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Política

Virologista que teria sugerido 'gabinete paralelo' do Ministério da Saúde recebe autorização da USP para morar no Canadá


Paolo Zanotto, que nega existência de 'gabinete paralelo', teve autorização da USP para se licenciar e lecionar por 2 anos no British Columbia Institute of Technology sem prejuízo dos vencimentos; a universidade, no entanto, nega que ele será professor. O virologista Paolo Zanotto exibe mapa de distribuição global do vírus zika durante entrevista coletiva concedida na USP

Rafael Garcia/G1

O virologista Paolo Zanotto, que teria sugerido a formação de um "gabinete paralelo" do Ministério da Saúde, recebeu autorização da diretoria do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) para se afastar por dois anos da faculdade e morar no Canadá.

Segundo a USP, Zanotto irá atuar como professor visitante no British Columbia Institute of Technology (BCIT). O afastamento foi aprovado pela maioria dos membros do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) em reunião realizada nesta quarta-feira (9). O afastamento, segundo a USP, será "sem prejuízo dos vencimentos".

Em nota, a USP informou que "o prazo do afastamento também está dentro do permitido, ou seja, máximo de dois anos (Artigo 41), não haverá contrapartida financeira por parte da instituição anfitriã (Artigo 42) e toda a documentação está em conformidade ao exigido (Artigo 43)".

A universidade canadense, no entanto, negou, em seu perfil oficial no Twitter, que o brasileiro será professor da instituição e informou que o pedido de Zanotto, de visita, está pendente.

Segundo o tuíte, ele teria contatado o BCIT para "uma visita acadêmica de curto prazo, não remunerada e não docente, referente a uma pesquisa sobre purificação de água. Visitas internacionais dessa natureza estão sujeitas a processos internos do BCIT e externos, de verificação federal – incluindo a aprovação da imigração do Canadá. O pedido deste indivíduo está pendente".

Zanotto confirmou à GloboNews na sexta-feira (4) que sugeriu a Bolsonaro a formação de um grupo de especialistas para auxiliar o Ministério da Saúde "de forma independente", mas negou que fosse um "gabinete paralelo" em si, para tratar de coronavírus.

O grupo, diz Zanotto, teria a função de ajudar o governo a "escolher" vacinas a serem usadas na imunização da população brasileira, entre outras medidas. Segundo o médico, o Planalto não acatou a sugestão.

Paolo Zanotto aparece no vídeo de uma reunião no Palácio do Planalto em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e médicos discutem medicamentos ineficazes e lançam dúvidas sobre as vacinas contra a Covid-19. O vídeo foi noticiado pelo site "Metrópoles" e, segundo o portal, a reunião ocorreu em setembro de 2020.

No vídeo, o virologista diz que é necessário "tomar um extremo cuidado" em relação a vacinas no país. Ele também conta que mandou uma carta a Arthur Weintraub, ex-assessor da Presidência da República, na qual teria sugerido a montagem de um grupo, um "shadow cabinet" (algo como "gabinete das sombras") para ajudar o Executivo em temas relacionados a imunizantes.

VÍDEO: Paulo Zanotto fala em dúvidas sobre a vacina em vídeo de reunião com Bolsonaro

Em entrevista à GloboNews, Zanotto declarou que, ao falar em "gabinete da sombra", estava usando uma "figura de expressão".

"Estão confundindo 'shadow cabinet' com 'gabinete paralelo'. [...] Ali é uma figura de expressão, não é um gabinete paralelo. Não era algo para ser feito à revelia, escondido. Muito pelo contrário. Usei da expressão no sentido inglês da palavra. Se cria um comitê de imunologistas e de vacinologistas para auxiliar, de forma independente, o Ministério da Saúde na escolha de vacinas. Ninguém é doido de propor uma coisa fora da lei", disse Zanotto.

Ainda segundo o virologista, o grupo "tecnicamente" não existiu, uma vez que a ideia não foi acolhida pelo governo federal.

"Para ser, de fato, um 'gabinete paralelo', você precisa ter, no mínimo, uma continuidade de atuação e uma montagem dele. Todas as colocações feitas não foram ouvidas", disse Zanotto.

VÍDEO: Imagens reforçam tese sobre gabinete paralelo de Bolsonaro

CPI vê provas de gabinete

Para integrantes da CPI, o vídeo da reunião prova a existência de um gabinete paralelo de assessoramento ao governo. Uma das frentes de investigação da comissão trata justamente da suposta formação de um grupo extraoficial e sem especialização que teria aconselhado o presidente da República a tomar decisões e dar declarações equivocadas sobre a pandemia.

Sobre a CPI, Zanotto declarou que os senadores que a integram estão "tentando empurrar a narrativa deles, que, de fato, existe alguém que operou à revelia do Ministério da Saúde". "Ninguém estava operando à revelia", afirmou.

Camarotti: estrutura do gabinete paralelo fica cada vez mais evidente

Farmácia Popular

Também na entrevista à GloboNews, Zanotto disse que uma das ideias do "gabinete da sombra' era a disponibilização de remédios no programa Farmácia Popular, do Ministério da Saúde, que tem o objetivo de facilitar e baratear o acesso a medicamentos.

Apesar de Zanotto dizer que o governo não deu ouvidos às ideias do grupo, em setembro de 2020, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou a jornalistas que a pasta estava avaliando distribuir na Farmácia Popular o chamado "kit Covid", composto por medicamentos que tiveram a ineficácia contra a doença comprovada, caso da cloroquina.

"Não existe esse gabinete paralelo. Se existisse isso, esse grupo teria conseguido atingir os propósitos, que era, por exemplo, melhorar a qualidade do tratamento das pessoas, disponibilizar fármacos na farmácia popular, evitar que as pessoas fossem tratadas só na hora que elas fossem internadas", afirmou Zanotto.

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G1

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