“Trabalhei durante 10 anos com futebol e cultura dentro de um Museu. Então pensei: Por que não entender da nossa cultura e história afro-brasileira através do esporte que está em todos os lugares do Brasil? Nos vídeos, apresentamos relatos de vida, arte, música, gastronomia, sociedade e o futebol como tema central. Um dos objetivos é chegar na área da educação, mostrar para crianças e adolescentes conteúdos da nossa história”, diz Mônica da Silva, jornalista, fotógrafa e diretora do curta-metragem.
A narrativa dos lugares é contada pelo olhar da própria Mônica e do facilitador esportivo chileno Sebastián Acevedo, que saíram de São Paulo com uma bola e uma câmera, ferramentas que usam no dia a dia para se conectarem com as pessoas.
“Foi a minha primeira vez na Bahia e em Pernambuco. E como chileno, percebi o quanto a bola nos aproxima sem falarmos o mesmo idioma. Joguei com diversas pessoas muito talentosas, nas quadras, nas ruas, de pés descalços nas praias e em campos de terra. Foi então que eu percebi o que faz do futebol brasileiro ser tão único, é por conta dessa mistura cultural”, conta Sebastián Acevedo, produtor do curta.
“A cultura brasileira de uma maneira geral bebeu muito sobre aquilo que é a África na sua essência, do seu povo, dos seus ritos e mitos”, ressalta Vensam Iala, de Guiné Bissau, idealizador de Visto África.
Além de Vensam, o documentário conta com a participação de outras pessoas como Dinho, pescador que joga o Baba na praia; Alla, artesão das ruas do Rio Vermelho que trata o futebol como um ato de amor; Danilo, jogador e capoeirista do Candeal que relaciona o jogo com a ginga; as Meninas Olindenses, que dão um show de empoderamento nos gramados do Olindão; o garoto Heverttony, que brinca com a bola na quadra de Lagoa do Carro; os Meninos do Bonsucesso, que dançam com a pelota de pés descalços no campo de terra; e o jogador Henrique do Cokada FC, que finaliza dizendo “o futebol está no sangue”.
Mônica e Sebastián se conectaram com dois projetos sociais que estão em lugares de influência africana. Os dois visitaram uma das comunidades mais antigas de Salvador, o Candeal, local que respira arte, música e futebol. A Escolinha Mulekada conta com a participação de aproximadamente 200 crianças e adolescentes, entre 4 e 17 anos, cujo objetivo é desenvolver trabalhos sociais e educacionais por meio da bola.
Já em Olinda, em Pernambuco, conheceram o Raízes FC, time de matriz africana que surgiu a partir do projeto Maracatu do Terreiro de Pai Adão. Eles ensinam percussão, dança e futebol para cerca de 80 participantes, entre 5 e 17 anos. Os criadores da escolinha viajaram para a Nigéria em 2013 na busca de histórias de suas famílias, que chegaram ao Brasil em 1875. “Aí você mostra para as crianças e adolescentes que o presente delas está cheio de passado, está cheio da presença dos ancestrais”, diz Diana Mendes, historiadora e ex-coordenadora do Centro de Referência do Museu do Futebol em São Paulo.
A equipe Gondwana F&C está em busca de apoiadores, parceiros e patrocinadores para que possam avançar com o projeto e gerar impacto social, econômico e cultural. Entre os objetivos, pode-se citar a intenção de fazer um fotolivro e produzir uma série em 2022 no Brasil e em países da América Latina e África, além de oferecer oficinas de fotos e futebol que permitam desenvolver pensamento crítico e outras habilidades.
O curta-metragem “Gondwana, A Bola Conecta” é uma produção independente, de 23 minutos, gravado de câmera celular e profissional, nos idiomas português, espanhol, francês e inglês, com edição e montagem do documentarista Cristiano Fukuyama.
Fonte: Gazeta Esportiva