Dança das cadeiras no governo Bolsonaro: Relembre os ministros que saíram e as trocas de comando nas pastas

Por Redação em 31/12/2020 às 17:57:31

De janeiro a dezembro de 2020, oito ministros deixaram o governo do presidente Jair Bolsonaro. Em dois anos de mandato, foram 12 trocas, mais da metade ocorridas neste ano. Saíram Gustavo Canuto (Ministério do Desenvolvimento Regional), Osmar Terra (Ministério da Cidadania), Luiz Henrique Mandetta (Ministério da Saúde), Sergio Moro (Ministério da Justiça e Segurança Pública), Nelson Teich (Ministério da Saúde), Abraham Weintraub (Ministério da Educação), Carlos Decotelli (Ministério da Educação) e Marcelo Álvaro Antônio (Ministério do Turismo). Em 2019, o governo substituiu Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência da República), Ricardo Vélez (Ministério da Educação), Santos Cruz (Secretaria de Governo do Brasil) e Floriano Peixoto (Secretaria-Geral da Presidência da República). Foram 12 trocas de ministros em menos de dois anos de gestão. Em meio à pandemia do coronavírus no país, a cadeira da Saúde girou duas vezes. Ao lado do Ministério da Saúde, a Educação também protagonizou uma das maiores danças em 2020. Mesmo sem o status de ministério, algumas pastas, como a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) e a Secretaria Especial da Cultura foram alvos de polêmicas que resultaram em alterações. Veja, abaixo, as principais mudanças do governo Bolsonaro em 2020:

17 de janeiro – Roberto Alvim é exonerado depois de vídeo com inspiração nazista

Roberto Alvim foi demitido da Secretaria Especial da Cultura após a publicação de um vídeo nas redes sociais da pasta em que afirmava que “a arte brasileira da próxima década será heroica e imperativa“. O discurso se assemelha ao do ministro da Alemanha nazista Joseph Goebbels — antissemita radical que comandava a pasta da Propaganda no governo de Adolf Hitler. A publicação causou indignação nos mais diferentes setores da sociedade. Assim, Alvim foi exonerado um dia após a publicação do vídeo. Regina Duarte foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para substituir Alvim no mesmo dia, mas só aceitou quase duas semanas depois, em 29 janeiro.

6 de fevereiro – Gustavo Canuto pede demissão do Ministério do Desenvolvimento Regional

Cobrado nos bastidores pela falta de eficiência na coordenação de programas como o Minha Casa, Minha Vida, o ministro do Desenvolvimento Regional Gustavo Canuto cedeu à pressão e pediu demissão do cargo em 6 de fevereiro. Quem assumiu a pasta foi o então secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Canuto, no entanto, não foi retirado do governo e foi nomeado presidente da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev).

13 de fevereiro – Osmar Terra é exonerado do Ministério da Cidadania, Onyx Lorenzoni deixa a Casa Civil e assume a pasta de Terra

O mês de fevereiro marcou a chamada reforma ministerial do governo. Em um ano de gestão, Osmar Terra ainda não havia apresentado avanços significativos na condução do Ministério da Cidadania. Pelo contrário, a fila de espera do programa Bolsa Família, que estava zerada desde 2018, chegou a quase 500 mil pessoas no começo de 2020. Mal avaliado por aliados de Bolsonaro, o ministro viu sua pasta sendo esvaziada. A Cidadania perdeu a Secretaria da Cultura para o Ministério do Turismo e quase perdeu o Esporte. Já na corda bamba pela ineficiência, Terra foi demitido após a descoberta de contrato milionário firmado pelo Ministério da Cidadania com a Business Technology (B2T). A pasta ignorou alertas de fraude antes de aceitar a contratação da empresa, que virou alvo da Polícia Federal na Operação Gaveteiro. Depois da saída, ele retomou o mandato de deputado federal.

A Casa Civil já vinha sendo desidratada desde 2019. Em 2020, a situação piorou em janeiro, quando o secretário-executivo da Casa Civil, José Vicente Santini, usou um jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para uma viagem exclusiva para a Índia e Suíça. Na época, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, estava de férias. Alvo da ira do presidente da República, Santini foi exonerado, recontratado e novamente exonerado em um período de três dias. Na mesma semana, o presidente foi responsável pela indicação de três novos secretários para a pasta. A Casa Civil perdeu o Programa de Parceria e Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia e a transferência deixou o ministério com poucas funções. Lorenzoni, aos poucos, perdeu articulação política para o secretário-geral de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, o que dificultava sua permanência no ministério. O ministro, porém, é um fiel apoiador de Bolsonaro, que encontrou no Ministério da Cidadania uma chance de realocar o aliado. O general Braga Netto foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Casa Civil e Lorenzoni assumiu o lugar de Terra na Cidadania.

