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Por trás dos holofotes: quem era Marília Mendonça nos bastidores

Por Redação em 04/11/2022 às 05:09:16
Nos holofotes, a Rainha da Sofrência promoveu uma comoção nacional com suas gravações e composições. Nos bastidores, mostrava sua doçura, personalidade forte e parceria. Por trás dos holofotes: quem era Marília Mendonça nos bastidores

O público precisava dela. Ela precisava do público. A música precisa dela, e ela precisou da música. Ela é Marília Mendonça. Tal como a letra, ninguém sofreu sozinho. A comoção nacional provou a grandeza da eterna Rainha da Sofrência. Divertida. Empoderada. Profissional. Essa era Marília sob a luz dos holofotes. Nos bastidores, a menina de Cristianópolis mostrava sua doçura, acompanhada da personalidade forte, e parceria com sua família dos palcos. Quem passou pelos camarins se lembra dos detalhes e afirma: ela foi uma divisora de águas.

G1 Goiás e O Popular publicam uma série de reportagens especiais em homenagem a Marília, no 1º ano após a morte da cantora.

Marília nunca deixou de ser importante. Todos sabem de cor o caminho que a rainha trilhou e, pelo contrário da música, quem olhou para trás disse que a dor não passou, mas se adaptou. Músicos, compositores, produtores, ou quem quer que encontrava Marília fora dos shows, tem as mesmas lembranças da cantora. Atenciosa, ela fazia questão de abrir as portas do seu camarim para receber sua equipe.

E foi em um camarim que Marília conheceu pessoalmente seu amigo e parceiro Júnior Gomes, compositor de dezenas de músicas da cantora. O artista saiu do Ceará após um longo contato virtual com a cantora e chegou de surpresa em Goiânia.

Naquela noite, era show da dupla Cleber e Cauan em uma boate de Goiânia. Enquanto a música tocava e o público vibrava de ansiedade para ouvir os sertanejos, Junior subia as escadas para ir até um camarote. Ao abrir a porta, uma cena que lembra com muito carinho.

"A Marília estava parada com o Juliano Tchula e usando um vestido amarelo. Era a única com vestido amarelo naquela noite. Nós olhamos para ela, ela olhou para nós e ela disse: "como assim vocês estão aqui". E nós falamos que íamos avisar depois. E foi resenha, passamos a noite toda no camarote, foi muito gratificante encontrá-la naquele momento", descreveu Júnior.

Firmou ali uma parceria que rendeu alguns dos maiores sucessos de Marília, como "Todo mundo vai sofrer" e "Esqueça-me se for capaz". Mas antes, Júnior contou que muita água correu debaixo da ponte da carreira deles. Quando se conheceram pelas redes sociais, a rainha da sofrência era apenas compositora e ele se arriscava na composição com um grupo de amigos. Marília foi decisiva para a história deles.

"Ela é a minha mãe no sertanejo. Como já era muito conhecida, ela bateu de porta em porta nas gravadoras. Ela levou a gente em todas as gravadoras de Goiânia, para você ver como ela tinha o coração gigante. Ela apresentou a gente para Goiás e para o mercado sertanejo", contou.

Essa definição é comum entre as memórias na cabeça de quem conheceu Marília: uma divisora de águas. A vida do baixista Luís Santos, de 40 anos, também é uma das que tomou novos rumos depois do toque Marília Mendonça.

Os acordes do baixo tocaram músicas que marcaram a memória de Luís que, antes de Marília, trabalhou com o cantor Cristiano Araújo, que morreu após um acidente de carro em 2015. O convite para participar da banda veio de um produtor e o primeiro contato com a rainha foi em um ensaio, regado à música e com uma brincadeira que rendeu por muitos anos.

"Eu cheguei nela e brinquei assim: "Oh Marília, você tem que estourar porque eu tenho uma casa para pagar". Ela deu para rir e, já "estourada", falava isso em toda reunião de fim de ano", contou com um sorriso no rosto.

Ensaios feitos. Equipe preparada e pronta para os palcos. Esperando uma van, Marília e Luís conversaram. Ela explicou a letra de "Infiel" e contou a história por trás da música. Naquele momento, Luís disse que teve noção da grandeza da cantora que estava ao seu lado.

