PF investiga esquema de suborno de madeireiros a lideranças indígenas para desmatar terras protegidas em MT

Por Redação em 12/04/2022 às 11:19:23
Área de terra indígena foi degradada por desmatamento ilegal em MT

Área de terra indígena foi degradada por desmatamento ilegal em MT

Segundo as investigações, os madeireiros teriam ofertado cerca de R$ 70 mil para a retirada de madeira ilegal.

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (12) a Operação Escudo de Palha para investigar o desmatamento ilegal na Terra Indígena Menkragnoti, nas proximidades da aldeira Kotori, no em Peixoto de Azevedo, no norte de Mato Grosso. Os madeireiros estariam subornando as lideranças indígenas da aldeia Kororoti para a retirada de madeira ilegal.

Esta já é a quarta operação que investiga o envolvimento de lideranças indígenas em ações que permitem a degradação ambiental de terras indígenas em Mato Grosso no último mês.

Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Federal de Sinop, nas cidades de Matupá, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo, além da cidade de Iporá, em Goiás.


Policiais federais cumpriram mandados de busca em madeireiras — Foto: Polícia Federal/MT
Policiais federais cumpriram mandados de busca em madeireiras


A ação faz parte do programa Guardiões do Bioma.

A investigação teve início em fevereiro de 2022, após denúncia recebida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) de Cuiabá, relacionada à extração ilegal de madeira na terra indígena.

Segundo a denúncia, nas proximidades da aldeia, havia cerca de dois mil metros cúbicos de madeiras cortadas e prontas para serem retiradas. Os madeireiros da cidade de Peixoto de Azevedo teriam cooptado as lideranças indígenas da aldeia Kororoti, ofertando cerca de R$ 70 mil para a retirada dessa madeira.

Com base na denúncia, no mesmo mês, foi realizada uma ação conjunta entre Polícia Federal, Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Delegacia do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), que se deslocaram até o local e detectaram, após sobrevoo de helicóptero, o desmatamento e a existência de madeiras cortadas.


Operação da PF investiga desmatamento ilegal em terras indígenas — Foto: Polícia Federal/MT
Operação da PF investiga desmatamento ilegal em terras indígenas


Na ocasião, dentro da terra indígena e nos seus arredores, foram realizadas apreensões de arma e veículos pelo Ibama.

Devido às condições de conservação dos veículos, associado ao fato dos locais em que foram encontrados serem de difícil acesso e com a finalidade de parar o crime ambiental, eles foram destruídos.


Operação da PF investiga desmatamento ilegal em terras indígenas — Foto: Polícia Federal/MT
Operação da PF investiga desmatamento ilegal em terras indígenas


Os mandados cumpridos desta terça-feira têm foco nos possíveis participantes dos crimes, dentre eles madeireiros e uma liderança indígena.

Os investigados podem responder pelos crimes ambientais de desmatamento e obstrução a ação fiscalizadora do Poder Público, com penas de até 4 anos de reclusão e 3 anos de detenção, respectivamente, e associação criminosa, com pena de até 3 anos de reclusão, dentre outros crimes.

O nome da operação, Escudo de Palha, é decorrente da aparente proteção que os indígenas locais empreendiam em favor da floresta, quando na verdade a proteção era facilmente deixada de lado por suborno feito à liderança local.


Operação da PF investiga desmatamento ilegal em terras indígenas e cumpre mandados em cidades de MT — Foto: Polícia Federal/MT
Operação da PF investiga desmatamento ilegal em terras indígenas e cumpre mandados em cidades de MT


Indígenas envolvidos em ações de degradação ambiental

Esta já é a quarta operação que investiga o envolvimento de servidores da Funai e de lideranças indígenas em ações que permitem a degradação ambiental de terras indígenas em Mato Grosso no último mês.


Arrendamentos de terra para criação de gado rendia cerca de R$ 90 mil por mês — Foto: Polícia Federal
Arrendamentos de terra para criação de gado rendia cerca de R$ 90 mil por mês



No dia 17 de março, a Polícia Federal deflagrou a Operação Res Capta, para desarticular um suposto esquema de corrupção que envolvia fazendeiros, lideranças indígenas e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai), que faziam arrendamentos ilegais na Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé, a 1.064 km de Cuiabá, para criação de gado.

Durante a investigação foi constatado que servidores da Funai em Ribeirão Cascalheira estariam cobrando valores de grandes fazendeiros da região para direcionar e intermediar arrendamentos no interior da Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé.


Esquema envolvia fazendeiros, lideranças indígenas e servidores da Funai — Foto: PF/MT
Esquema envolvia fazendeiros, lideranças indígenas e servidores da Funai


Além da propina aos servidores, os 15 arrendamentos estariam gerando repasses de aproximadamente R$ 900 mil por mês ao Cacique Damião Paridzané.


Cacique Damião é suspeito de receber R$ 900 mil por mês para autorizar fazendeiros a usarem área, segundo a PF — Foto: Facebook/Reprodução
Cacique Damião é suspeito de receber R$ 900 mil por mês para autorizar fazendeiros a usarem área, segundo a PF


Apenas em quatro dos 15 arrendamentos ilícitos, os peritos criminais federais estimaram o valor para reparação do dano ambiental em R$ 58,1 mil.

Um vídeo mostra coordenador da Funai e o sargento da PM negociando o arrendamento.

Quatro dias depois, no dia 21 de março, um cacique e um chefe da coordenação técnica local da Funai de Aripuanã, a 976 km de Cuiabá, foram presos na Operação Ato Reflexo, suspeitos de envolvimento em esquema de extração de ouro ilegal feita por garimpeiros na região.


Operação Ato Reflexo apura garimpo ilegal em Terra Indígena Aripuanã (MT) — Foto: Polícia Federal
Operação Ato Reflexo apura garimpo ilegal em Terra Indígena Aripuanã (MT)


O cacique é suspeito de receber 20% do ouro extraído da Terra Indígena Aripuanã, da etnia Cinta Larga.

Durante as investigações, foi constatado que um servidor da Funai trabalhava como 'agente duplo' utilizando a função pública para repassar, previamente, informações a alguns garimpeiros sobre a realização de operações de crimes ambientais realizadas por policiais federais e pelo Ibama.


Tora retirada de terra indígena foi encontrada em empresa madeireira — Foto: Polícia Federal
Tora retirada de terra indígena foi encontrada em empresa madeireira


A Operação Ato Reflexo foi resultado da Operação Onipresente, que também investiga os garimpos ilegais e o desmatamento em terras indígenas.

Na última quarta-feira (6), durante a operação Onipresente, um empresário do setor madeireiro foi preso em flagrante por suspeita de desmatamento na Terra Indígena Serra Morena, em Juína, a 737 km de Cuiabá.

Na ocasião, foram encontradas várias toras cortadas na terra indígena, que, posteriormente, seriam retiradas por caminhões e levadas para madeireiras.


Fonte: G1

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