Calendario IPVA 2024

Relatório da CPI da Covid deve responsabilizar 63 pessoas por crimes na pandemia

Por Redação em 15/10/2021 às 23:33:13
Segundo o relator da CPI, o presidente Jair Bolsonaro vai ser indiciado por 11 crimes.

Segundo o relator da CPI, o presidente Jair Bolsonaro vai ser indiciado por 11 crimes.

Entre essas pessoas, estão o presidente Jair Bolsonaro e filhos, ministros e ex-ministros, deputados e médicos. Relatório serĂĄ apresentado na próxima terça e votado na quarta.

O relatório final da CPI da Covid deve pedir o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por 11 crimes na condução da pandemia. Também devem ser responsabilizados filhos do presidente, ministros e ex-ministros, funcionĂĄrios e ex-funcionĂĄrios do governo, deputados e médicos. No total, deve propor que 63 pessoas sejam indiciadas.

Do anĂșncio da abertura da CPI, no plenĂĄrio do Senado, em 13 de abril, até hoje, os senadores interrogaram 59 pessoas na condição de convidadas, testemunhas ou investigadas.

Muitos buscaram proteção no Supremo Tribunal Federal para não ser presos, ficar calados ou não responder a perguntas que pudessem incriminĂĄ-los.

Em seis meses de trabalho, assessores do Senado, policiais federais, auditores da Receita Federal e do Tribunal de Contas da União ajudaram a analisar dados fiscais, bancĂĄrios e telefônicos, mensagens apreendidas em celulares, e-mails, telegramas diplomĂĄticos, contratos e outros milhares de documentos de domĂ­nio pĂșblico e sigilosos.

Nas mais de mil pĂĄginas do relatório, que vai ser lido na terça-feira que vem, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) deve afirmar que

o governo manteve um gabinete paralelo para dar suporte a medidas na ĂĄrea de saĂșde contra as evidĂȘncias cientĂ­ficas;

trabalhou com a intenção de imunizar a população por meio de contaminação natural, a chamada imunização de rebanho;

priorizou o tratamento precoce sem eficĂĄcia comprovada;

agiu contra a adoção de medidas não farmacológicas, como o distanciamento social e o uso de mĂĄscaras;

e, deliberadamente, atuou para atrasar a compra de vacinas.

O relatório deve dizer que o governo federal foi omisso e optou por negligenciar o enfrentamento da pandemia.

Com esse raio-X dos comportamentos e atitudes, Renan Calheiros deve indicar o cometimento de 22 crimes diferentes, entre os quais homicĂ­dio, genocĂ­dio de indĂ­genas, crimes contra a humanidade, corrupção, fraude em licitação, prevaricação e falsificação de documentos.

O relatório deve recomendar que 63 pessoas sejam indiciadas, além de uma empresa, a Precisa Medicamentos, envolvida na suspeita de corrupção na venda da vacina Covaxin ao governo federal.

Bolsonaro e filhos

Segundo o relator da CPI, o presidente Jair Bolsonaro vai ser indiciado por 11 crimes:

epidemia com resultado morte;

infração de medida sanitĂĄria preventiva;

charlatanismo;

incitação ao crime;

falsificação de documento particular;

emprego irregular de verbas pĂșblicas;

prevaricação;

genocĂ­dio de indĂ­genas;

crime contra a humanidade;

crime de responsabilidade, por violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo;

homicĂ­dio comissivo por omissão no enfrentamento da pandemia.


Relator da CPI também deve pedir o indiciamento de trĂȘs filhos do presidente Jair Bolsonaro. — Foto: Reprodução/TV Globo
Relator da CPI também deve pedir o indiciamento de trĂȘs filhos do presidente Jair Bolsonaro.


A TV Globo apurou que Renan Calheiros também deve pedir o indiciamento de trĂȘs filhos do presidente:

o senador FlĂĄvio Bolsonaro por advocacia administrativa (quando um servidor se vale do cargo que ocupa para defender interesses privados), incitação ao crime e improbidade administrativa;

o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, por incitação ao crime.


Os ministros Marcelo Queiroga, Onyx Lorenzoni e Wagner RosĂĄrio também devem ser alvo de pedidos de indiciamento. — Foto: Reprodução/TV Globo
Os ministros Marcelo Queiroga, Onyx Lorenzoni e Wagner RosĂĄrio também devem ser alvo de pedidos de indiciamento.