Naquela noite, como em todas as outras seguintes que Marília subiu aos palcos, o público vibrou. A energia radiante da plateia de Indaiatuba, no Pará, ficou na memória do músico, que relembrou com carinho detalhes da noite. Os fãs pediam foto, o camarim lotou e o nível era de uma artista consolidada.

"Depois do show, ficou toda a equipe no camarim, todo mundo muito feliz. Aquele show foi como se fosse de uma cantora estourada. Tinha muita gente. Muita gente impressionada com ela", lembrou.

O sucesso e a energia do primeiro ensaio permaneceram. Era o momento de união da Família Marília Mendonça, que se formou ao passar mais tempo nas estradas, do que nas próprias casas.

"A gente conversava muito nos ensaios, que duravam o dia inteiro. A gente fazia churrasco, a gente bebia, a gente falava dos projetos, ela falava de música e mostrava algumas para a gente", disse.

Segura, ela chegava nos ensaios determinada do que queria, de suas ideias e objetivos. Apesar de ser convicta do que tinha em mente, Luís contou que a cantora nunca negou as dicas e conselhos de seus colegas. "Ela sempre acatava, ela não tinha aquele negócio de bater de frente com equipe, ela tentava entrar em consenso", falou.

Maturidade

Ela foi assim, nunca soube recitar poesia. Mas sabia palavras de amor. Palavras que embalaram inícios e términos de relacionamentos. O ouro e a prata poderiam ser facilmente comparados ao talento de Marília. Esse foi seu maior tesouro, que o público amou demais.

Tesouro esse que foi descoberto ainda na infância, como contou Júnior Gomes. Com letras muito a frente à sua idade, as palavras de Marília não eram apenas de amor, eram lições.

"Quando nos conhecemos, ela tinha uns 17 anos e eu 22. Ela era muito nova, mas não era um ser humano normal. A gente sabia que ela tinha algo a mais. Ela colocava todo mundo em uma roda e dava conselhos como se ela já tivesse vivido muito mais que a gente. Fora do comum", relatou.

A pouca idade não era impedimento para brilhar. "Com 12 anos ela fez uma música que poucos adultos podiam fazer. Ela fez uma música sozinha para a dupla Joao Neto e Frederico, uma letra que não tinha como uma adolescente de 12 anos fazer, mas a Marília fez", falou.

'Prazer, Marília Mendonça'

2017. Show da dupla Henrique e Juliano. Minutos antes de entrar no palco e fazer uma participação, Marília Mendonça estava no camarim, quando a fotógrafa Dani Valverde entrou. Surpresa, a profissional conheceu pessoalmente a rainha da sofrência, que, humilde, se apresentou como se a fama já não fosse presente em sua carreira.

"Ela veio já cumprimentando: "Prazer, Marilia Mendonça". A gente nunca tinha se visto, mas é claro que eu sabia quem era. Ela foi muito simpática, entrou na nossa rodinha e ficou conversando, trocando ideia", descreveu.

O contato entre as duas não acabou naquele camarim. Anos depois, foi Dani quem fez o ensaio de gestação da cantora, que era relutante em não fazer as fotos. Nos bastidores da gravação de um clipe em Vitória, no Espírito Santo, a fotógrafa disse que deu a ideia.

"Ela tinha me dito que não se sentia confortável para fazer um ensaio assim, fica pousando... Ela nunca curtiu muito isso, ela gostava de coisas espontâneas e eu entendi, peguei isso", falou.

Com jeitinho, Dani bolou uma estratégia que convenceu Marília.

"Conforme a gente foi fazendo o clipe, eu fui pedindo pra ela parar em pontos estratégicos e falava: "Marília, dá um carinho no Leo, conversa com ele e tudo mais. Enquanto isso, a gente fez umas "fotinhas", depois que ela viu resultado, ela amou", contou.

Com as fotos prontas, Dani fez um book e entregou no camarim para Marília, que ficou radiante com o resultado.

""Brigada", meu amor. A melhor de todas! A pessoa que fez meu book de gravida indiretamente", comemorou.

Fiel

Um traço marcante da personalidade de Marília é unanime. Fiel. A mãe do pequeno Léo sempre foi fiel aos seus princípios, ideais e fazia tudo pela família. Dona Ruth, a mãe e Gustavo, o irmão, sempre foram presentes na vida e no trabalho da cantora.

