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Hits eleitorais: 'Tá na hora do Jair já ir embora', 'Capitão do povo' e funks embalam Lula e Bolsonaro

Por Redação em 28/10/2022 às 05:00:47
Conheça Mateus e Cristiano, autores de jingle bolsonarista, e Juliano Maderada, criador de faixa lulista. Leia também história de funks que, sem intenção do autor original, entraram na campanha. À esquerda, Juliano Maderada, autor de 'jingles de paredão' para Lula. À direita, Mateus e Cristiano, criadores de jingle que mistura gospel e sertanejo para Bolsonaro

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Em 2022, Lula (PT) e Bolsonaro (PL) tiveram apoio de muitos músicos famosos. Mas, longe do glamour de celebridades, foram as criações de artistas menos conhecidos, "outsiders", que ganham as duas multidões - seja em comícios que pareciam carnaval de rua ou na arena de festas agropecuárias.

Dois funks que foram criados sem pensar em política também foram hits em comícios.

O podcast g1 ouviu contou duas histórias: a do dono de uma pequena banda de arrocha na Bahia e a dos irmãos que batalhavam no sertanejo no interior de SP. Eles fizeram apostas para o embate que viria nas eleições.

Juliano Maderada quebrou a formalidade de jingles antigos a golpes de lambadão e arrochadeira, com batidas para festas de rua exaltarem Lula.

Mateus e Cristiano acharam a medida da mistura entre gospel e sertanejo para transformar em um hino a canção para Bolsonaro.

Ouça o podcast abaixo e leia a seguir as histórias deles. Conheça também dois funks - 'Baile de Favela' e 'Vai dar PT', que, sem a intenção dos autores originais, bombam nas campanhas:

'Tá na hora do Jair já ir embora' - Juliano Maderada e Tiago Doidão

Juliano Maderada (à direita), criador de 'jingles de paredão', que exaltam Lula com ritmos dançantes nordestinos, ao lado de Tiago Doidão (à esquerda), seu parceiro na música 'Tá na hora do Jair já ir embora'

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Um ex-professor de matemática baiano de 48 anos mudou a cara dos jingles políticos em 2022. Com ritmos dançantes do Nordeste e letras provocativas, ele quebrou a pompa dessas músicas. Assim, elas foram parar no TikTok e nos "paredões", as caixas de som automotivas para festas de rua.

A trajetória de Juliano Maderada foi alterada por dois fatos históricos: a pandemia de coronavírus em 2020 e a decisão do STF que tornou Lula elegível de novo, em 2021. Sem o trabalho com shows, ele teve a ideia de fazer músicas e postar vídeos de apoio o ex-presidente.

Júlio Hermínio Luz tem 48 anos, nasceu em Araguapaz (GO) e se mudou aos sete anos para Iguaí (BA). Estudou Agronomia e dava aulas de matemática enquanto tocava forró na noite. Ele largou as salas de aula quando a carreira musical engatou ao formar a banda de arrocha Maderada.

Ele também compunha para outros artistas. Conseguiu um sucesso regional em 2016 com "Passinho do Peter Pan", arrochadeira gravada por Neto LX, Raí Saia Rodada, Gabriel Diniz e outros famosos. Mas suas composições estouraram mesmo quando miraram outra figura do Nordeste.

"A primeira música que eu postei sobre o Lula em 2011 foi 'Volta meu guerreiro". Teve 7 mil views em um dia, muito bom para um canal sem notoriedade", ele conta. "Já que funcionou, eu resolvi fazer outra criticando o Bolsonaro. Deu mais certo ainda", diz.

Ao som de pisadinha, arrochadeira, lambadão e outros ritmos nordestinos atuais, ele repete versos provocativos como em "Chega de ovo, é Lula de novo", "Vai levar peia", "Forrozão arruma mala", "É taca taca que vão levar", "Vai ser lapada" e "Lambadão do 13" (com número do PT repetido sem parar).

