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Inspirado por seu pai, Marcelo Portugal Gouvêa quer restaurar função dos conselheiros e pede imparcialidade na política do São Paulo

Por Redação em 07/11/2020 às 07:10:37

Bastante atuante na política do São Paulo desde 2004, quando se juntou ao Grupo Nova Força, Marcelo Portugal Gouvêa já foi eleito conselheiro, em 2008, conselheiro vitalício, em 2014, além de ter assumido o posto de diretor adjunto de futebol a pedido do então diretor de futebol Juvenal Juvêncio entre 2005 e 2009. As comparações com seu pai, campeão paulista, da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2005, como presidente, são inevitáveis, mas ele não vê a situação como algo que pode atrapalhá-lo.

"Eu acho que me ajuda, porque convivi bastante com ele durante a gestão, já tinha convivido com ele em outros momentos. Meu pai sempre se dedicou voluntariamente não só ao São Paulo, mas também ao Esporte Clube Pinheiros e ao Jockey Club, então sempre acompanhei ele, porque tinha muito interesse nisso e aprendi muito com ele, especialmente no São Paulo. É preciso separar o emocional do racional, que é uma das maiores dificuldades de um dirigente esportivo, porque futebol envolve paixão, é difícil tomar decisões com a cabeça fria", comentou.

"Por outro lado, gera uma responsabilidade maior, porque há essa comparação, somos muito parecidos. Semana passada estava no clube, e um sócio me abordou falando que eu, de costas, parecia meu pai, pelo tom de voz, pela postura. Mas, o fato de eu ter convivido com ele, ter características muito parecidas com ele, como caráter, credibilidade, me dá condições de ter uma gestão exitosa também", completou.

Abaixo você confere a entrevista completa de Marcelo Portugal Gouvêa, candidato à presidência do Conselho Deliberativo do São Paulo, à Gazeta Esportiva:

– Desde quando você faz parte da política do São Paulo? Como começou sua história nesse ambiente? Imagino que muito se deve à influência de seu pai.

Eu já participava da gestão do meu pai, Marcelo Portugal Gouvêa, de forma informal quando ele foi eleito presidente. Em 2005, o diretor de futebol era o Juvenal Juvêncio e ele pediu ao meu pai para que eu fosse nomeado diretor adjunto de futebol porque ele entendeu que eu já tinha algumas ideias que seriam importantes para o futebol do São Paulo. O Juvenal que me nomeou como diretor adjunto de futebol para que eu pudesse contribuir com mais efetividade para a gestão. Um pouco antes disso, em 2003, foi fundado o Grupo Nova Força, grupo que eu faço parte desde 2004. Foi formado com a intenção de preparar jovens para a renovação dos dirigentes do São Paulo, viram que tinham um buraco e que era necessário formar novos dirigentes para o São Paulo. Eu fiquei de diretor adjunto de futebol entre 2005 e 2009. Em 2008 participei da minha primeira assembleia geral e fui eleito conselheiro, a primeira do Grupo Nova Força. Em 2011, prestei assessoria jurídica de forma voluntária, já que sou advogado, ao projeto sócio-torcedor. Em 2014, quando finalizou meu mandato como conselheiro eleito, participei da eleição para me tornar conselheiro vitalício e também fui eleito. Em 2016 fui indicado pelo então presidente do Conselho Deliberativo para participar da comissão especial formada por conselheiros para investigar o contrato firmado entre o São Paulo e a Far East [que intermediou o acordo para o patrocínio da Under Armour]. Com muita tristeza e pesar o processo foi arquivado pelo então presidente da comissão de ética. Em 2017 participei da comissão formada por sócios e conselheiros que elaborou o novo estatuto do São Paulo. Fui um dos relatores do estatuto do São Paulo e isso acho que foi a maior participação do Conselho na última década, a de maior importância.

– O que o motivou a concorrer à presidência do Conselho?

O Grupo Nova Força se tornou oposição à gestão quando ela se distanciou do profissionalismo que o estatuto apregoa. Inclusive, ontem teve uma reunião do Conselho Deliberativo e hoje durante o dia será votada a aprovação de contratos que deveriam estar em vigência só após a aprovação do Conselho Deliberativo, mas já estão em vigor, ou seja, mais um descumprimento ao estatuto, ainda que os contratos, após eu analisar, sejam de valores muito baixos, não prejudicam o São Paulo, mas o estatuto foi descumprido, porque determina que os contratos com vigência passando o período do mandato atual devem ser previamente aprovados pelo Conselho Deliberativo. Depois de fazer oposição à gestão, não adiantaria tentarmos a presidência da diretoria, pois passaríamos três anos defendendo a profissionalização e o próximo presidente poderia deixar tudo o que fizemos para trás. Por isso, o mais importante é o retorno da função fiscalizadores do Conselho Deliberativo. A gente entende que é preciso restaurar a função dos conselheiros, tirar os aspectos políticos, deixa-los só para épocas eleitorais, não deixar com que a política influencie na votação dos conselheiros. Ontem eu fui analisar esses contratos e todos os conselheiros que já haviam analisado esses contratos, seis no total, eram do grupo Resgate Tricolor. Isso mostra que provavelmente todos os conselheiros que apoiam o grupo de situação vão aprovar os contratos sem sequer analisa-los. Isso mostra que o voto dos conselheiros acabam sendo políticos e não técnicos.

