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Nesta segunda-feira (11), a montadora anunciou que encerrará a produção de veículos em suas fábricas no Brasil em 2021. Ao todo, 5 mil empregos devem ser afetados. O setor automotivo enfrenta uma série de transformações tecnológicas que tem obrigado as empresas tradicionais a reestruturarem os seus negócios. No Brasil, além dessas questões estratégicas, as empresas alegam problemas locais, como chamado Custo Brasil, que encarece a produção de veículos e tira a competitividade das companhias.Fotos: A Ford no BrasilFord inaugurou a primeira fábrica de automóveis do Brasil; veja o históricoLeia a repercussão com o anúncio da empresaNesta segunda-feira (11), a Ford anunciou que encerrará a produção de veículos em suas fábricas no Brasil em 2021. Ao todo, 5 mil empregos devem ser afetados. Foi só mais um movimento de reestruturação do setor que ocorre ao longo dos últimos anos. Na semana passada, acionistas de Peugeot e Fiat aprovaram uma fusão para criar o quarto maior grupo automotivo do mundo.Ford encerra produção de veículos no Brasil; especialista comentaQuais são as transformações do setor automotivo?As empresas lidam com uma série de transformações tecnológicas que prometem deixar o setor menos poluente. Nesse contexto, companhias com origens em outras atividades começaram a adquirir competências e novas tecnologias para operar no ramo automotivo, o que pode desbancar boa parte das empresas tradicionais. A Tesla, por exemplo, é uma empresa de carros elétricos e tem visto as suas ações se valorizarem. Na semana passada, Elon Musk, fundador da companhia, superou Jeff Bezos e se tornou a pessoa mais rica do mundo com a aposta dos investidores no sucesso da Tesla. Já o Google trabalha num projeto de carros autônomos. Todas essas mudanças tecnológicas também implicam em mais custos para as montadoras. Qual é o quadro do setor automotivo no Brasil?O setor automotivo como um todo - automóveis, caminhões e ônibus - tem enfrentado sucessivas crises. A primeira delas ocorreu entre 2014 e 2016, quando o país enfrentou um dura recessão. Naquele período, a produção do setor recuou para cerca de 2 milhões de veículos.O setor conseguiu melhorar a produção até 2019, mas crise causada pela pandemia de coronavírus provocou mais uma queda. No ano passado, o tombo foi de 31,6%.Produção de veículos novos no BrasilEconomia G1"O efeito da pandemia foi bem severo para o setor automotivo. A gente viu uma recuperação depois dos meses de paralisação das atividades, principalmente do lado de caminhões", diz a analista da consultoria Tendências Isabela Tavares. "A mudança de hábito provocada pela pandemia, com o fortalecimento do comércio eletrônico, demandou mais veículos, como os caminhões."A expectativa da Tendências é que apenas em 2023 a produção automotiva volte para o patamar que era observado em 2019.Qual era a situação da Ford no mercado brasileiro?No país desde 1919, a empresa mantinha fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), para carros da Ford, e em Horizonte (CE), para jipes da marca Troller. A companhia ocupou a quinta colocação no ranking de vendas de automóveis no Brasil no ano passado, segundo dados da consultoria Tendências com base em números da Fenabrave.Em 2020, a montadora foi responsável por 7,14% das vendas de automóveis, o que representou uma queda em relação ao 2019 (a participação foi de 8,2%). Ao longo dos últimos anos, a companhia perdeu participação no mercado nacional. Em 2004, era de 11,5%.No país, o mercado de vendas de automóveis tem sido abocanhado pelas montadoras asiáticas: a Hyundai já é a quarta colocada, com participação de 8,58%, e a Toyota tem uma fatia de 7,07%. "Isso interfere em toda a cadeia, não é bom para ninguém", diz consultor automotivo sobre saída da Ford do paísO que a Ford alega para fechar as fábricas no Brasil?Em carta aos concessionários, a empresa alegou que a "Ford América do Sul acumulou perdas significativas" nos últimos anos e que a matriz tem "auxiliado nossas necessidades de caixa, o que não é mais sustentável." A Ford culpou o aumento de custos industriais com a desvalorização das moedas da região e os impactos econômicos da pandemia de coronavpirus. A montadora também diz que o "nosso negócio exige investimentos significativos em novas tecnologias para atender às demandas dos consumidores e itens regulatórios, que estão remodelando a indústria."Como está o plano de reestruturação da companhia?A montadora já iniciou um enxugamento de custos da sua produção com um amplo plano de reorganização ao redor do mundo. Foram fechadas fábricas na Austrália, após 91 anos no país, e na França, em Blanquefort. Na Europa e Estados Unidos, a montadora anunciou demissões em 2019.No Brasil, o primeiro passo da reestruturação, em 2019, foi o encerramento da produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), depois de 52 anos. Em outubro, foi concluída a venda da fábrica do ABC paulista para a Construtora São José e com a FRAM Capital. Em nota, Ford diz que cinco mil funcionários serão demitidos no Brasil e na ArgentinaO que diz o setor automotivo no país?A associação das fabricantes, a Anfavea, disse que não vai se pronunciar sobre o encerramento das atividade, mas a entidade apontou o que a decisão da Ford "corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o Custo Brasil."O que pode ajudar a indústria?O setor industrial pede a redução do chamado custo Brasil, que engloba uma elevada burocracia para se fazer negócios no país e com uma alta carga tributária. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou que a decisão da Ford serve de alerta para que o Congresso aprove uma reforma tributária, que "se apresenta como a prioritária para a redução do principal entrave à competitividade do setor industrial brasileiro."Em 2019, o "Doing Business", levantamento do Banco Mundial, apontou que o Brasil ocupava a 124º colocação no ranking da entidade que mede a facilidade para fazer negócios. Vídeos: Últimas notícias de economia