Saiba mais sobre arrochadeira, pisadinha, lambadão e outros ritmos eletrônicos do Nordeste

Juliano diz que os colegas de bandas e músicos da região são apoiadores do PT (Lula teve 66% dos votos em Iguaí). Mesmo assim, ninguém botou muita fé nas músicas políticas no início. Ele tinha que pagar músicos para gravarem. Quando ficou sem dinheiro, começou a cantar ele mesmo.

Ele também buscou o PT quando viu que as músicas cresciam no YouTube. "Demorei muito tempo para que alguém me enxergasse. Eu batia em várias portas. Procurei a assessoria de Lula mil vezes o pessoal não dava muito ouvido. Eu dizia que estava trabalhando, que todo dia fazia uma música..."

A eleição se aproximava e o canal crescia. Assim ele convenceu o vocalista do Madeirada, Tiago Doidão, a viajar para Iguaí para compor e gravar junto com ele a lambada "Tá na hora do Jair já ir embora", que estourou no 1º turno e segue em alta no 2º.

Juliano Maderada (à frente, na esquerda), e Tiago Doidão, parceiros em 'Tá na hora do Jair já ir embora"

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"Primeiro as músicas invadiram as redes sociais. Com isso a gente conseguiu levar essa mensagem para um ambiente em que a música institucional de propaganda política não chegava, mesmo bonita e com uma boa mensagem - porque não tem a batida forte, não sugeria dança, não invadia o TikTok."

Saiba mais: O que sucesso de músicas no TikTok diz sobre a corrida presidencial

"Depois que começou a campanha de corpo a corpo, a música migrou para a rua. Agora esse estilo ganhou o carro de som, o som automotivo (o chamado "paredão"), e virou essa outra forma de manifestação, uma micareta na rua. Ganhou uma identidade nova", ele descreve.

Não foi tudo ideia dele: um precursor importante é o jingle genérico "O homem disparou", pisadinha que foi um fenômeno na eleição municipal de 2020. De qualquer forma, Juliano pegou o espírito e começou uma produção em série de jingles que, hoje, chegam sem esforço dele aos comícios.

"Eles vão no YouTube e baixam a música. Aí colocam no paredão, e como faz na rua, cria uma espécie de micareta, um carnaval político. O povo que tá na rua curte, dança, comemora e interage. "

"Acho que todo candidato que pensar em fazer campanha a nível nacional agora tem que saber que já existe essa forma de fazer política dessa maneira, com essa participação popular, com o povo na rua".

A essa altura, as tentativas de contato de Juliano com o PT também já tinham dado resultado. "O primeiro contato que consegui foi através do Paulo Pimenta, deputado federal do Rio Grande do Sul. Ele me passou para o (fotógrafo) Ricardo Stuckert, que é muito sensível a essas questões."

"Ele me ligou duas vezes e, na terceira, já me botou para falar com o Lula. Fiquei emocionado." Eles marcaram um encontro em Salvador. "O Lula passou um tempão com a gente. Ele atrasou o encontro com a Daniela (Mercury) e falou: 'Vou ficar aqui mais um pouquinho com os meninos'", descreve.

Juliano também foi a São Paulo participar da live de Lula com artistas. Também estavam lá famosos como Daniela Mercury, Pabllo Vittar, Casagrande, e o telão mostrou mensagens de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Emicida. Mas os ídolos que Juliano queria ver eram outros.

"O pessoal me falou: 'rapaz, tinha um camarim dos artistas, todo mundo lá, você devia ter ido conhecer as pessoas'. Mas eu falei: 'Eu quero é ver o Lula. Aí conversei com ele, com o Janones, com o Randolfe Rodrigues, que eu admiro muito. Eu sou focado mais na questão política do que artística", ele diz.