(Foto: Divulgação)

– Quais são os principais pilares do seu plano de gestão?

A principal coisa é a independência que deveria acontecer entre os poderes. Mesmo que o presidente para a diretoria eleito seja o Roberto Natel, eu falei no dia seguinte que ele saiu como candidato que minha gestão no Conselho Deliberativo seria independente, apesar de fazermos parte do mesmo grupo. Não estamos todos juntos, como falam por aí, e isso mostra talvez a dificuldade que vai gerar uma gestão independente caso não sejam eleitos os candidatos da chapa Resgate Tricolor. Precisamos restaurar a mentalidade do conselheiro, que está lá para fiscalizar o cumprimento das normas estatutárias. Como vamos fazer isso? Mostrando uma imparcialidade. Você passando o exemplo de cima para baixo, a mentalidade vai mudar. Temos também que trazer de volta para as reuniões do Conselho a presença de ilustres conselheiros que deixaram de participar nos últimos anos, porque estavam muito desgostosos com as reuniões do Conselho. Precisamos fazer pautas mais enxutas, porque muitas vezes se perde a concentração ao longo da reunião. Reuniões mais curtas, mas mais frequentes, que tragam maior interesse das partes. É importante que o Conselho mostre institucionalmente sua função. Às vezes encontro amigos que me pedem para eu trocar o técnico só porque sou conselheiro. Tenho que explicar para eles que não tenho esse poder. Em época de eleição no clube vejo muitos candidatos a conselheiro que prometem reforma de piscina. O conselheiro não tem esse poder. Infelizmente, há muitos candidatos assim.

– Como tornar a política tricolor mais transparente aos torcedores, já que tudo acontece a portas fechadas no Morumbi, sem participação popular?

Essa aproximação com o torcedor e com o sócio do clube tem que ser através de uma linguagem clara. Essa aproximação acontece através da transparência. Por que não transmitir as reuniões aos torcedores? Obviamente temos que manter certos assuntos confidenciais, mas 90% dos assuntos podem ser transmitidos. Hoje em dia vazam muitas informações das reuniões do Conselho em blogs e influenciadores escolhidos a dedos, mas não há motivo para isso. As informações podem ser disponibilizadas para todos os torcedores de forma oficial.

– Você acha que o fato de seu pai ter sido um dos presidentes mais vitoriosos da história do São Paulo mais ajuda ou atrapalha você nessa nova empreitada? Como lidar com as comparações?

Eu acho que me ajuda, porque convivi bastante com ele durante a gestão, já tinha convivido com ele em outros momentos. Meu pai sempre se dedicou voluntariamente não só ao São Paulo, mas também ao Clube Pinheiros e ao Jockey Club, então sempre acompanhei ele, porque tinha muito interesse nisso e aprendi muito com ele, especialmente no São Paulo. É preciso separar o emocional do racional, que é uma das maiores dificuldades de um dirigente esportivo, porque futebol envolve paixão, é difícil tomar decisões com a cabeça fria. Por outro lado, gera uma responsabilidade maior, porque há essa comparação, somos muito parecidos. Semana passada estava no clube, e um sócio me abordou falando que eu, de costas, parecia meu pai, pelo tom de voz, pela postura. Mas, o fato de eu ter convivido com ele, ter características muito parecidas com ele, como caráter, credibilidade, me gera condições de ter uma gestão exitosa também.

– Muitos torcedores criticam o sistema político extremamente restrito no São Paulo. Como tornar o processo eleitoral mais democrático? Há a intenção de remodelar as eleições, com a participação de sócios-torcedores, desde que haja a certeza de que esses sócios não fazem parte de uma manobra de um dos candidatos?

Tanto o grupo Nova Força quanto o grupo Resgate Tricolor, que reúne os grupos de oposição à gestão atual, defendem uma reforma política e a maior democratização do processo eleitoral. Através do voto direto do sócio e também da criação de um novo tipo de sócio-torcedor que possa voltar. Obviamente serão estudadas as cláusulas de barreira. Para o sócio do clube já existem hoje. Eles só podem votar após dois anos de contribuição ininterrupta, até como forma de garantir que quem está participando do processo eleitoral são realmente pessoas que se importam com o São Paulo. Isso é o que eu enxergo como a principal diferença entre as duas chapas que estão concorrendo no clube.

– Grande parte da torcida também defende a separação entre futebol e social. Em meio às campanhas eleitorais, um vídeo de um sócio defendendo o repasse de 5% de todo o orçamento do futebol ao clube social repercutiu bastante e gerou indignação de muitos são-paulinos. O que você pensa disso?

