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Estudo aponta que a Covid-19 matou cerca de 16 vezes mais do que a soma de mortes violentas no Oeste Paulista

Por Redação em 21/04/2021 às 07:24:43
Levantamento destaca que 2020 prosseguiu com a tendência de queda nos índices criminais na região. Alteração na dinâmica social devido à pandemia e a atuação das polícias são indicadas como motivos. Presidente Prudente

Reprodução/TV Fronteira

O ano de 2020 se destacou pela queda nos índices de crimes violentos no Estado de São Paulo em relação ao ano de 2019. No comparativo de dados entre os dez Departamentos de Polícia Judiciária do Interior (Deinter), o Deinter-8, que abrange a região de Presidente Prudente, apresentou redução em todos os índices, segundo revela um estudo do Instituto Sou da Paz.

O estudo ainda apresenta dados que ressaltam um risco “invisível”: a Covid-19. Um comparativo dos óbitos provocados pela doença com as mortes violentas revela que o novo coronavírus matou cerca de 16 vezes mais do que a soma de todas as vidas interrompidas de forma violenta e intencional na região.

Assim como em 2019, cinco dos seis crimes que compõem a categoria “criminalidade violenta” da Secretaria da Segurança Pública (SSP) sofreram redução no ano de 2020, o que fez com que o total de ocorrências categorizadas como criminalidade violenta no Estado caísse expressivos 16,5% em comparação com o ano anterior. Veja:

Ocorrências de crimes violentos no Estado de São Paulo

O Deinter-8 apresentou queda em todas as naturezas, sendo roubos (outros), roubos (veículos), homicídios dolosos, estupro e latrocínio. Não há recorte regional sobre extorsões mediante sequestro.

Homicídios dolosos

Em 2020, o Estado de São Paulo rompeu a série de reduções consecutivas nos homicídios que vinha desde 2013 e registrou um aumento de 4,1% nas ocorrências desta natureza em comparação com o ano anterior.

O homicídio doloso foi o único dos crimes que compõem a categoria "criminalidade violenta" da SSP que aumentou no ano passado. Foram 2.893 ocorrências de homicídios dolosos no Estado de São Paulo em 2020, contra os 2.778 registros de homicídios em 2019.

“Diversas análises apontam os efeitos da pandemia de Covid-19 na redução tanto dos crimes que geralmente são cometidos nos espaços públicos (como roubos), como na redução das notificações de crimes cometidos no espaço privado e com vítimas vulneráveis (como os estupros). No entanto, o mesmo não ocorreu com os assassinatos, que aumentaram não somente no Estado de São Paulo, mas também tiveram um recrudescimento no âmbito nacional”, diz o estudo.

Homicídio doloso (taxa por 100 mil habitantes - vítimas)

Contudo, na contramão do estado, a área de abrangência do Deinter-8 passou de 5,8 homicídios por 100 mil habitantes em 2019 para uma taxa de 5,3 vítimas deste crime por 100 mil em 2020.

Outras três regiões também apresentaram redução na taxa de homicídio doloso por 100 mil habitantes por Departamento de Polícia Judiciária.

Latrocínios

Ainda de acordo com o estudo do Instituto Sou da Paz, a tendência de queda dos latrocínios no Estado de São Paulo se manteve em 2020, mas de forma menos acentuada do que nos anos anteriores. Porém, quando “recortado” por macrorregião, o interior paulista registrou um aumento nas vítimas de latrocínio: foram 102 pessoas vitimadas em 2020 contra 88 vítimas em 2019, um aumento de 15,9% entre os dois anos.

Ainda assim, quando analisada a série histórica que vai dos anos de 2016 a 2020, o número de vítimas anuais de latrocínio no estado caiu de 361 em 2016 para 183 vítimas em 2020, uma redução acumulada dos latrocínios no Estado de 49%, um resultado "extremamente positivo para um intervalo de cinco anos".

Latrocínio (taxa por 100 mil habitantes)

O aumento das taxas de latrocínio na macrorregião do interior de São Paulo se concentrou em cinco Departamentos de Polícia do Interior. A maior alta das taxas de latrocínio foi no Deinter 6 – Santos, que sofreu elevação de 0,37 para 0,74 latrocínio por 100 mil habitantes entre 2019 e 2020.