O canal de Juliano já tem mais de 42 milhões de visualizações, além de vídeos de outros canais que usam sua obra, o que gera uma remuneração do YouTube. Ele diz que, no último mês, a renda do YouTube foi de R$ 23 mil. No Spotify, ele ganhou menos em setembro: R$ 5 mil.

"Tá na hora do Jair já ir embora" está em 1º lugar do ranking de músicas virais do Spotify no Brasil desde a véspera do primeiro turno.

O músico também continuou com o serviço que prestou em 2020 de criar jingles sob encomenda. Só que o preço aumentou: se em 2020 cobrava entre R$ 300 e R$ 400, hoje o serviço custa entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil por música. Mas ele nem conseguiu atender toda a demanda esse ano.

A maioria dos clientes era de esquerda, mas ele também aceitou candidatos de direita, desde que não fossem radicais. "Quando o tema era muito pesado, ligado a Bolsonaro, eu preferia não fazer. Até porque eu não tinha muito tempo."

Claro que o retorno financeiro é bem-vindo para o músico, casado e com dois filhos. Mas ele nem sabe o que vai ser da carreira musical depois da eleição. "O foco é eleger o Lula. Eu nunca pensei em fazer sucesso, nesse retorno artístico ou financeiro, não tô preocupado se vou sair famoso depois disso", diz.

'Capitão do povo' - Mateus e Cristiano

Mateus e Cristiano

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Dois irmãos gêmeos do interior de São Paulo, que nadavam há três décadas contra correntes do sertanejo, viram uma grande maré virar finalmente a favor deles. Ao juntarem arranjos dos anos 90 com um jeito de hino religioso eles pegaram em cheio na cultura brasileira de 2022.

Aos 40 anos de idade e 26 de carreira, os irmãos gêmeos Lucas e Mateus Vieira Gomes, de Taquarituba (SP) sempre ficaram "no quase". A dupla admite que não conseguiu embarcar em vários bondes anteriores da música sertaneja.

Filhos de uma família de torrefadores de café de SP, cresceram apaixonados por sertanejo dos anos 90 e incentivados a cantar. Tiveram tanta sorte quanto azar: gravaram nos melhores estúdios, ganharam concurso na TV, foram processados, perderam o nome, entraram em novela, saíram da moda...

Desiludidos e deslocados no mercado, Mateus e Cristiano fizeram trabalhos de publicidade e depois arriscaram a composição de uma música religiosa que mudou tudo: "Maria passa na frente" foi um sucesso estrondoso em 2020 nas vozes de Padre Marcelo Rossi e Gusttavo Lima.

Revigorados pelo hit cristão, fizeram uma mistura de gospel e sertanejo um "gospelnejo", quando foram chamados apresentar uma música para a campanha de Jair Bolsonaro. "Capitão do povo" foi escolhida como jingle e entrou em alta rotação dentro e fora do horário político.

Os irmãos começaram a cantar aos seis anos em um coral de igreja. A família viu neles uma duplinha sertaneja. "Nossa primeira fita demonstração foi gravada em um estúdio de Londrina onde meu avô gravava propagandas do café", lembra Cristiano. Eram só versões de Zezé di Camargo e Luciano.

"O sertanejo anos 90 tinha muito conteúdo. Era mais conteúdo nas letras e nas harmonias, que eram mais difíceis", diz Mateus. A primeira produção profissional deles foi em 1996, no estúdio Mosh, em São Paulo, onde todos os grandes sertanejos da época gravavam, ainda com o nome Lucas e Mateus.

Como os primeiros CDs debaixo do braço, viajaram pelo interior de São Paulo, cantaram em leilões no Canal Rural e foram fazendo o nome da dupla até que foram convidados para o quadro "Pistolão", do "Domingão do Faustão", da TV Globo. Foi aí que deu tudo certo e tudo errado ao mesmo tempo.

Eles ganharam o quadro, mas com a visibilidade, veio uma notificação judicial. "Já existia uma dupla de Presidente Prudente chamada Lucas e Mateus. Quando a gente apareceu no Faustão, eles acionaram o advogado", conta Mateus.

