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Economia

PIB do 3º trimestre mostra lentidão e traz de volta discussão sobre "estagflação", dizem economistas


Analistas dizem que inflação elevada e aumento dos juros atrapalham a retomada da economia, como se viu em outros países desde o choque da pandemia do coronavírus. O resultado decepcionante do PIB brasileiro no 3º trimestre era esperado por economistas ouvidos pelo g1, mas os números trazem de volta para a mesa a discussão sobre o país estar passando por um processo de “estagflação”, quando a economia sofre com inflação em alta e crescimento paralisado.

As quedas de 0,4% no segundo e de 0,1% no terceiro trimestre deste ano ligam um sinal de alerta, que especialistas chamam de “recessão técnica”.

“Mais que a "recessão técnica", a sensação de estagflação está consolidada. Mesmo para o Brasil, uma inflação acima de 10% é elevada e o PIB mostra que a economia parou de vez há 2 trimestres”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

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Vale lembra que, apesar de a inflação ter se tornado um problema em uma porção de países pelo mundo, o processo de recuperação de economias estrangeiras após o choque inicial da pandemia do coronavírus foi robusto com a retomada dos serviços. O Brasil, porém, não conseguiu colher os mesmos efeitos desde março.

Segundo Vale, com preços mais altos e subida dos juros, a expectativa de quem gostaria de retomar atividades e intensificar compras esbarra no limite de renda.

"No momento que poderíamos aproveitar o consumo de serviços, de alto peso no PIB, a renda não permite. Estamos perdendo a chance por conta de erros na condução econômica", afirma Vale.

Recuperação em raiz quadrada

Economia g1

Para Chico Pessoa, economista da LCA Consultores, há setores relevantes que tiveram um choque de oferta, como o automotivo, que colocam em questão o "conceito puro" de estagflação. Mas é "inegável" o problema de desenvolvimento da economia brasileira.

O especialista destaca que houve desaceleração considerável da indústria de transformação e que os próximos trimestres do setor de serviços também não devem impulsionar uma boa retomada. Para o 2020 fechado, a consultoria espera alta de 4,5%, e 1% em 2022.

“Confirmou que temos desafios muito grandes e temos algum problema estrutural de crescimento. Estamos perdendo tração e isso precisa ser resolvido”, diz o economista.

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Revisão

Outra tônica do dia foi a revisão da apuração de 2020, que teve queda menor do que a anunciada e empurrou para cima a base de comparação para este ano.

O reflexo mais evidente é o resultado da agropecuária, que teve queda de 8% no trimestre e registra o pior resultado desde 2012. Em 2020, contudo, o crescimento do setor foi revisto de alta de 2% para 3,8%.

A diferença de 1,8 ponto percentual na agropecuária foi a mais expressiva e motor para que a queda fosse reduzida de 4,1% para 3,9%. Mas não foi apenas o ajuste que causou a queda livre do setor no trimestre.

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a seca e problemas hídricos têm afetado as lavouras, que estão com expectativa de queda no ano. Ela lembra que a soja é concentrada no primeiro e segundo trimestres, mas há também a entrada de outras culturas com peso no PIB.

"No terceiro trimestre já não tem mais soja, entra café e outras culturas. Ano passado tivemos bianualidade positiva do café e não foi afetado pela pandemia, então ajudou a pecuária a subir. Nesse ano, a gente teve problema climático adverso e a bianualidade do café", diz.

Mas, para Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV e coordenadora do Monitor do PIB, o resultado do 3º trimestre mostra que os problemas vão além da agropecuária.

“O consumo do governo e o investimento também melhoraram. Mas o drama real, que é o consumo das famílias, não subiu e a perspectiva futura é de que não há um motor de crescimento”, diz Matos.

Ela afirma que todas as categorias do PIB que dependem da capacidade de renda ainda sofrem com a incerteza na economia e prejudicam a sensação de melhora — para este ano e o próximo.

G1

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