Contudo, cinco Departamentos apresentaram redução de suas taxas de latrocínio. Os principais destaques são:

Deinter 8 – Presidente Prudente, que ocupava o topo do ranking de maior taxa de latrocínio em 2019 e reduziu sua taxa de 0,56 ocorrências por 100 mil habitantes para 0,11 ocorrência

Deinter 9 – Piracicaba, que em 2019 tinha uma taxa de latrocínios de 0,30 por 100 mil habitantes, e no ano passado a reduziu para 0,18 ocorrências de latrocínio por 100 mil habitantes.

Estupro

Os registros de estupro estavam em tendência de crescimento no Estado de São Paulo entre os anos de 2015 e 2019. No entanto, o ano de 2020 trouxe uma significativa redução de 10,9% nas ocorrências desta natureza em comparação com o ano anterior.

A macrorregião do interior registrou 7.207 ocorrências de estupros em 2019 e 6.445 registros de estupros no ano de 2020, sendo este último correspondente a 58% do total de registros de estupro no Estado no ano passado.

“É importante ressaltar que esta forte redução nas ocorrências de estupro em 2020, que vinham em franco crescimento nos anos anteriores, pode significar não uma redução do crime em si, mas de sua notificação às autoridades policiais. O isolamento social e fechamento de uma série de serviços que atendem a população mais vitimada pelo crime de estupro (como as escolas e os serviços de assistência social) devido à pandemia de Covid-19 possivelmente dificultaram a descoberta e notificação destes crimes”, conforme frisa o estudo do Instituto Sou da Paz.

Na análise da taxa de estupros por 100 mil habitantes por Deinter, o Departamento da região de Presidente Prudente reduziu de 38,3 ocorrências por 100 mil habitantes para 32,1 estupros por 100 mil em 2020.

Estupro (taxa por 100 mil habitantes)

As maiores reduções se deram:

No Deinter 1 – São José dos Campos, que passou de 33 estupros por 100 mil habitantes em 2019 para 25,6 ocorrências por 100 mil em 2020

No Deinter 8, que ainda está no topo das maiores taxas de estupro, passando da segunda pior taxa entre os Deinter para a terceira posição, atrás do Deinter 7 – Sorocaba e do Deinter 5 – São José do Rio Preto

No ano passado, 76% dos crimes de estupro cometidos no Estado de São Paulo foram contra vítimas vulneráveis – menores de 14 anos ou pessoas cujas condições de saúde as impedem de discernir ou resistir ao ato sexual.

No entanto, alguns municípios registraram proporções muito mais elevadas de vitimização de vulneráveis, chegando a alcançar entre 84% e 90% dos registros de estupro.

Entre os dez municípios com mais de 100 mil habitantes com maior participação de vulneráveis entre as vítimas de estupro em 2020, exceto a capital, está a cidade de Assis, que faz parte da área de atuação do Deinter 8.

Roubo (outros)

O crime de roubo (outros), categoria na qual são incluídos todos os roubos, exceto os de veículos, teve redução no Estado e em todas suas macrorregiões no ano de 2020.

Roubo - outros (taxa por 100 mil habitantes)

A maior redução foi no interior paulista, onde os números caíram de 55.208 roubos em 2019 para 41.570 roubos em 2020. A queda foi de 13.643 ocorrências, o que corresponde a redução de 24,7%.

Na área do Deinter 8 a taxa de roubos (outros) por 100 mil habitantes caiu de 46,6 ocorrências, em 2019, para 34,9, no ano passado.

Roubo de veículos

O roubo de veículos segue em tendência de queda no Estado de São Paulo desde 2015, que em 2020 foi “ainda mais acentuada devido à pandemia de Covid-19”, conforme o estudo do Instituto Sou da Paz.

Em 2020, o Estado de São Paulo registrou 31.891 roubos de veículos, contra 46.517 roubos em 2019, ou seja, 14.626 veículos roubados a menos do que no ano anterior e uma redução percentual de 31%.

O interior paulista teve uma redução de 2.843 roubos de veículos em 2020 em comparação com o ano de 2019, ou seja, 26% de queda.

Roubo de veículos (taxa por 100 mil habitantes)

A taxa de roubos (veículos) por 100 mil habitantes por Deinter indica que o Departamento Oito registrou 3,2 roubos de veículos a cada 100 mil habitantes contra 2,8 registros no ano passado. É o menor número entre as regiões.