Eu defendo que haja uma completa autonomia financeira e administrativa do social em relação ao futebol. Eu não acho justo que o torcedor do São Paulo compre uma camisa e parte dos royalties vá para a área social, para a reforma da piscina. Assim como também não acho justo que o sócio do São Paulo, que às vezes nem é são-paulino, tenha parte da sua contribuição destinada ao pagamento de salário de jogadores. As contribuições sociais e as taxas das modalidades, inscrições, são suficientes para pagar manutenção e manter o clube. O que o sócio não sabe é que muitas vezes, por ser caixa único, o dinheiro dele pode servir para pagar jogador. Então, as coisas têm que ser independentes. Eu acho um absurdo esse repasse de 5%. O dinheiro do futebol não deve ser destinado ao clube social. Se o marketing conseguir um dinheiro a mais para o social, perfeito. Agora, o São Paulo tem o patrocínio do Banco Inter. O banco deu 5% do dinheiro para o social, mas se ele não está explorando sua marca no social, na verdade ele deu para o futebol, que está repassando 5% ao social.

– Hoje o Conselho de Administração do São Paulo não tem poder para barrar uma contratação no departamento de futebol. O que acontece no departamento de futebol chega ao Conselho de Administração depois de feito, mesmo se a medida tomada for ruim financeiramente. Você pensa em tentar emplacar mudanças no estatuto também?

Eu acho que o Conselho de Administração tem poderes estatutários para proteger diversas questões do futebol profissional que ele não protegeu nessa gestão. A questão do Conselho de Administração ter de aprovar a contratação de certo jogador poderia fazer com que o São Paulo perdesse a oportunidade de contratar esse jogador. Quem acompanha o mercado do futebol sabe que uma contratação é definida em questão de minutos, horas. Você precisa tomar a decisão rápido para não perder o jogador para outro clube. A necessidade de aprovação prévia do Conselho de Administração inviabilizaria contratações. Mas, poderia haver metas financeiras e esportivas definidas pelo Conselho de Administração. Se o Conselho de Administração define metas para o diretor de futebol atingir, por exemplo, estabelece R$ 50 milhões como orçamento para contratações e com essa quantia é preciso formar um time para terminar o campeonato em determinada posição. Se gastar mais de R$ 50 milhões, esse cara está fora. Não atingiu o resultado gastando esses R$ 50 milhões, não cumpriu a meta, tchau.

Marcelinho, como também é conhecido no clube, já foi diretor adjunto de futebol entre 2005 e 2009 (Foto: Divulgação)

– Qual será a participação do presidente do Conselho Deliberativo para sanar a grave crise financeira pela qual atravessa o São Paulo? O que está ao seu alcance?

O Conselho Deliberativo recebe uma indicação de orçamento da diretoria depois de passar pelo Conselho de Administração e vota se aprova ou não aquele orçamento. O Conselho Deliberativo terá de analisar o orçamento e ver se está de acordo com a realidade do São Paulo. Hoje, o orçamento está fora do ideal. O São Paulo, nos próximos anos, precisará de uma conduta de rédeas mais curtas. Precisamos controlar o orçamento, fazer com que ele seja cumprido à risca. A diretoria precisa cumprir aquilo que propôs. Se cumprir e for um orçamento que ajude o São Paulo a sair da crise, o São Paulo sairá da crise através da fiscalização do Conselho Deliberativo.

– Ao longo da gestão Leco, o termo "Aero Leco" ficou conhecido pelo fato de o presidente levar alguns conselheiros para as viagens da delegação. Creio que essa não é a primeira vez que isso acontece na história do São Paulo. Um dos desafios dos líderes do novo ciclo político do São Paulo é justamente acabar com essa cultura enraizada da velha política do clube?

Temos que defender o fim da politização de todas as questões envolvendo a gestão. Política no São Paulo tem que ser na época das eleições, a gestão não tem que ser política. Temos que acabar com certas benesses para efeitos políticos. Acredito que tenha algum conselheiro que seja convidado para viajar e que tenha credibilidade para votar contra alguma questão da diretoria. Então, fazendo isso, você acabaria com aquela questão do uso político dessas viagens. O São Paulo não está podendo ter gastos financeiros muito grandes. Acho que você tem que equilibrar isso e acabar com o uso político disso.

O que você diria para o torcedor são-paulino, tão reticente em relação aos candidatos que estão concorrendo nas eleições deste ano, para fazê-lo confiar no seu projeto?

Eu gostaria muito que o torcedor são-paulino acessasse as redes sociais do grupo ao qual eu pertenço, @NovaForcaSPFC, e lá você verá as ideias que são diferentes das de outros grupos políticos. Muitas pessoas nos procuraram, viram nossas ideias e disseram que estão esperançosos com nossos candidatos ao Conselho. Acho que mostrando essas novas possiblidades e pensamentos talvez possamos conquistar votos de pessoas que estão desesperançosas com o São Paulo. O grupo nova Força fez um plano de gestão para a década do centenário com especialistas em cada área, marketing, futebol, jurídico e financeiro. Nos próximos dias vamos começar a divulgar parte desse plano que será apresentado ao presidente da diretoria, seja Roberto Natel ou Julio Casares.

Fonte: Gazeta Esportiva

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