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CRIME DE RESPONSABILIDADE

O que é prevaricação, crime que CPI da Covid investiga se Bolsonaro cometeu no caso Covaxin


Senadores da CPI da Covid dizem que vão apresentar ao STF os indĂ­cios de que Bolsonaro cometeu crime de prevaricação. Presidente e aliados negam irregularidade na compra da vacina indiana. Suspeitas sobre contrato para compra da Covaxin são nova fonte de desgastes para governo Bolsonaro.

EPA

O deputado federal LuĂ­s Claudio Miranda (DEM-DF) afirmou, em depoimento à CPI da Covid nesta sexta (26), ter informado o presidente Jair Bolsonaro em março sobre um suposto esquema ilegal em torno da compra bilionĂĄria da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da SaĂșde.

Segundo ele, durante a reunião, Bolsonaro disse que sabia que um deputado da base do governo estava envolvido no caso e que levaria a denĂșncia ao delegado-geral da PolĂ­cia Federal, o que não foi feito.

Questionado pela CPI da Covid, no Senado, sobre quem seria esse deputado, Miranda disse que Bolsonaro se referia ao lĂ­der do governo no Congresso, o deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Diante dessas informações, a cĂșpula da CPI informou que pretende levar ao Supremo Tribunal Federal (STF) os Ă­ndĂ­cios colhidos pela comissão de que Bolsonaro cometeu crime de prevaricação.

Para o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), o presidente prevaricou ao não pedir investigação sobre o caso. "O presidente não mandou investigar absolutamente nada", afirmou. "Para quem joga pedra em todos, ele prevaricou. Prevaricou", disse.

Em nota publicada nas redes sociais, Barros afirmou que não participou "de nenhuma negociação em relação à compra das vacinas Covaxin." JĂĄ Bolsonaro afirmou ter se reunido com o deputado aliado e o irmão dele em março, mas disse que ambos não relataram suspeitas de corrupção.

Servidor Luis Ricardo Miranda chegou a tirar foto com Bolsonaro em encontro que disse ter informado presidente sobre irregularidades na compra da Covaxin.

Reprodução

Mas afinal, o que é prevaricação?

Segundo o Código Penal brasileiro, o crime de prevaricação ocorre quando um funcionĂĄrio pĂșblico "retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofĂ­cio, ou praticĂĄ-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal".

Nesse caso especĂ­fico, seria uma suposta não comunicação de uma eventual irregularidade para outras autoridades investigarem. O Código Penal prevĂȘ pena de trĂȘs meses a um ano de prisão e multa.

Articuladores de um "megapedido" de impeachment contra Bolsonaro, a ser apresentado na próxima semana à Câmara, cogitam incluir as denĂșncias dos irmãos Miranda entre acusações de crime de responsabilidade que o presidente teria cometido.

"EvidĂȘncias de crime gravĂ­ssimo", diz Randolfe após depoimento de deputado e irmão à CPI

E em coletiva de imprensa na noite de sexta (25), presidente, vice-presidente e relator da CPI da Covid disseram que devem levar as evidĂȘncias contra Bolsonaro no caso Covaxin ao STF.

Segundo eles, o envio das informações para que o tribunal decida sobre abertura de investigação ou ação penal serĂĄ votado pela comissão nas próximas semanas.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que a comissão agora investiga se houve desvio de dinheiro e beneficiamento pessoal na compra da vacina indiana.

"Essa negociação da Covaxin é completamente eivada de irregularidade e de fraude, em todos os sentidos. Primeiro, a vacina com o menor tempo de validade e o maior preço. Segundo, a Ășnica aquisição que tinha um atravessador – a Precisa. Terceiro, esse atravessador pediu adiantamento e indicou para receber uma outra empresa constituĂ­da em paraĂ­so fiscal, para claramente burlar o controle e a fiscalização. Então, com a vinda dos irmãos Miranda, nós possibilitamos esse grande dia", afirmou.

PF diz não ter investigação aberta sobre denĂșncia

Em 24/06, o jornal Folha de S.Paulo divulgou que a PolĂ­cia Federal não identificou nenhuma investigação sobre supostas irregularidades na aquisição de doses da vacina Covaxin por R$ 1,6 bilhão.