Em relação às duas categorias de roubos, o Instituto afirma que, ainda que os números de ocorrências já estivessem em tendência de queda nos anos anteriores, “é inegável que os meses de maior isolamento social devido à pandemia de Covid-19 tiveram como efeito a intensificação da redução dos roubos, modalidades de crimes cometidos geralmente em espaços públicos”.

Morte segundo causa

O Instituto Sou da Paz evidencia que no ano passado, entre 26 de fevereiro (data do primeiro caso confirmado no estado) e 31 de dezembro, a pandemia da Covid-19 matou 58.873 pessoas no Estado de São Paulo, uma média de 190 mortes por dia.

Nos 12 meses de 2020, o Estado registrou 3.038 homicídios dolosos e 844 mortes decorrentes de intervenção policial, ou seja, em 2020, morreram devido à doença um total de pessoas cerca de 14 vezes maior que a soma de todas as mortes violentas intencionais cometidas no estado.

Conforme o estudo, a taxa de letalidade da doença entre os 10 Departamentos de Polícia Judiciária do Interior (Deinter) "evidencia a gravidade da pandemia no interior de São Paulo", sendo superior a 100 mortes por 100 mil habitantes em sete dos 10 Departamentos de Polícia do Interior do estado.

Mortes segundo causa em 2020 (taxa por 100 mil habitantes)

Na região do Deinter 8, foram 6,4 mortes em decorrência de homicídios por 100 mil habitantes contra 106,1 mortes ligadas à Covid-19; cerca de 16 vezes mais óbitos. O número cai ainda mais na letalidade policial, com 0,1 óbito a cada 100 mil habitantes.

Considerações

O documento do Instituto enfatiza que o ano de 2020 foi marcado pela pandemia, o que impactou a realidade social e provocou milhões de mortes em todo o mundo. “Desde março de 2020 estamos vivenciando mudanças na dinâmica social do Estado de São Paulo e ao longo do ano tivemos diferentes medidas de restrições, adotadas de acordo com a incidência e letalidade provocado pelo vírus”, explica.

"No campo da segurança pública, observamos que a alteração na dinâmica social provocada pela pandemia impactou de diferentes maneiras os crimes analisados. Essa constatação ratifica o aspecto multicausal dos crimes, demonstrando que enquanto alguns itens apresentaram redução outros tiveram aumento em 2020 em resposta a essa mudança no cotidiano imposta pela pandemia”, aponta o Instituto no estudo.

Dinâmica

A pandemia de Covid-19 fez com que o ano de 2020 fosse atípico, pois mudou a dinâmica da sociedade em geral e também a dinâmica criminal. Foi observado um comportamento diferente em todo o Estado de São Paulo, conforme falou ao G1 o coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz Leonardo de Carvalho Silva.

Cada crime tem uma dinâmica própria e, para alguns, a redução do índice não significa, de fato, uma queda das ocorrências durante o ano de 2020 e as mudanças impostas pela pandemia da Covid-19, conforme comentou ao G1.

Um exemplo da situação é o crime de estupro. Silva explicou que o número de vítimas vinha aumentando ao longo dos anos, mas no ano passado sofreu uma “redução acentuada” e serviu como “um alerta”.

“Supomos que, infelizmente, não é indicativo de redução de violência, mas das notificações às autoridades”, declarou o coordenador de projetos.

Silva esclareceu que foi observado pelo Instituto que o impacto do isolamento social e a mudança das dinâmicas de atendimentos em órgãos diversos impostos pela pandemia da Covid-19 dificultaram o acesso das vítimas de estupro às autoridades, uma vez que muitas delas convivem com o agressor e voltaram a uma situação de vulnerabilidade.

Os números foram analisados ao longo do ano de 2020 e foi constatado que a queda das notificações de estupro foi maior no primeiro semestre de 2020, quando o isolamento social estava mais rígido. No segundo semestre os números aumentaram.

Na área do Deinter 8 foram 350 notificações de estupro em 2019, número que caiu para 294 no ano passado.

“Cada crime oscila de uma forma”, afirmou Silva ao G1.

Em relação aos homicídios, o Deinter 8 se destaca ao ir na contramão do Estado, pois apresentou queda nos índices deste crime. Foram 51 vítimas de homicídio em 2019 e 48 no ano passado. “Uma das poucas áreas em que a redução manteve”, comentou Silva ao G1.