4 de março – Regina Duarte, finalmente, toma posse como secretária da Cultura

Depois de longas semanas de “noivado” com o presidente Jair Bolsonaro e promessas de que a Cultura voltaria ao status de ministério, Regina Duarte tomou posse como secretária Especial da Cultura. Ao ser oficialmente nomeada, ela fez questão de lembrar que o convite passou pela garantia de “porteira fechada e carta branca” – leia-se: autonomia para montar sua equipe. Na véspera da posse, 12 exonerações na pasta foram publicadas no Diário Oficial da União. A exoneração de nomes ligados à ala ideológica do governo, porém, foram suficientes para os bolsonaristas se virarem contra Regina.

16 de abril – Luiz Henrique Mandetta é demitido por divergências com Bolsonaro

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta sofreu um intenso processo de fritura por discordar do presidente Jair Bolsonaro em relação à pandemia Foto: Isac Nóbrega/PR

O primeiro caso do coronavírus do Brasil foi registrado em 26 de fevereiro. Desde então, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ganhou popularidade pelo seu protagonismo na condução do combate à Covid-19 no país. Em 3 de abril, 76% dos brasileiros entrevistados pelo Datafolha apoiavam a gestão da pasta comandada por Mandetta. O protagonismo do ministro, porém, causou desconforto no presidente. A rivalidade foi aumentando à medida que dois se tornavam antagonistas em relação à condução da crise causada pelo coronavírus no país. Enquanto o presidente menosprezava o perigo do vírus, defendendo que a economia deveria ser a prioridade e desrespeitando o isolamento social, Mandetta seguia as recomendações da OMS, aconselhando o uso de máscaras e distanciamento. Em um curto e intenso processo de fritura, o médico foi demitido pelo presidente Bolsonaro em 16 de abril. No dia seguinte, Nelson Teich tomou posse como novo ministro da Saúde.

24 de abril – Sergio Moro deixa governo após Bolsonaro trocar comando da PF

Inicialmente com o status de “superministro”, Sergio Moro saiu do governo como um dos principais desafetos do presidente Jair Bolsonaro Foto: Adriano Machado/Reuters

A crise entre o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o presidente Jair Bolsonaro começou no dia 23 de abril, após Moro ser informado pelo presidente que Maurício Valeixo foi exonerado da diretoria-geral da Polícia Federal. O ministro, então, pediu demissão, mas acabou demovido da ideia após a promessa de Bolsonaro de que o diretor da PF continuaria no cargo. Valeixo, no entanto, foi exonerado a pedido próprio no dia 24 de abril, segundo justificativa publicada no Diário Oficial. O desgaste entre Moro e Bolsonaro em torno da questão do comando da PF já vinha se desenhando há quase um ano. O presidente havia tentado tirar Valeixo do cargo desde meados de 2019, sempre com a resistência do ministro. Em agosto do ano passado, o capitão reformado chegou a dizer que o diretor-geral era subordinado a ele, não ao ministro. “Está na lei que eu indico, e não o Sergio Moro. E ponto final”, declarou Bolsonaro na época. No mesmo dia da publicação da demissão de Valeixo no DOU, Sergio Moro pediu demissão. Em coletiva de imprensa para anunciar sua saída, Moro acusou o presidente Bolsonaro de intervir no comando da Polícia Federal por motivos pessoais. Segundo o agora ex-ministro, não era a primeira vez que o chefe do Executivo mostrava motivações políticas para as trocas.

29 de abril – André Mendonça sai da AGU e assume Ministério da Justiça e Segurança Pública

O novo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, assumiu o cargo em 29 de abril, no lugar de Moro. Para comandar a pasta, Mendonça deixou a presidência da Advocacia-Geral da União (AGU). No dia anterior, 28 de abril, Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi escolhido para ser o novo diretor-geral da Polícia Federal (PF) no lugar de Maurício Valeixo. A nomeação, no entanto, foi barrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pela relação pessoal entre Ramagem e o presidente Bolsonaro. José Levi assumiu a AGU no lugar de Mendonça, e Rolando Alexandre de Souza assumiu a PF.

15 de maio – Nelson Teich pede demissão antes de completar um mês no cargo

Antes de completar um mês como ministro da Saúde, Nelson Teich deixou o cargo. Assim como Mandetta, Teich teve atritos com o presidente em relação à condução da pandemia. Na época, o presidente Jair Bolsonaro queria usar a cloroquina e a hidroxicloroquina como tratamento precoce para a Covid-19, antes que os medicamentos tivessem eficácia científica comprovada para a doença. Teich se negou. O isolamento também foi motivo de embate entre os dois. O presidente defendia o isolamento vertical, em que só o grupo de risco ficaria confinado, e o ministro defendia o isolamento horizontal, em que o maior número possível de pessoas ficaria em suas casas. Após a sua saída, Eduardo Pazuello assumiu como ministro interino. Pazuello só tomou posse oficialmente em 16 de setembro.

