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Sistemas de agroflorestas misturam espécies frutíferas e florestais com diferentes funções, mas que se harmonizam. Agricultores no Pará mostram ser possível produzir o ano todo preservando a naturezaAgricultores de Tomé-Açu, no nordeste do Pará, produzem o ano inteiro e, ainda assim, preservam a natureza. Para eles, ao conservar o meio ambiente, o solo também lucra. A produção, além de gerar alimentos, leva renda para os moradores da região.Assista a todos os vídeos do Globo RuralÉ mais um exemplo de como obter uma produção sustentável após os planos de redução da emissão de gases que provocam o aquecimento global serem anunciados na Cúpula de Líderes sobre o Clima, que aconteceu na quinta-feira (22) e na sexta-feira (23). Nela, o Brasil assumiu o compromisso de acabar com o desmatamento ilegal da Amazônia, que vem aumentando nos últimos anos e é um dos causadores das mudanças climáticas.Entenda o que é a 'Cúpula de Líderes sobre o Clima'Em Tomé-Açu, os produtores escolheram não praticar o desmatamento ao adotar os sistemas agroflorestais, também conhecidos como SAFS. O método foi a solução para eles, após uma doença provocada por fungos dizimar suas lavouras.Nesta modalidade, os agricultores misturam espécies frutíferas e florestais com diferentes funções, mas que se harmonizam.Quais são as questões que colocam o agro no centro das polêmicas sobre preservação do meio ambiente?Pioneiros no ParáOs primeiros agricultores a adotarem os sistemas agroflorestais nesta região foram os imigrantes japoneses, que chegaram ao município em 1929. A princípio, eles produziam arroz e hortaliças para abastecer os mercados de Belém e depois investiram na monocultura da pimenta do reino. O negócio prosperou por três décadas antes da doença chegar. Quando isto aconteceu, os imigrantes perceberam que os ribeirinhos se sustentavam com a produção de frutas regionais, como o açaí, e se interessaram em aprender as práticas locais."Não tínhamos conhecimento sobre o sistema florestal, o arranjo, qual é o tipo de adubação, qual tipo de trato. Então, não tinha mão de obra especializada naquela época. A gente apanhava bastante, mas esse aí foi grande aprendizado para a gente", conta Michinori Konagano, um dos pioneiros dos SAFs.Também com a assistência de órgãos especializados, Konagano conseguiu desenvolver a técnica e hoje cultiva açaí, pimenta, cacau e cupuaçu, em 230 hectares de agrofloresta, com menos uso de pesticida e agroquímicos no geral. Ele também conta que nunca desmatou para ter a sua produção, porque as áreas em que ele planta já estavam degradas.Horta em casa: como começar?Sustentabilidade gera empregoCom as várias culturas, a propriedade de Konagano também gera emprego, totalizando em 40 funcionários e, quando há maior safra, mais gente é contratada.Apenas a família Coelho de Souza tem 8 integrantes que trabalham na fazenda. Três irmãs, Vanessa, Vanusa e Valdirene, são responsáveis pela coleta dos frutos na lavoura de cacau. Antes delas, os pais também foram funcionários de lá até se aposentarem."Daqui que a gente se alimenta, paga as conta da gente, porque a gente precisa, né? É bom", conta Valdirene.Na região, 10 mil empregos diretos e indiretos são gerados por essa atividade.Um pilar da agrofloresta Um dos pilares da agrofloresta é o cooperativismo, responsável por escoar a produção.A cooperativa que trabalha com os produtores de Tomé-Açu começou há 92 anos no ramo, com a chegada dos primeiros imigrantes. Em 1987, ela passou a beneficiar os frutos da cidade com a instalação da agroindústria.Atualmente, 172 cooperados trabalham nela, destes, 90% possuem agroflorestas. A indústria também compra matéria-prima de outros 1.800 agricultores que não são cooperadosA agroindústria exporta pimenta, amêndoas, cacau, entre outros frutos in natura. Além de produzir 15 sabores de polpas e, recentemente, ter entrado no mercado de sobremesas.A cooperativa também trabalha com a extração de óleos de andiroba, maracujá e manteiga de cupuaçu. Para o cooperado Emerson Fumoga, este tipo de produto é cada vez mais exigido pelo mercado para servir como base de cosméticos.Em média, ela produz 10 mil toneladas de frutos de diferentes tipos de amêndoas e pimentas-do-reino. Compartilhando o conhecimentoOs imigrantes japoneses fazem questão de dividir o conhecimento. Para eles é uma forma de retribuir a acolhida do município de Tomé-Açu e também uma questão de princípio. O objetivo é mostrar os caminhos para que toda a comunidade seja capaz de prosperar.Os pioneiros do sistema na cidade já capacitaram 25 associações de agricultores familiares na região. Uma dessas pessoas foi o Zé Maria, que há 20 anos reaproveita as terras do pai e investe na agrofloresta, graças aos ensinamentos do ex-patrão. "A gente ficava mais na mata, como empreiteiro, mas aos domingos ele me levava na propriedade dele para me mostrar. (...) E eu fiquei com aquilo na minha cabeça, né? Pensando assim: se dá certo para o seu Michinori, vai dar certo pra mim. E aí eu comprei essa ideia", conta.No início ele plantou maracujá, cupuaçu e açaí. Hoje em dia, já ampliou para castanheiras, que além de gerarem sombra, proporcionam uma boa renda.Depois de aprender, Zé Maria passa o conhecimento para outras comunidades."Porque o seu Michinori me ensinou uma coisa: o que a gente aprende não é para ficar só com a gente. Tem que colocar para outras pessoas, para que a gente possa compartilhar com os outros, né?", explica. VÍDEOS: mais assistidos do Globo Rural