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Vídeo mostra pedreiro baleado em condomínio na Barra caído ao lado de carro; família cobra investigação

Por Redação em 21/05/2022 às 04:40:50
Claiton Jorge Pereira da Costa, de 40 anos, foi baleado na cabeça por vigilantes de condomínio de luxo. Vídeo mostra pedreiro caído ao lado de carro após ser baleado em condomínio

Imagens obtidas com exclusividade pelo g1 mostram os momentos seguintes à ação que terminou com o pedreiro Claiton Jorge Pereira da Costa, de 40 anos, sendo baleado na cabeça por seguranças de um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.

A gravação não mostra os vigilantes da empresa Hawk atirando no carro de Clailton. Essa, inclusive, é uma das cobranças feitas pela família do pedreiro, que exige uma investigação sobre o caso. Segundo a polícia, a Justiça não determinou que o caso fosse apurado (veja a íntegra da nota no final do texto).

Clailton Costa, de 40 anos, foi morto por seguranças

Reprodução

O trecho disponibilizado pelo condomínio à polícia, e depois aos parentes de Clailton mostra o pedreiro, atingido por um tiro na cabeça, caído ao lado do próprio carro, em cima de um quebra-molas. Enquanto isso, quatro vigilantes do condomínio Del Lago estão ao redor do veículo.

O g1 tenta entrar em contato com a empresa de vigilância do condomínio.

Quatro meses sem resposta

A família de Claiton Jorge Pereira da Costa está há quase quatro meses depois. O pedreiro foi alvo de cinco disparos feitos por seguranças do Condomínio Del Lago que o acusavam de roubar materiais de obras das mansões do conjunto residencial.

Socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra, Clailton passou 11 dias em coma induzido. O pedreiro não resistiu ao ferimento e morreu às 12h55 do dia 8 de fevereiro.

Família cobra investigação da morte de pedreiro baleado há 4 meses em condomínio na Barra

"Quando eu cheguei no hospital, ele [irmão de Claiton] segurou no meu ombro e falou: 'cunhada, ele não sofreu acidente, não. Ele tomou um tiro na cabeça'. Eu caí no chão na hora. Eu falei: 'mataram meu marido! Tiraram a vida do meu marido! Por que fizeram isso com ele?' Meu cunhado falou: 'não sei'.", contou ao g1 a viúva, Kelly Cristina Silva.

Segundo o advogado de defesa que representa a família de Clailton, as circunstâncias da morte não foram investigadas pela polícia ou pelo Ministério Público. Além disso, como informou a polícia, a Justiça também não determinou que haja apuração do caso.

"Foi feito tudo de qualquer maneira. (...) Tem alguma coisa errada nisso aí. Fizeram uma covardia", acrescentou a viúva.

O advogado da família, José Dimas Marcondes, contou que a defesa precisou "provocar" o Estado para que diligências fossem feitas.

"Nós tivemos que provocar o estado para que fizessem as diligências necessárias. O laudo pericial do carro, se existe, não tivemos acesso. As câmeras de segurança, foi o mesmo requerimento que fiz na delegacia...O momento do disparo, da abordagem, não tivemos acesso até agora."

Clailton morreu após ser baleado em condomínio de luxo na Zona Oeste

Arquivo Pessoal

Tiro na cabeça

Clailton Jorge Pereira da Costa, 40 anos. Cor: preta. Causa da morte: ferimento penetrante do crânio com laceração do encéfalo; projétil de arma de fogo. As informações constam na Certidão de Óbito do pedreiro, morador de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, e pai de oito filhos.

Eram por volta de 5h da manhã do dia 28 de janeiro quando Clailton foi baleado na cabeça dentro do Condomínio Del Lago. Segundo a viúva, Clailton trabalhava havia 19 anos no conjunto residencial onde mansões não são vendidas por menos de R$ 6 milhões.

Carro ficou com marca de tiro no vidro traseiro; seguranças dizem que miraram nos pneus

Reprodução

Os autores de cinco disparos contra o carro de Clailton são dois vigilantes do condomínio, funcionários da empresa de segurança Grupo Hawk. O g1 não conseguiu entrar em contato com a companhia.