Ministros

O relator deve ainda indiciar trĂȘs ministros:

Marcelo Queiroga (SaĂșde), por epidemia culposa, com resultado morte e prevaricação;

Onyx Lorenzoni (Trabalho, ex-ministro da Casa Civil e da Cidadania), por genocĂ­dio de indĂ­genas;

Wagner RosĂĄrio (Controladoria-Geral da União) por prevaricação.


Os ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto AraĂșjo devem ser alvo de pedidos de indiciamento feitos pela CPI da Covid. — Foto: Reprodução/TV Globo
Os ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto AraĂșjo devem ser alvo de pedidos de indiciamento feitos pela CPI da Covid.


Ex-ministros e funcionĂĄrios

O ex-ministro da SaĂșde Eduardo Pazuello deve ser o segundo com maior nĂșmero de pedidos de indicamento — sete, só atrĂĄs do presidente Jair Bolsonaro:

epidemia com resultado morte;

incitação ao crime;

emprego irregular de verbas pĂșblicas;

prevaricação;

comunicação falsa de crime;

genocĂ­dio de indĂ­genas;

e crime contra a humanidade.

Outro ex-ministro, Ernesto AraĂșjo (Relações Exteriores), deve ser indiciado por epidemia culposa com resultado em morte e por incitação ao crime.

Também são responsabilizados funcionĂĄrios ou ex-funcionĂĄrios de alto escalão do governo, como Élcio Franco, Mayra Pinheiro, Roberto Ferreira Dias, Arthur Weintraub e FĂĄbio Wajngarten.


Seis deputados devem estar na lista de indiciados do relator da CPI da Covid, Renan Calheiros. — Foto: Reprodução/TV Globo
Seis deputados devem estar na lista de indiciados do relator da CPI da Covid, Renan Calheiros.


Deputados

Seis deputados devem estar na lista de indiciados de Renan Calheiros:

o lĂ­der do governo na Câmara, Ricardo Barros, por advocacia administrativa e improbidade administrativa;

Osmar Terra, por epidemia culposa com resultado morte e incitação ao crime;

Carla Zambelli, Bia Kicis, Carlos Jordy e Hélio Lopes, por incitação ao crime.


Relatório final da CPI da Covid deve pedir o indiciamento de pessoas apontadas como integrantes do gabinete paralelo. — Foto: Reprodução/TV Globo
Relatório final da CPI da Covid deve pedir o indiciamento de pessoas apontadas como integrantes do gabinete paralelo.


Gabinete paralelo e nĂșcleos

Na lista, devem estar também pessoas apontadas como integrantes do gabinete paralelo, como os empresĂĄrios Luciano Hang e OtĂĄvio Fakhoury, por incitação ao crime, e Carlos Wizard, por epidemia culposa com resultado morte, além da médica Nise Yamaguchi e do virologista Paolo Zanotto, pelo mesmo crime.

A TV Globo também apurou que o relatório vai demonstrar a existĂȘncia de uma organização com sete nĂșcleos articulados entre si para disseminar conteĂșdo falso (as chamadas fake news) para a população sobre o combate à pandemia. A CPI constatou que a estrutura oficial do governo foi usada para levar desinformação aos brasileiros.

Parte das informações que devem ser utilizadas no relatório foram compartilhadas pelo Supremo Tribunal Federal a partir de investigações jĂĄ feitas pela PolĂ­cia Federal no inquérito das fake news.

De acordo com a apuração da CPI, o comando vem do presidente da RepĂșblica, Jair Bolsonaro, e dos filhos, que criam e replicam fake news sobre os impactos da pandemia.

O relatório deve dizer que o segundo nĂșcleo (formulador) e o terceiro nĂșcleo (execução e apoio às decisões) são formados por servidores do gabinete da PresidĂȘncia, incluindo o que ficou conhecido como gabinete do ódio. E o quarto nĂșcleo (polĂ­tico) seria formado por parlamentares, polĂ­ticos e religiosos que dão suporte às decisões da organização.

Os outros trĂȘs nĂșcleos estariam mais relacionados a pessoas de fora do governo: o nĂșcleo de produção das fake news e operação das redes sociais; o de disseminação das fake news; e o de financiamento desses conteĂșdos.