A solução foi até criativa: como tinham ganhado o "Pistolão", pediram para Faustão fazer um concurso para escolher o novo nome em votação popular no programa. Lucas virou Cristiano. A dupla pelo menos teve um impulso para refazer o nome no mercado.

Dois anos depois, em 2008, emplacaram a música "Se é pra falar de amor" na novela "A favorita". Mas basta ouvir o romantismo e a melodia derramada para notar que eles estavam longe da moda do sertanejo festivo de "pegação" da época, marcada pelo "Ai se eu te pego" de Michel Teló.

"Nossa carreira foi um pouco cruel, musicalmente falando", diz Mateus. "A gente não soube lidar com toda evolução no sertanejo. Fomos lançados como um produto praticamente anos 90. Quando fomos entender já era tarde".

"Não entendemos o mercado, foi bem complicado. Nós estamos começando a entender agora depois de velhos, né?", brinca o cantor.

Eles não se encaixaram nem quando o sertanejo deu outra virada, parou de falar de pegação e virou romântico arrependido na década passada. As letras dramáticas sobre idas e vindas do amor não eram para eles. "A gente não fala essa língua, somos casados há muito tempo", diz Mateus.

Mateus e Cristiano na TV Aparecida

Arquivo da dupla / Instagram oficial

Eles não pararam de fazer shows e lançar álbuns, mas chegaram a gravar jingles publicitários além da carreira autoral. "Foi o que nos salvou. Porque nós perdemos durante algum tempo o investimento e ficamos sem empresário. A gente mesmo foi correndo atrás das oportunidades", conta Cristiano.

A corrida finalmente compensou: eles conseguiram mostrar "Maria passa na frente" para o Padre Marcelo Rossi, que gravou com participação de Gusttavo Lima. "A gente se emocionou lendo os comentários dela. Foram mais de 100 milhões de plays no YouTube. Ela salvou vidas", diz Cristiano.

"Aí nós pensamos: 'agora temos que partir para cima de novo, estamos de volta 'ao game'", diz Mateus. "Foi um combustível para a gente, tanto financeiramente quanto para mostrar que a gente tem mercado, tem vida. Porque a gente sempre foi um pouco revoltado com o mercado".

Nesse clima reanimado, veio a proposta de fazer uma música para Bolsonaro. "O pedido veio através do publicitário da campanha que a gente conheceu na casa da Hebe Camargo, o Sérgio Lima. A gente era amigo do sobrinho da Hebe, o Claudinho, que infelizmente morreu de Covid", conta Cristiano.

"(Sérgio Lima) sabia que a gente trabalhava na parte de publicidade", explica Cristiano. "E a gente se identificou com essa história. Porque quando vamos criar uma música, a gente tem que se identificar", completa o irmão.

"Nossa primeira ideia foi mais na linha gospel mesmo. E os tópicos que ele mandou foram certeiros, mexeram com a gente. Porque o intuito é você mexer com as pessoas", diz o cantor.

Os publicitários aprovaram a música, mas depois ficaram um bom tempo sem falar com eles. "Ficamos muito tempo atrás, mas ninguém mais ligou para a gente, sumiram", diz Cristiano.

Mesmo assim, enquanto faziam o novo DVD, mostraram 'Capitão do povo' ao produtor e decidiram gravar em estúdio. "Eu falei: 'A única coisa que a gente quer é as guitarras com uma pegada dos anos 90. E aí ficou muito com a cara com as coisas que o Zezé (di Camargo) cantava". diz Mateus.

A resolução da história envolve o empresário Elon Musk, que visitou o Brasil em maio de 2022 e se encontrou com Bolsonaro no interior de São Paulo. Eles foram chamados para cantar no hotel para os convidados do evento. Bolsonaro aproveitou para mostrar a música em uma "live" no Facebook.