Na 16ª DP (Barra da Tijuca), o caso foi registrado pelos seguranças como tentativa de roubo. Um PM do 31º BPM (Barra da Tijuca), que atendeu a ocorrência, também narrou na delegacia como tudo teria acontecido, endossando a versão dos vigilantes.

Nos depoimentos, os seguranças do condomínio Eduardo do Nascimento Gonçalves e Felipe Oliveira Vieira alegaram ter atirado porque Clailton tentou fugir com materiais furtados de obras nas mansões.

Apresentados na delegacia, os objetos que os vigilantes disseram ter encontrado no carro de Clailton foram:

sete baldes de massa acrílica

um pen drive

um ancinho de jardim

um rolo de 20 metros de fio de cobre para ar condicionado.

Painel do carro de Cleiton ficou com marcas de sangue

Reprodução

As versões dadas pelos seguranças na 16ª DP, quase idênticas, narram que Clailton não teria acatado a ordem deles para permanecer com o carro no condomínio até que a polícia chegasse no local.

Felipe e Eduardo acrescentaram que o ajudante de pedreiro agiu com “extrema violência” ao arrancar com o carro durante a abordagem e tentar fugir.

Eles concluem os depoimentos da mesma forma: “em razão dos fatos, em legítima defesa, efetuou os disparos”.

Mira no pneu, tiro na cabeça

Outro detalhe é que ambos alegaram ter mirado nos pneus do carro de Clailton, mas fotos mostram que ao menos um disparo atingiu o vidro traseiro do veículo.

A delegada Marise Martinez Furtado encaminhou o auto de prisão em flagrante do pedreiro à Justiça, e o caso também foi comunicado ao Ministério Público.

Claiton foi indiciado por roubo e permaneceu preso até morrer no hospital. Os seguranças foram liberados e o homicídio, segundo a família e o advogado que a representa, não foi investigado.

"Eu quero justiça. Os caras que fizeram têm que ser presos porque eles tiraram a vida de um pai de família. Eles destruíram a nossa família. Eles acabaram com a minha vida. Eles destruíram a vida dos meus filhos", diz a viúva.

Interior do carro do ajudante de pedreiro

Reprodução

MP foi contrário a pedido da defesa

No processo em que Clailton era réu pelo suposto roubo, o promotor de Justiça José Antônio Fernandez Souto foi contrário ao pedido da defesa para que os dois vigilantes que atiraram no pedreiro passassem a responder pelo homicídio.

O promotor alega que o artigo 31 do Código Penal "se refere ao falecimento do ofendido e não do réu". Sendo assim, o representante do MP acrescenta que "o processo criminal, naturalmente, não pode prosseguir, tendo este último [Clailton] falecido".

"A apresentação dos dois vigilantes que prenderam o acusado e efetuaram os disparos citados na denúncia, para responderem por homicídio, é também um pedido juridicamente impossível, podendo somente ser instaurado inquérito para apurar as circunstâncias e a autoria da morte do acusado, o que, diante da notícia de sua morte por PAF [perfuração por arma de fogo], já deve inclusive ter ocorrido."

Entretanto, conforme a polícia informou abaixo a equipe de reportagem, não houve determinação da Justiça para que a morte fosse apurada.

Na manifestação, o MP opinou pela extinção da punibilidade de Clailton, o que foi acatado pela juíza em exercício Luciana Fiala de Siqueira Carvalho, da 31ª Vara Criminal da Capital.

O que diz a polícia

Em nota, a Polícia Civil informou que, "de acordo com as investigações da 16ª DP (Barra da Tijuca), Clailton Jorge Pereira da Costa teria cometido furto de materiais de obras das residências localizadas no condomínio".

"Ele teria jogado o carro para cima dos seguranças, que revidaram, em legítima defesa. O homem foi preso em flagrante e levado para uma unidade de saúde, mas acabou não resistindo. A Justiça não determinou a apuração da morte e extinguiu a punibilidade pelo falecimento do réu", diz o texto.

Fonte: G1

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