Prevent Senior

O caso da operadora de plano de saĂșde Prevent Senior, que ganhou destaque ao final das investigações, deverĂĄ ter um capĂ­tulo à parte.

Para a CPI, a operadora pressionava médicos a prescreverem remédios do chamado kit covid, comprovadamente ineficazes no combate à doença, como parte de um estudo sem o consentimento dos pacientes e em conjunto com o governo federal.

A comissão também apurou indĂ­cios de que a Prevent ocultava mortes por Covid.

No relatório, Renan Calheiros deve propor o indiciamento de oito médicos da Prevent e do diretor da empresa, Pedro Benedito Batista JĂșnior por perigo para a vida ou saĂșde de outrem, omissão de notificação de doença, falsidade ideológica e crime contra a humanidade.

Se aprovado pela maioria dos senadores da CPI, na votação prevista para quarta-feira, o relatório serĂĄ enviado à Procuradoria-Geral da RepĂșblica, que terĂĄ a tarefa de conduzir as investigações sobre os indiciados com foro privilegiado, como o presidente Jair Bolsonaro, ministros e parlamentares federais.

O relatório serĂĄ ainda enviado para a primeira instância do Ministério PĂșblico Federal e dos estados, que terão de levar à frente as apurações que envolvem os outros indiciados.

Cópias das investigações serão encaminhadas para PolĂ­cia Federal e Receita Federal, além do Tribunal Penal Internacional, por causa das acusações de genocĂ­dio de indĂ­genas e crimes contra a humanidade.

"O relatório de uma comissão parlamentar de inquérito equivale no processo penal a uma espécie do inquérito policial. Então, em havendo indĂ­cio ou em havendo provas é necessĂĄrio pedir o indiciamento dessas pessoas. Foi isso que nós fizemos", afirmou o senador Renan Calheiros.

"Foi um trabalho gigantesco, uma investigação que se deu à luz do dia, nós contamos com a aderĂȘncia muito grande na sociedade, com a participação dos meios de comunicação, não pretendĂ­amos investigar corrupção e logo nos deparamos com ela, e tivemos que aprofundar a investigação em todas as direções. Eu acho que foi sim um trabalho satisfatório, que precisa ter continuidade nas instâncias especĂ­ficas para onde nós o mandaremos", complementou.

O que dizem os citados

A assessoria do PalĂĄcio do Planalto não se manifestou sobre o assunto.

FlĂĄvio Bolsonaro afirmou que as acusações contra ele e o governo não tĂȘm base jurĂ­dica e não fazem sentido.

A Prevent Senior declarou que tem total interesse que investigações técnicas, sem contornos polĂ­ticos, sejam realizadas por autoridades como o ministério pĂșblico; que houve um linchamento pĂșblico a partir de denĂșncias infundadas levadas à CPI, sem amplo direito à defesa e ao contraditório; que as acusações ocorreram em contexto extremamente politizado, em que tratamentos médicos foram previamente condenados por serem associados ao governo de Jair Bolsonaro; e que a empresa não tem vĂ­nculos nem com o presidente nem com partidos polĂ­ticos.

Carlos Jordy afirmou que a CPI cria narrativas contra Jair Bolsonaro.

Luciano Hang declarou que a comissão é polĂ­tica e amparada em narrativas e não em fatos e que a "verdade irĂĄ prevalecer".

Carla Zambelli acusou Renan Calheiros de antecipar o relatório e disse que vai denunciar o senador à Procuradoria-Geral da RepĂșblica.

A defesa de Carlos Wizard afirmou que o empresĂĄrio não definiu polĂ­ticas do governo e que, por isso, não pode ser responsabilizado por epidemia culposa.

Nise Yamaguchi disse que vai se manifestar depois da leitura oficial do relatório.

FĂĄbio Wajngarten e Roberto Dias não quiseram se manifestar.

A TV Globo não conseguiu contato com Carlos Bolsonaro e Paulo Zanotto. Também procurou outras autoridades e ex-integrantes do governo que devem constar no relatório da CPI, mas não obteve resposta.

Fonte: G1

Comunicar erro
Radio Jornal de Caceres
InfoJud 728x90
Combate a dengue 2023