em geral. Nossa preocupação maior é com a quantidade de profissionais que dependem do trabalho nos barracões", disse Zanon.

"O intuito da Viradouro é ajudar os colaboradores neste momento de pandemia. Há um risco, mas precisamos acreditar em dias melhores. O carnaval tem uma função psicológica importante para sociedade. É cedo para prever algo, mas o carnaval sempre está preparado para se adequar ao momento".

Alternativas para não passar em branco

O diretor de Marketing da Liesa, Gabriel David, estuda três alternativas para não deixar o carnaval passar em branco em 2022

Marcos Serra Lima/G1

Sem carnaval em 2022 o Rio não vai ficar. O diretor de marketing da Liesa, Gabriel David, estuda pelo menos três alternativas, caso as condições sanitárias na cidade ainda não permitam eventos e aglomerações como os desfiles das escolas de samba.

As alternativas são:

Carnaval digital: envolveria o trabalho de carnavalescos e demais profissionais para projetar um carnaval que seria criado para o ambiente virtual, que inclusive atrairia o público mais jovem para os desfiles.

Carnaval de inverno: adiamento dos desfiles de fevereiro para uma data pré-selecionada com a prefeitura e parceiros que fazem a transmissão do espetáculo.

Carnaval estendido: para reduzir o público no Sambódromo, mas não perder a renda com a venda de ingressos, com os desfiles espalhados por mais dois ou três dias, com menos escolas se apresentando a cada dia.

Gabriel diz que essas alternativas são possíveis e que algumas já vinham sendo discutidas antes mesmo da pandemia do coronavírus.

"O carnaval digital já vem sendo pensado há um tempo, como forma de dar asas às ideias mais mirabolantes dos carnavalescos, reduzir custos e atrair as gerações mais novas. É uma ideia que vinha sendo discutida e a pandemia só acelerou esse processo".

"Todos os planos são possíveis e vem sendo conversados com patrocinadores e parceiros. O importante é garantir que haja carnaval em 2022. Mais um ano sem desfile e as escolas de samba, tão importantes na cultura e na economia do Rio, vão acabar morrendo, " disse Gabriel.

Situação de difícil previsão

Mas não vai ser fácil levar a folia adiante, seja nas ruas ou na Sapucaí. O infectologista Marcos Junqueira do Lago diz que não é possível prever como vai estar a situação da pandemia no país até dezembro. Por via das dúvidas, ele diz que deixaria a fantasia guardada por mais um carnaval.

"É difícil prever. Mesmo que se tenha mais de 50% da população vacinada, ainda assim será um risco enorme, porque é um evento de grande aglomeração, tanto para blocos quanto escolas de samba. A Covid é uma doença nova e ainda não sabemos o que vai acontecer. Pode surgir uma nova variante, uma nova onda", disse o infectologista.

"Acho que só deveria ter carnaval quando a Covid tivesse mais ou menos no nível da gripe, com cerca de mil mortes por ano no país. E olha que esse número é alto. E mesmo assim seria arriscado".

Fonte: G1

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