"Capitão do povo" começou a viralizar na mesma hora, com um corte da versão ao vivo mesmo, com Mateus e Cristiano cantando em voz e violão ao lado de Jair Bolsonaro, o candidato a vice, Braga Netto, e o empresário Luciano Hang.

A música foi adotada na campanha, em versão de estúdio. Ela entrou nas paradas virais do Spotify e do TikTok logo após o primeiro turno da eleição. "Foi uma loucura, a gente recebeu pedido de deputado do Brasil inteiro, até de senador, para gravar vídeo, mas não tinha nem tempo", diz Cristiano.

Eles não fizeram outros jingles. Agora, a dupla não está focada na política, mas no projeto do novo DVD ao vivo. Eles também vão lançar um EP com músicas religiosas, aproveitando o potencial que descobriram na interseção entre o gospel e o sertanejo.

Como 'Baile de favela' ganhou paródia bolsonarista

Tales Volpi, conhecido Mc Reaça, morreu aos 25 anos em Valinhos

Reprodução/Facebook/Tales Volpi

"Baile de favela" foi lançada em 2015 e se tornou um marco do funk paulista, com uma ode à periferia. O funk também embalou a ginasta Rebeca Andrade, filha de uma comunidade paulista, na Olimpíada de Tóquio. Mas uma paródia em 2018 deu novo sentido à música: apoio a Jair Bolsonaro.

A letra original de "Baile de favela" exalta os bailes do Helipa, Marconi, Eliza Maria, Rua Sete, São Rafael e outros fluxos de "quebrada" famosos. Ela foi o grande hit do réveillon no Brasil de 2015 para 2016, época em que o funk de SP se expandia.

O sucesso mudou a vida de MC João. Ele cresceu na periferia da Zona Norte de SP, na Jova Rural, comunidade próxima à de Rebeca Andrade, Vila Fátima, em Guarulhos. João perdeu o pai e sustentava a família desde os 17 anos.

A letra também causou polêmica pelo verso “vai voltar com a x... ardendo”. O MC negou que fosse um incentivo à violência contra a mulher. “No funk digo que "ela veio quente". A gente está no clima, ela quer”, disse, defendendo o consentimento da personagem da letra.

Tales Volpi, que ficou conhecido entre os defensores de Bolsonaro como MC Reaça, criou uma paródia de "Baile de favela", que se espalhou em atos de apoio na eleição de 2018.

A letra tem xingamentos contra a esquerda, em especial contra feministas, chamadas de "cadelas": "Dou pra CUT pão com mortadela / E pras feministas ração na tigela / As mina de direita são as top, mais bela / Enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela", ele canta.

Ele ataca mulheres parlamentares de esquerda na letra: "Maria do Rosário não sabe lavar panela / Jandira Feghali nunca morou na favela".

O músico também critica Paulo Freire e exalta Olavo de Carvalho: "Essa juventude só se degenera / Pega o Paulo Freire e manda pra estratosfera / Um Brasil pra frente é o que o povo espera / Vamo distribuir livro do Olavo pra galera".

Tales Volpi, o MC Reaça, morreu no dia 1º de junho de 2019, aos 25 anos. O corpo dele foi encontrado na Rodovia Dom Pedro I (SP-065) em Valinhos (SP). A morte foi registrada como suicídio.

Jair Bolsonaro postou uma nota de pesar: "Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil".

No dia da morte, a namorada de Tales, então aos 28 anos, registrou boletim de ocorrência de agressão contra o músico. O caso foi registrado como lesão corporal e violência doméstica. A jovem deu entrada no hospital com edemas na face e no olho, além de fraturas no maxilar.

Um dos vídeos postados por MC Reaça com a música foi removido do YouTube por violar a política contra discurso de ódio no site. Há outra versão, postada por um canal não oficial, que tem 2,5 milhões de visualizações.

