Grêmio Náutico União foi fundado em 1906 e é um dos mais tradicionais de Porto Alegre. Polícia Civil investiga suspeita de racismo durante apresentação do cantor em salão da entidade. Fachada de sede do Grêmio Náutico União em Porto Alegre
GNU/Divulgação
Um dos clubes mais tradicionais de Porto Alegre, o Grêmio Náutico União (GNU) é um dos personagens da investigação de racismo durante um show do cantor Seu Jorge na sexta-feira (14). O artista se apresentava na reinauguração de uma sala da entidade quando teria sido chamado de "macaco" por frequentadores.
A Polícia Civil solicitou o fornecimento de imagens de câmeras de segurança do clube para apurar a ocorrência. Nesta terça-feira (18), a presidência do GNU prestou solidariedade a Seu Jorge e disse que deve fornecer à polícia a íntegra das gravações do show. O clube pretende ligar ao artista para oferecer apoio.
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Personalidades prestam solidariedade a cantor
A história do GNU é marcada pela influência alemã, pelas sedes em zonas de alto padrão em Porto Alegre e pela formação de atletas de renome. Conheça abaixo a história do clube.
Seu Jorge sofre ataques racistas ao fim de show em Porto Alegre
Origem alemã
O Grêmio Náutico União foi fundado em 1906 por um grupo de seis jovens remadores de origem alemã. O primeiro nome do clube era "RuderVerein-Freundschaft", Sociedade de Regatas Amizade em alemão. Em 1917, em meio à Primeira Guerra Mundial, a entidade trocou de nome, adotando a atual identidade.
Em dissertação de doutorado apresentada em Portugal sobre os clubes de origem germânica na Capital, a pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Janice Zarpellon Mazo afirma que a mudança de nome provocou "problemas internos corn os associados que não aceitavam a nacionalização".
Piscina em sede do Grêmo Náutico União em Porto Alegre
GNU/Divulgação
Atletas de renome
Dezenas de atletas do GNU representaram o Brasil em Jogos Olímpicos e Paralímpicos, além de torneios internacionais de diversas modalidades. Os ginastas Daiana dos Santos e Mosiah Rodrigues e o esgrimista Guilherme Toldo foram formados no clube.
A primeira vez que o clube levou atletas para os Jogos Olímpicos foi em 1960, em Roma, com a equipe de remo composta por Paulino Gonçalves Leite, Harry Edmundo Klein, Ernesto Neugebauer e Francesco Todesc.
Nas atividades de alto rendimento, o GNU mantém equipes de basquete, esgrima, ginástica artística, ginástica rítmica, judô, natação, remo, tênis e vôlei.
Ginasta Daiane dos Santos, formada no Grêmio Náutico União
Divulgação
Sedes
O Grêmio Náutico União possui quatro sedes em áreas nobres de Porto Alegre, destinadas a sócios que praticam esportes e atividades físicas, além de espaços para atividades sociais.
No bairro Alto Petrópolis, o clube abriga salões sociais e quadras de tênis. No bairro Moinhos de Vento, o clube administra piscinas e quadras para prática de esgrima, basquete, ginástica artística, judô, natação e vôlei. Além disso, o GNU é proprietário de uma área na Ilha do Pavão, entre o Rio Jacuí e o Guaíba, e de uma quarta sede incorporada em 2017.
Segundo o clube, a entidade reúne mais de 60 mil associados e cerca de 450 colaboradores.
Sede do Grêmio Náutico União no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre
GNU/Reprodução
Entenda a polêmica
O cantor Seu Jorge foi contratado para se apresentar em um jantar que marcava a reinauguração de um salão do clube. Ele afirma ter passado a ouvir ofensas após apresentar o artista Pedrinho da Serrinha, um adolescente negro de 15 anos que fazia parte do show.
"Quando a gente olha para um garoto de 15 anos, adolescente, e ele é branco, a gente continua vendo um adolescente. Mas, muitas das vezes, quando a gente olha para um adolescente negro de 15 anos, a gente, muitas das vezes, a gente pensa em redução da maioridade penal", disse, em entrevista à Globonews.
Em seguida, pessoas presentes na plateia começaram a ofender Seu Jorge, comenta a testemunha ouvida pelo g1 que não quer ser identificada.
"Começaram a gritar 'mais um, mais um', mas, logo em seguida, alguns sons de 'uh, uh'. Primeiro, eu pensei que estavam vaiando. E já parecia estranho pra mim uma pessoa num show começar a vaiar. Depois, eu vi que eram movimentos de macaco. Cheguei a ouvir 'negro vagabundo, vagabundo' e, depois, pessoas gritando 'mito, mito'", contou.
O presidente do Grêmio Náutico União, Paulo José Kolberg Bing, foi intimado a depor na quinta-feira (20). Ele disse não ter presenciado atos de racismo e se solidarizou com o artista.
"Quero me solidarizar com ele porque, realmente, uma manifestação de ato de racismo é uma coisa intolerável e que nos não podemos compactuar e tolerar aqui dentro do União", afirma.
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