Cláudio Castro toma posse como governador após impeachment de Witzel; veja trajetória do cantor, também citado em delação

Por Redação em 01/05/2021 às 03:13:48
Parlamentar conservador, que antes de se eleger vice-governador só tinha sido vereador, com 10 mil votos, é elogiado pelo bom trânsito político, mas teve seu primeiro atrito na Alerj nesta semana. Delator o acusa de receber R$ 100 mil em propina; ele nega. Cláudio Castro em 6 de janeiro de 2021

Philippe Lima/Governo do Estado/Divulgação

Um vereador de primeiro mandato, eleito com pouco mais de 10 mil votos, desfilava no plenário da Câmara Municipal do Rio apresentando aos colegas um rosto totalmente desconhecido da política fluminense. "Este é o juiz Wilson Witzel, nosso candidato ao governo do estado, e eu vou ser o vice", dizia Cláudio Castro aos interlocutores.

Era o fim do ano de 2018, pouco antes da eleição que consagraria a dupla na chefia do Poder Executivo do governo do estado. Quem acompanhava a cena não levava fé.

"Eu me lembro perfeitamente e achei uma loucura completa. Uma loucura completa que acabou se tornando realidade", recorda o vereador Paulo Pinheiro (PSOL).

Cláudio Castro em sessão de fevereiro de 2018 no Parlamento Municipal do Rio

Renan Olaz/Câmara Municipal/Divulgação

Castro foi eleito pela primeira (e única) vez à Câmara em 2016, sendo o 9º vereador com menos votos: 10.262. Dez vezes menos do que seu colega de partido, o mais votado, Carlos Bolsonaro (PSC).

Apenas dois anos depois, ao embarcar na candidatura de Witzel, a reviravolta: os dois obtiveram 4.675.355 votos. Com o impeachment do cabeça de chapa, Castro se torna o governador mais jovem desde a redemocratização.

Castro será empossado neste sábado (1º) em duas cerimônias: às 10h na Assembleia Legislativa e às 14h no Palácio Guanabara.

Vereador conservador

Cláudio Castro durante o mandato como vereador

Câmara Municipal/Divulgação

Evangelizador ligado à Renovação Carismática da Igreja Católica, Castro era cantor e foi um vereador conservador. Radicalmente contra o aborto, costumava dizer na Câmara:

"Tudo o que tiver a palavra 'gênero' tem que cair"

Em seu gabinete, uma equipe atuava diretamente junto à igreja, ouvindo padres e a comunidade católica que o elegera.

Por suas posições, era mais próximo dos bispos neo pentecostais do que dos católicos progressistas.

A Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, Castro recorria em momentos de aflição.

Como no dia em que a Câmara votava um dos pedidos de impeachment contra o então prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).

"Só faltava o Cláudio Castro votar e ele estava no telefone com o Dom Orani: 'Dá um conselho pro seu filho, me ajuda'", diz uma fonte. "Era uma relação de padre, paternal".

Castro recebe a visita da imagem de São Sebastião no Palácio Guanabara, ao lado de Dom Orani

Rafael Campos/Governo od Estado/Divulgação

Só dois projetos viraram lei

As denúncias contra Crivella se multiplicavam. Pesquisas internas feitas pela Câmara mostravam o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) como favorito a substituí-lo, já que a lei municipal previa a realização de uma nova eleição em caso de impeachment àquela altura.

Castro foi um dos articuladores de um projeto que mudaria a lei orgânica do município, tornando a eleição indireta e diminuindo as chances de uma vitória do socialista. A proposta foi vetada.

No rápido mandato, Castro aprovou apenas dois projetos de autoria exclusiva.

Um que tomba a Festa do Cantinho das Concertinas, na Cadeg, como bem imaterial. Outro que obrigava a Prefeitura a usar recursos advindos de multas de trânsito.

"O Cláudio não era um cara de alta relevância até porque tinha acabado de entrar. Ele defendia especificamente o interesse da Igreja Católica", diz um ex-vereador.

Apelido na Alerj

Com o afastamento de Witzel, suspeito de corrupção na Saúde fluminense, Castro passou a fazer a interlocução com a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Na Casa, assim como na Câmara, eram unânimes seus elogios no trato. Cordato, cordial, carinhoso e gentil foram alguns dos adjetivos usados pelos parlamentares.