20 de maio – Regina Duarte troca Secretaria da Cultura por vaga inexistente na Cinemateca

Regina Duarte saiu da Secretaria Especial de Cultura mostrando clima amistoso entre ela e o presidente Jair Bolsonaro Foto: Carolina Antunes/PR

Desde sua posse, Regina Duarte já havia desagradado os apoiadores do presidente ao exonerar nomes ligados à ala ideológica. Apesar de ter recebido “carta branca”, a secretária não teve passe livre para demitir nomes como o de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares. A demissão do maestro Dante Mantovani, que presidia a Funarte, foi cheia de idas e vindas. O “casamento” entre ela e o presidente Bolsonaro desgastou após a atriz não comparecer ao evento em que o chefe do Executivo se defendeu das acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro. O processo de fritura da atriz se intensificou depois de entrevista de Regina à CNN. Na ocasião, ela falou sobre a ditadura militar e, em certo momento, se irritou com os âncoras a ponto de retirar o microfone para não responder aos questionamentos. Menos de duas semanas depois, a secretária apareceu ao lado de Bolsonaro anunciando a sua saída. Em vídeo com clima amistoso, Regina contou que foi direcionada ao comando da Cinemateca e que deixou o cargo por sentir falta da família. Desde lá, a atriz nunca assumiu o cargo na instituição, que está fechada desde agosto deste ano.

11 de junho – Bolsonaro recria Ministério das Comunicações e muda Secom de lugar

A recriação do Ministério das Comunicações foi um aceno do presidente Jair Bolsonaro ao Centrão. Desde 2016, a estrutura da pasta integrava o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, comandado por Marcos Pontes. Com a publicação de uma medida provisória, Bolsonaro recriou o ministério e extinguiu a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), que foi incorporada à estrutura da nova pasta. O polêmico Fábio Wajngarten, secretário especial da Secom, passou a ser secretário-executivo das Comunicações. Dessa forma, o governo Bolsonaro tentou tirar Wajngarten da linha de frente. O secretário, além do seu perfil altamente ideológico, era alvo do Tribunal de Contas da União (TCU) e da CPMI das Fake News. O Ministério das Comunicações foi entregue ao até então deputado federal Fábio Faria (PSD-RN).

18 de junho – Para tentar uma trégua com o STF, Bolsonaro demite Abraham Weintraub

Envolvido em uma série de polêmicas, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, conseguiu se sustentar no cargo por 14 meses. Weintraub era uma das bases da ala ideológica do governo Bolsonaro, mas os atritos com o Supremo Tribunal Federal (STF) deixaram a sua permanência insustentável. No fático vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, no Palácio do Planalto, Weintraub aparece dizendo que “botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF (sic)”. Em junho, o ministro participou de protesto antidemocrático pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso. Por causa da fala, ele entrou para o inquérito das fake news e dos atos antidemocráticos do STF. Weintraub também tem seu nome em outro inquérito, que apura crime de racismo contra a população chinesa. Em 18 de junho, ele apareceu em vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro anunciando sua saída do Ministério da Educação. Antônio Paulo Vogel assumiu como interino.

19 de junho – Governo oficializa Mario Frias como novo Secretário Especial de Cultura

O ator Mario Frias foi oficializado como secretário Especial de Cultura um mês após Regina Duarte deixar a pasta. Frias é o quinto nome a assumir a pasta. Em janeiro, quando Roberto Alvim deixou o cargo, ele já era cotado para a função. Antes, passaram pelo comando Henrique Pires e Ricardo Braga até chegar em Alvim.

30 de agosto – Carlos Decotelli renuncia antes da posse

Em 25 de agosto, mais de um mês após a saída de Abraham Weintraub, Carlos Decotelli foi anunciado como novo ministro da Educação. Indicado pelo presidente pela ala militar do governo, Decotelli renunciou em 30 de agosto, sem ter sido empossado. O motivo da renúncia foi as inconsistências no currículo do economista, uma vez que as Universidades de Rosário, na Argentina, e de Wuppertal, na Alemanha, desmentiram que ele tivesse concluído seus programas de doutorado e pós-doutorado nas instituições.

9 de dezembro – Álvaro Antônio é demitido após discussão com general Ramos

Última troca de comando em 2020 aconteceu em meio a uma discussão entre ministros e à aproximação de Bolsonaro com o Centrão. No grupo de WhatsApp dos ministros do governo, Marcelo Álvaro Antônio acusou o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, de negociar o comando de sua pasta, o Ministério do Turismo, com o Centrão. “Não me admira o Sr Ministro Ramos ir ao PR pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados”, escreveu Álvaro Antônio. No dia seguinte, os dois se encontraram em frente ao gabinete de Jair Bolsonaro e discutiram novamente. No mesmo dia, o ministro do Turismo foi demitido pelo presidente. Apoiador de Bolsonaro desde a pré-campanha, em 2018, Gilson Machado deixou a presidência da Embratur e assumiu o comando do Turismo.

Fonte: Política

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