O cinema visceral de David Cronenberg retorna ao Festival de Cannes com 'Crimes of the future'

Por Redação em 23/05/2022 às 22:34:00
Diretor disputa a Palma de Ouro com filme 'gore' com Viggo Mortensen, Kristen Stewart e Léa Seydoux. Léa Seydoux, David Cronenberg, Viggo Mortensen e Kristen Stewart antes da projeção de 'Crimes of the future' no Festival de Cannes 2022

Christophe Simon/AFP

David Cronenberg se manteve fiel à sua reputação de mestre do "gore" com seu novo filme "Crimes of the future", apresentado nesta segunda-feira (23) no Festival de Cannes 2022, com o qual manteve sua obsessão por corpos e vísceras.

Ambientado em um mundo em ruínas onde não existe a dor, o filme é protagonizado pelo ator fetiche do cineasta, Viggo Mortensen, na pele de um artista que exibe seus próprios órgãos ao vivo.

Léa Seydoux como uma especialista do bisturi, e Kristen Stewart, como agente da polícia, completam o elenco desta história macabra, cujo lema é "a cirurgia é o novo sexo".

"Neste filme, tentei ver o que tinha dentro do corpo", disse Cronenberg à AFP.

"Meu interesse não é chocar e meu objetivo não é que as pessoas saiam do cinema, mas pode acontecer", admitiu o diretor de 79 anos.

Os primeiros minutos do filme já são tensos, com a cena de um menino que acaba de ser asfixiado.

'À frente de seu tempo'

"Tem coisas que não gostaria de ver, mas são muito específicas. Não gosto da crueldade, sobretudo a crueldade com as crianças (...) Não vou dizer que me choca, mas não gosto de ver", admite o cineasta, que tem três filhos e quatro netos.

Cronenberg conhece bem o gênero "gore". A primeira vez que competiu ao prêmio máximo em 1996 com "Crash", uma história de sexo e acidentes de carro, levou o Prêmio Especial do Júri.

Foi precisamente este filme polêmico que inspirou a diretora francesa Julia Ducournau, que ganhou a Palma de Ouro em 2021 com "Titane", que mistura sexo e automóveis.

Com "Crimes of the future" é a sexta vez que este cineasta cult, autor de "A Mosca" e "eXistenZ", disputa a Palma de Ouro.

Nesta segunda, no tapete vermelho, Cronenberg, com óculos escuro para se proteger dos flashes, esteve acompanhado de seus atores principais.

Ele tem uma relação especial com Mortensen. Trabalharam juntos em múltiplas ocasiões, entre elas "Um método perigoso" (2011) e "Marcas da Violência" (2005).

"Temos uma amizade com David e uma confiança que me permite me deixar tentar coisas inusitadas que não tentaria forçosamente com outros, sem saber se o pedem pelo valor de um plano ou por um espetáculo", disse o ator à AFP.

Para ele, Cronenberg está "à frente de seu tempo" e seus filmes têm que ser vistos "quatro ou cinco vezes seguidas" para entendê-los.

Convidado inusitado

Nesta segunda também foi exibido "Heojil kyolshim", de Park Chan-wook, outro na disputa pela Palma de Ouro.

O diretor sul-coreano, que ganhou fama com o ultraviolento "Oldboy" em 2003, apresentou agora um trilher complexo e sofisticado, com romance incluído entre o policial e a suspeita de um crime.

Metade dos 21 filmes em disputa pela Palma de Ouro já foi apresentada e alguns começam a se destacar.

Entre eles "Triangle of sadness", uma sátira mordaz sobre o mundo atual do sueco Ruben Ostlund.

James Gray apresenta "Armageddon Time", um retrato de Nova York dos anos 1980 pelos olhos de um menino e de seu colega de classe negro.

"Tchaikovksi wife", de Kirill Serebrennikov, emocionou na estreia da competição, mas foi ofuscado pela polêmica presença de seu diretor russo, criticada por cineastas ucranianos.

O diretor iraniano Ali Abbasi surpreendeu com "Holy spider", que descreve a violência contra as mulheres em seu país.

A surpresa da mostra competitiva ficou com "Eo", do veterano cineasta polonês Jerzy Skolimowski, protagonizado por... um burro. Nesta ode à defesa dos animais e contra os maus tratos, o equino faz um périplo por vários locais insólitos para ele e descobre a violência humana.

Grandes nomes do cinema, já premiados anteriormente, ainda devem ser exibidos no festival. Entre eles estão "Tori and Lokita", dos irmãos Dardenne, sobre a amizade de dois jovens africanos exilados na Bélgica e "Broker", do japonês Hirokazu Kore-eda, laureado em 2018 por "Assunto de família".

O júri, presidido pelo ator francês Vincent Lindon, revelará o vencedor em 28 de maio.

Fonte: G1

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