Em 23/06, o ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral da PresidĂȘncia) não citou nenhuma apuração sobre a denĂșncia que Miranda diz ter feito ao presidente da RepĂșblica. Além disso, afirmou que as provas apresentadas pelos irmãos Miranda eram fraudulentas e que ambos deveriam ser investigados sob suspeita de denunciação caluniosa.

Onyx sobre Covaxin: "Não houve favorecimento, não houve sobrepreço, não houve compra alguma"

"Por que um servidor que identifica um possĂ­vel erro, uma fraude, não leva ao seu superior hierĂĄrquico? É dever dele. AĂ­ estĂĄ a prevaricação", questionou o ministro, acusando o servidor LuĂ­s Ricardo Miranda, irmão do deputado, de demorar a apresentar sua denĂșncia, jĂĄ que a compra das doses foi firmada em fevereiro.

No dia seguinte, Onyx passou a divulgar, por meio de aliados na CPI da Covid, que o presidente havia repassado a denĂșncia dos irmãos Miranda para o então ministro Eduardo Pazuello (SaĂșde) apurar. Este, segundo Onyx, não identificou nenhuma irregularidade e as negociações prosseguiram.

'Quero alertar ao deputado LuĂ­s Miranda: o que foi feito hoje, no mĂ­nimo, é denunciação caluniosa, e isso é crime tipificado no Código Penal', afirmou Lorenzoni.

Reprodução/YouTube

Segundo o deputado LuĂ­s Claudio Miranda, a denĂșncia foi levada diretamente ao presidente porque seu irmão disse não confiar em ninguém no ministério para apresentar suspeitas de irregularidade dentro da pasta.

As negociações para a compra da Covaxin estão sendo investigadas também pelo Ministério PĂșblico Federal. Em depoimento ao órgão, o servidor afirmou ter sofrido "pressão atĂ­pica" para agilizar a importação do imunizante e que se recusou a assinar um documento que garantiria o pagamento de US$ 45 milhões antes da entrega das doses, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, que teve acesso ao depoimento sigiloso.

A aquisição da Covaxin envolveu uma empresa intermediĂĄria (Precisa Medicamentos) entre o Ministério da SaĂșde e a fabricante estrangeira. Além disso, um dos sócios da Precisa é investigado por meio de outra empresa sob suspeita de ter recebido R$ 20 milhões do Ministério da SaĂșde e não ter entregado os medicamentos pagos.

O caso levou o então ministro da SaĂșde e hoje lĂ­der do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), a responder a um processo sob acusação de improbidade administrativa.

Mas quais são os indĂ­cios contra Bolsonaro que os senadores da CPI da Covid pretendem levar ao STF?

TrĂȘs suspeitas ligadas à compra da Covaxin

1. Preço elevado e falta de aprovação

Segundo a reportagem do jornal Estado de S. Paulo, a CPI obteve telegrama sigiloso enviado em agosto ao Itamaraty pela embaixada brasileira em Nova Délhi informando que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em US$ 1,34 por dose.

Em fevereiro, porém, o Ministério da SaĂșde concordou em pagar US$ 15 por unidade (R$ 80,70 na cotação da época), o que fez da Covaxin a mais cara das seis vacinas compradas até agora pelo Brasil. Na ocasião, o ministro da SaĂșde ainda era o general Eduardo Pazuello.

Em nota enviada à BBC News Brasil, a Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, diz que as doses do imunizante são vendidas ao exterior a valores que variam de US$ 15 a US$ 20.

Harsh Vardhan, ministro da SaĂșde da Índia, segura dose da Covaxin, vacina contra Covid-19 desenvolvida pela Bharat Biotech, em foto de 16 de janeiro de 2021

Adnan Abidi/Reuters

O valor final aceito pelo governo brasileiro chama atenção também porque Pazuello afirmou à CPI que um dos motivos para sua gestão recusar a oferta de 70 milhões de doses da americana Pfizer em 2020 seria o preço alto do imunizante. A vacina, porém, foi oferecida ao Brasil por US$ 10, metade do que a própria farmacĂȘutica cobrou dos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Outra razão apresentada por Pazuello para rejeitar a oferta da Pfizer em 2020 foi o fato de a vacina, naquele momento, ainda não ter a aprovação da AgĂȘncia de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa). No entanto, o contrato da Covaxin foi firmado sem essa aprovação prévia. Apenas no inĂ­cio de junho a importação foi autorizada, com algumas restrições.