A paródia com a letra de MC Reaça não aparece no Spotify, principal plataforma de streaming do mundo, nem no app popular de vídeos TikTok. Mesmo assim, um fenômeno aconteceu durante a campanha de 2022: versões instrumentais de "Baile de favela" viralizaram nestes apps.

No Spotify, um remix sem vocais de "Baile de favela", lançado em 2016 pelos DJs Piero da Vinci e Fr4nk Cr4nk (também sem conotação política indicada nos vídeos e material político de remix dos DJs), chegou às paradas virais na véspera da votação do primeiro turno de 2022.

No TikTok o motivo da faixa ter viralizado fica mais claro: todos os vídeos em que ela é compartilhada são de apoiadores de Jair Bolsonaro. São ao menos 20 mil vídeos recentes, alguns deles com mais de 100 mil visualizações, exaltando o candidato do PL. A letra do MC Reaça fica implícita.

O g1 procurou MC João para falar sobre a faixa, e ele disse que essa versão remix não teve o lançamento autorizado por ele, como autor original. Ele disse que iria procurar a gravadora para resolver a situação. Ele não quis comentar o uso político da sua música.

Como 'Vai dar PT' virou hit nos comícios de Lula

MC Rahell

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Em 2017 "Vai dar PT" mudou a vida de Lucas Rafael Santos Lima, o MC Rahell. Ele largou o trabalho de garçom em Belo Horizonte e assinou contrato com uma agência de funk em São Paulo. Cinco anos depois, o sucesso ganhou um inesperado 2º turno, impulsionado por apoiadores de Lula (PT).

"Vai dar PT" começa com uma pergunta: "Foi pro baile muito louca, a fim de se envolver / Só tem 18 anos, o que vai acontecer?". Aconteceu muita coisa:

O funk que ele tinha escrito em 2015 ganhou a base de um amigo de BH, o DJ Gbeatz, em 2016. Foi sucesso em Minas Gerais e se espalhou pelo Brasil.

Ele diz que nem passou pela cabeça dele na época a associação do "PT" com o Partido dos Trabalhadores. Ele cantava sobre a "perda total" depois de uma noite de bebida.

Rahell assinou contrato com a RW, uma das maiores produtoras do funk paulista na época, e se mudou para São Paulo.

A RW pagou um clipe no canal do Kondzilla, a grande vitrine do funk. Eles também bancaram uma nova versão do funk produzida pelo MC Fioti.

O clipe foi gravado na mesma semana de outro do Fioti, "Bum bum tam tam" (que, curiosamente, também virou hit involuntário da esquerda anos depois em apoio ao Butantan).

"Vai dar PT" estourou de vez com o clipe e ainda atingiu o público do pagodão baiano: Léo Santana gravou uma versão no ritmo, o que popularizou mais a música.

Rahell viajou o Brasil e até fez shows no exterior no embalo de "Vai dar PT". Mas nunca mais teve um sucesso tão grande.

Ele diz que no ano passado, quando Lula voltou a ser elegível, amigos avisaram a ele que a música, já cantada por apoiadores do PT, ia estourar de novo. Foi o que aconteceu.

Agora, ele comemora o segundo turno de sucesso da música, mas lamenta a divisão política: Rahell diz que tem dois shows marcados em Chapecó (SC). No primeiro, para um público de comunidade, os promotores estão usando muito "Vai dar PT" para divulgar. O segundo show é em uma boate de classe alta, e o contratante pediu para ele não tocar "Vai dar PT".

Rahell cresceu na comunidade do Morro das Pedras, na Zona Oeste de BH, e aprendeu a cantar no coro de uma igreja evangélica aos 9 anos. Depois, se encantou pelo funk. "Quando criei 'Vai dar PT', sabia que ia explodir. Eu tenho noção dessa coisa de música e melodia por causa da igreja", ele diz.

Ele trabalhava como garçom no Rancho do Boi do Belvedere, bairro de classe alta na Zona Sul de Belo Horizonte. O sonho dele era cantar no Chalezinho, boate famosa entre o público jovem e rico da capital mineira.