Um observador do alto escalão concorda e diz que Castro promoveu a "lógica do loteamento político" no estado e tenta "montar uma base na Alerj para sobreviver no mandato".

"É uma pessoa extremamente habilidosa. Conseguiu trazer pro governo dele pessoas que eram muito vinculadas ao então presidente (da Alerj, Jorge) Picciani, à base do governo Pezão. Um grande trânsito na Assembleia Legislativa. Por outro lado, diferente do Witzel, que tinha um discurso agressivo contra instituições, não tentou nenhuma interferência nos outros poderes", afirma.

Nesta semana, pela primeira vez, teve um atrito na Assembleia. A votação do projeto para suspender o leilão da Cedae contrapôs governador em exercício e deputados.

Aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), eleito sob a agenda de privatizações, Castro determinou que o projeto aprovado na Alerj não tinha validade. E sinalizou sua fidelidade ao governo federal.

Castro saiu com a imagem arranhada depois que o presidente da Casa, André Ceciliano (PT), disse que ele ameaçou deputados.

Líder do governo, o deputado estadual Márcio Pacheco (PSC) saiu em defesa do governador.

"Cláudio Castro é, talvez, uma das pessoas mais cordatas e preparadas para o trato político que eu conheço".

Atuação como governador em exercício

Castro assumiu como governador em exercício em plena pandemia. Sempre se posicionou contra o que chamou de lockdown para conter a disseminação Covid. Chegou a se envolver em discussões com prefeitos que anunciaram medidas mais restritivas no feriado prolongado entre o fim de março e o início de maio.

O prefeito da capital Eduardo Paes ironizou a posição de Castro de querer manter bares e restaurantes abertos no período e apelidou a antecipação de feriados de "Castrofolia".

Posteriormente, Castro acabou decretando medidas de restrição, embora mais leves do que as adotadas no Rio e em Niterói, por exemplo. Ele pediu que a população evitasse fazer festas. Recebeu, entretanto, convidados para comemorar o aniversário em Itaipava, em Petrópolis, na Região Serrana. Um decreto da prefeitura local proibia aglomerações.

Ainda durante a pausa emergencial entre 26 de março e o domingo de Páscoa (4), começou a circular o vídeo de Castro cantando pagode durante uma festa em fevereiro.

No mesmo dia do capítulo final do julgamento do impeachment de Wilson Witzel, que acabou o confirmando como governador, Cláudio Castro participou do leilão da Cedae. O leilão foi confirmado pela Justiça após uma votação na Alerj que pedia a sua suspensão.

“Esse leilão é um marco para o estado do Rio de Janeiro e nos dá esperança para um futuro melhor para o nosso povo”, disse Castro.

Delator diz que Castro recebeu propina

Delator diz que Cláudio Castro recebeu R$ 100 mil em propina

A Operação Catarata, realizada em setembro do ano passado, apurava desvios de R$ 66 milhões em contratos de assistência social no governo do estado e da Prefeitura.

Um dos presos foi o empresário Marcus Vinicius Azevedo da Silva, que tinha sido assessor de Castro na Câmara. A empresa de Marcus Vinícius, segundo o Ministério Público, fazia parte das licitações de fachada.

Bruno Selem, que também foi preso no esquema e era funcionário da Servlog, diz que o dono da empresa, Flávio Chadud, pagou R$ 100 mil a Cláudio Castro em propina. Ele nega a acusação e processa o delator.

Câmeras de segurança de um shopping na Barra da Tijuca mostram o encontro. À época, Castro era vice-governador e comandava a Fundação Leão XIII, responsável por políticas de assistência social do governo do Estado, que atende a população de baixa renda e em situação de rua.

As suspeitas de participação do agora governador já foram compartilhadas com o grupo de atuação do Ministério Público que investiga pessoas com foro especial na esfera estadual.

Cláudio Castro nega qualquer ato ilícito.

Fonte: G1

Comunicar erro
Radio Jornal de Caceres
InfoJud 728x90
Combate a dengue 2023