Uma dinâmica diferente também é vista nos crimes contra o patrimônio, como o roubo. Silva destacou que a queda foi “mais intensa” com a redução da circulação de pessoas devido ao isolamento social.

Um destaque também foi a taxa de latrocínio. A região de Presidente Prudente registrou cinco casos em 2019 e um no ano passado, que ocorreu em Rancharia. Segundo Silva, o dado “reflete a redução do número de roubos”, já que o latrocínio pode ser citado como “um roubo que deu errado” devido a alguma circunstância.

Os índices criminais refletem na sensação de segurança da população e, “para servir de alerta”, o Instituto fez um comparativo das mortes provocadas pela Covid-19 com as mortes violentas consequentes de crimes (homicídio e letalidade policial).

Segundo Silva ao G1, foi um dado “necessário” para “ter noção do impacto da pandemia na dinâmica social” e para indicar que o vírus é também um perigo para a população.

Polícia Militar

Em nota ao G1, o Comando de Policiamento do Interior Oito (CPI-8), que atua em 67 municípios das regiões de Presidente Prudente, Dracena, Presidente Venceslau e Assis, salientou o desenvolvimento de ações de polícia ostensiva e preservação da ordem pública por meio de seus batalhões, que mantêm a corporação presente diuturnamente em todos os municípios. Os atendimento às demandas de Segurança Pública são originados pelo telefone de emergência "190", solicitações diretas às Unidades de Serviço ou instalações policiais militares ou, ainda, plataformas digitais.

O resultado do trabalho policial militar contribui para que a região seja considerada a mais segura do Estado de São Paulo, com os melhores índices de produtividade e menores indicadores criminais.

Conforme enfatizou ao G1 a Polícia Militar, a queda dos indicadores criminais perdura ao longo de mais de 10 anos e demonstra “a consistência do planejamento realizado e de seus resultados operacionais”.

Entre os planejamentos estão a utilização de ferramentas inteligentes e o constante mapeamento dos indicadores criminais, que possibilita o direcionamento do policiamento para “pontos sensíveis previamente definidos”.

Ainda em nota, a PM explicou que também são realizadas ações sociais, cívicas, orientações, visitas técnicas, divulgações de questões relacionadas à segurança pessoal e de grupo, com o objetivo de prevenir práticas usuais de delitos e contribuir para a diminuição de índices de crimes contra a pessoa e ao patrimônio.

O CPI-8 ainda acrescentou ao G1 que tem intensificado sua produtividade trabalhando sempre de forma integrada com o cidadão de bem, a Polícia Civil, o Ministério Público, o Poder Judiciário, Prefeituras e outros órgãos.

No contexto da pandemia da Covid-19, a Polícia Militar declarou que continuou no desempenho de suas atividades essenciais “ininterruptamente”, com a adoção de todas as medidas preventivas para proteção dos policiais militares, como uso de máscaras, álcool em gel e higienização das viaturas.

“Não houve impacto ou redução de policiais de serviço nas ruas. Portanto, embora as medidas de isolamento social possam haver refreado a circulação de pessoas e veículos por meio da restrição de atividades comerciais e da proibição de festas e eventos com aglomeração, não há dados concretos que permitam correlacionar tais medidas com os atuais indicadores criminais”, finalizou ao G1 a PM.

Polícia Militar do Estado de São Paulo

Stephanie Fonseca

Polícia Civil

O delegado da Polícia Civil Everson Aparecido Contelli pontuou ao G1 que graças ao trabalho das polícias, a região de Presidente Prudente tem experimentado redução dos índices criminais nos últimos anos.

“Embora não se desconheça o impacto da pandemia, já existia uma tendência de redução desses índices e a pandemia ocorre exatamente nesta janela”, comentou o delegado.

Sobre os casos de estupros, Contelli declarou que “não há comprovação científica sobre as causas da redução, seja na nossa região, ou em qualquer outra parte do Brasil”.

“De qualquer forma, o que deve também deve ser considerado é que no início de 2019, um caso que ganhou a mídia local e nacional envolveu dezenas de registros concomitantes do crime contra a dignidade, de modo que não há que se impressionar com a redução no ano seguinte”, lembrou.

Também foi ressaltado pelo delegado ao G1 que os roubos sofreram redução nos últimos 20 anos na região.

Departamento de Polícia Judiciária do Interior – Oito, Deinter-8, Presidente Prudente, Polícia Civil

Deinter-8/Cedida

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Fonte: G1

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