2. Suposta pressão para acelerar contrato

O Ministério PĂșblico Federal (MPF) estĂĄ investigando se houve irregularidades no contrato com a Precisa Medicamentos, que intermediou o negócio com a empresa indiana. Aos procuradores do caso, o chefe da divisão de importação do Ministério da SaĂșde, LuĂ­s Ricardo Miranda, relatou ter sofrido "pressão incomum" para fechar a compra, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, que teve acesso ao depoimento sigiloso do servidor.

Na oitiva, ele apontou como um dos responsĂĄveis por essa pressão o tenente-coronel Alex Lial Marinho, ex-coordenador-geral de LogĂ­stica de Insumos Estratégicos do Ministério da SaĂșde na gestão Pazuello.

A CPI da Covid aprovou a quebra de sigilo telefônico, fiscal, bancĂĄrio e telemĂĄtico de Marinho, que também serĂĄ convocado a depor na comissão, mas a data ainda serĂĄ marcada.

LuĂ­s Ricardo Miranda disse ter identificado diversos problemas no contrato de compra dos imunizantes, como divergĂȘncias em informações da nota fiscal e envio de doses próximas do prazo de validade.

Chefe de importação do Departamento de LogĂ­stica do Ministério da SaĂșde, Luis Ricardo Miranda.

Jefferson Rudy/AgĂȘncia Senado

O sócio-administrador da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, deve ser ouvido na próxima semana pela CPI, em data ainda a ser confirmada.

Por meio de nota à reportagem, a Precisa diz que "as tratativas entre a empresa e o Ministério da SaĂșde seguiram todos os caminhos formais e foram realizadas de forma transparente junto aos departamentos responsĂĄveis do órgão federal".

Depois que a denĂșncia dos irmãos Miranda veio à tona, o presidente passou a afirmar que não houve nenhuma irregularidade porque o governo federal não desembolsou os recursos para comprar as 20 milhões de doses da Covaxin.

"Não gastamos um centavo com a Covaxin, não recebemos uma dose de vacina da Covaxin, que corrupção é essa? Ele não falou em nada de corrupção em andamento. Ele conversou comigo sim, não vou negar, mas não aconteceu nada", afirmou Bolsonaro na live transmitida em 24/06. Além disso, o governo federal tem avaliado cancelar a compra.

Mas a procuradora da RepĂșblica Luciana Loureiro, que investiga a compra da Covaxin, afirmou à Folha de S.Paulo que o fato de o governo Bolsonaro ter reservado os R$ 1,6 bilhão jĂĄ configura prejuĂ­zo à saĂșde pĂșblica.

Segundo ela, isso se dĂĄ porque o governo autorizou o gasto em fevereiro, mas até hoje não recebeu as doses contratadas que jĂĄ deveria ter recebido (o que configuraria quebra do contrato, mas o Ministério da SaĂșde deixou de cobrar a empresa). "Enquanto houver a nota de empenho, enquanto ela estiver vĂĄlida, o recurso estĂĄ reservado para isso", afirmou Loureiro à Folha de S.Paulo.

3. Suspeitas sobre empresa ligada à intermediĂĄria

Como dito acima, a Global Gestão em SaĂșde, que tem sócio em comum com a Precisa Medicamentos, tem suspeitas prévias de irregularidade em contrato com o Ministério da SaĂșde.

Em 2017, quando o ministro da SaĂșde era o deputado federal Ricardo Barros (PP-RS), hoje lĂ­der do governo Bolsonaro na Câmara, a Global Gestão em SaĂșde venceu um processo de compra emergencial para fornecer medicamentos à pasta, mas não entregou os remédios, mesmo tendo recebido o pagamento antecipado de R$ 19,9 milhões.

O Ministério PĂșblico Federal denunciou representantes da empresa e o ex-ministro. Segundo o MPF, a empresa ganhou o processo de compra mesmo sem atender a todos os requisitos, como ter registro para importação dos medicamentos na Anvisa.

A denĂșncia tramita atualmente na Justiça Federal em BrasĂ­lia. Barros negou ao jornal O Globo qualquer irregularidade no caso e que passou a ser alvo por ter enfrentado monopólios farmacĂȘuticos. A Global não se manifestou sobre a investigação.

G1

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