"Ela era muito fiel aos seus. Coração gigante, amorosa, muito sincera. Autêntica. Dona de si mesmo. Bondosa. Apaixonada pela família. Ela sabia o que tinha que fazer", descreveu Júnior.

Como uma leoa, Marília lutou pelos seus. Júnior contou que a amiga enfrentava o que era preciso para defender o que acreditava. Apelidados carinhosamente como "Os meninos do Nordeste", a goiana considerava o compositor e seus colegas como filhos.

"Ninguém podia falar mal da gente, se alguém falasse mal, ela saía, era confusão grande. Quando ela tinha uma opinião, ela mantinha essa opinião, mesmo se tivesse na frente de um ídolo, ou um cara que ela respeitasse muito. Ela não abaixava a cabeça não", pontuou.

Fiel também ao seu público, Marília inovou e abriu espaço para uma comunidade de mais de 10 milhões de surdos que falam a língua de sinais no Brasil. A goiana foi a primeira artista a usar Libras nas lives durante a pandemia de coronavírus. A interprete de libras Gessilma Dias, foi a convidada da cantora para o trabalho e leva boas lembranças da transmissão.

"Ela chegou com aquele vestido preto e chinelinho que ela trocou na live. A gente assustou porque não estávamos esperando que ela fosse lá falar com a gente. Foi uma emoção muito grande saber que ela gostou do nosso trabalho e que a gente pôde contribuir de forma positiva para que a live fosse um sucesso", relembrou.

Com Marília e outros artistas parceiros, Gessilma e outros dois intérpretes trabalharam em 11 lives e até viajaram com a equipe da cantora para São Paulo. A profissional contou que, depois das transmissões, Marília sempre ia até eles para agradecer, o que marcou a imagem da rainha como uma pessoa bondosa e integrada a seu grupo.

Emocionada, Gessilma recordou do último contato que teve com Marília, que aconteceu em uma live do EP "Esqueça-me se for capaz", para o YouTube, em outubro de 2021.

"Ela chegou e falou: "Galera da Libras, vocês estão aí! Eu estou muito emocionada, hoje vai acontecer uma coisa que a gente pensou muito, o clipe tá lindo, boa sorte aí. Depois da live encerrada, ela passou lá: "Gente, foi lindo, muito obrigada, o trabalho de vocês foi fantástico. Vamos seguir"", finalizou.

Memórias

A sexta-feira, 5 de novembro de 2021, ficou marcada na história do país. Marília saiu do aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, no início da tarde rumo ao Ubaporanga, em Minas Gerais, para fazer o que mais amava, cantar. O show estava marcado para acontecer em Caratinga, Minas Gerais.

Com uma mala e seu fiel violão nas mãos, a artista publicou um vídeo nas redes sociais antes de embarcar. Foi sua última publicação. Por volta de 16h30, a queda do avião interrompeu a vida de Marília, aos 26 anos.

A carreira de Marília foi interrompida, mas as histórias, não. No coração das pessoas próximas à artista, os últimos momentos juntos não se apagaram.

"O último show que fizemos foi em Sorocaba, nesse show eu senti que era o show que nós da banda tínhamos firmado nesse novo projeto, turnê e repertorio. Começamos a ficar mais seguros. Nesse show eu senti que ela estava bem segura e pronta para seguir em frente", disse Luís, o baixista.

"Antes do acontecido, a gente bateu um papo sobre "Esqueça-me se for capaz", e foi um momento muito marcante. Ela me chamou no WhatsApp para agradecer por tudo que fiz pela carreira dela. "Tenho certeza que você tá me ajudando com uma música que vai ser um divisor de águas e comentou que ia sair na Times Square. O que me marca é que ela me falou: "Mais uma vez você fazendo parte da minha história". Parece uma coincidência, mas pareceu que ela estava se despedindo de mim", contou compositor Júnior, emocionado.

O que também fica, é o legado e a parceria.

"Deus me abençoou tanto que eu participei do início da carreira dela, do meio, com todo mundo vai sofrer, e do final, com o maior hit das Patroas, "Esqueça-me se for capaz", finalizou Júnior.

"Muitas pessoas vão tomar como exemplo como foi a carreira dela. Ela tinha um ideal, buscou esse ideal e conquistou esse ideal. Ela foi determinada, correu atrás de fazer com que essas músicas acontecessem, e aconteceu", narrou Luís.

Fonte: G1

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