"Eu falava para os meus clientes no restaurante: 'eu fiz essa música e tenho certeza que vai estourar'. E ficava cantando para eles", lembra Rahell. "Eles rachavam (riam) e diziam que música era 'top'."

Rahell gravou a música com produção do amigo Gbeatz e a previsão para os clientes se confirmou "A música foi andando, e dali a pouco explodiu tanto que eu tive que vir para São Paulo", ele conta.

A agência que o contratou pediu uma nova versão feita pela sua grande aposta da época, o MC Fioti. Mas Rahell queria que o clipe saísse com a produção original, de Gbeatz.

Por isso o sucesso se espalhou com duas bases até hoje: no YouTube ficou a primeira versão. No Spotify e outras plataformas de streaming, ficou a produção refeita pelo MC Fioti - com estilo bem semelhante ao do megahit "Bum bum tam tam", lançada só duas semanas depois.

Na época, a RW tinha uma geração de artistas prestes a despontarem: "Quando cheguei na empresa, tinha eu, Fioti, Lan, Mirella, estava todo mundo tentar estourar ali, começando a engatinhar. Todo mundo com sua musiquinha batendo", ele lembra.

"Aí eu fui e gravei 'Vai dar PT'. Mas eu gravei e logo depois voltei pra BH para trabalhar de garçom. Porque a música já estava estourada, mas ainda não estava me dando dinheiro", ele conta.

O sucesso o levou de vez para SP, onde ele mora até hoje, aos 32 anos com um filho e a esposa, grávida do segundo.

A demanda por shows foi tão grande na época que o jogo virou: ele teve que recusar uma data proposta pela sonhada boate Chalezinho. Ele foi bem mais longe: fez shows em Portugal, Reino Unido, França, Alemanha e Japão.

Rahell teve outros sucessos menores em 2018, como "Noite passada" e "Vai com o bundão". Em 2020, lançou a música "Vai dar PT 2". O clipe tem 600 mil visualizações no YouTube, bem longe das 60 milhões do hit de 2017.

Ele não conseguiu ficar tão conhecido quanto a própria música. Tanto que, entre quem não acompanha muito funk, tem gente que acha que a música é do Léo Santana. "Eu sou fã do Léo e muito grato a ele, que ajudou a minha música a chegar mais longe ainda", diz, sem ressentimento.

"Mas eu acho que na época que eu estourei faltou uma assessoria, para o pessoal saber quem eu era, quem cantava aquela música", avalia Rahell.

Ele quer aproveitar melhor a nova chance. No domingo (2), as eleições fizeram "Vai dar PT" voltar às paradas nacionais do Spotify, feito raro para uma música de cinco anos atrás: a versão de Léo Santana ficou em 152º lugar e a de Rahell em 154º.

As duas versões também estão na parada viral, das músicas que se espalham mais rápido no Spotify: a versão de Rahell em 20º e a de Léo Santana em 51º. A música também entrou na lista de faixas virais do TikTok.

Junto com o sucesso, o cantor também colhe os resultados do ressentimento político. "Eu vou cantar em duas baladas em Chapecó: uma mais 'playboy' e outra da 'quebrada', ele conta.

"Na festa da 'quebrada', o promotor divulga só com 'Vai dar PT', posta o clipe o tempo inteiro. Na outra, o cara pediu para eu fazer um vídeo e disse que eu não podia cantar 'Vai dar PT", diz Rahell. "Eu falei: 'Mas tá estourada'. E ele falou: 'Não, aqui o pessoal é Bolsonaro'", diz o músico.

"Para você ver aonde as coisas estão chegando", MC Rahell comenta. "Eu gosto mais do Lula do que do Bolsonaro. Mas eu respeito os outros. O Neymar gosta do Bolsonaro. Eu não vou deixar de seguir ele por causa disso. Não tem lógica, entendeu?"

Fonte: G1

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