Investigação ouviu médico e secretária do Fundo Estadual da Saúde da época. Governo pagou R$ 868 mil por 91 exames ginecológicos realizados no interior do Estado. CPI da Saúde investiga contratos indenizatórios realizados pela Susam em governos anteriores.
José Zamith/Aleam
A CPI da Saúde revelou, nesta terça-feira (4), novos detalhes sobre o pagamento de exames ginecológicos realizados no interior do Amazonas, em 2017, com suspeita de superfaturamento. Na sessão desta terça, foram ouvidos o médico que realizou os exames, João Carlos dos Santos, e a secretária do Fundo Estadual de Saúde da época, Maria de Belém.
Nessa segunda-feira (3), a CPI apontou que a empresa Norte Serviços Médicos LTDA. recebeu R$ 868 mil do Governo do Amazonas, em 2017, por 91 exames ginecológicos. Segundo a CPI, o governo pagou R$ 8,6 mil pelos exames de colposcopia e conização, mas um levantamento constatou que o valor dos mesmos exames não chegam a R$ 1,5 mil em clínicas particulares.
Maria de Belém foi secretária do Fundo Estadual de Saúde em 2017. Ela assinou a ordem de pagamento dos exames com suspeita de superfaturamento e admitiu a autorização do pagamento foi equivocada.
"Eu cometi um erro. Cometi um erro primário, talvez até por falta de traquejo de gestão pública. Hoje, depois que a gente amadurece mais a coisa, jamais assinaria, mas aconteceu", declarou.
A falha resultou no pagamento dos exames por valores muito acima do mercado. Segundo os deputados, esse foi um dos depoimentos mais esclarecedores de toda a CPI por conta dos detalhes nas declarações.
Maria de Belém afirmou que o projeto Barco Pai era o "projeto da meninas dos olhos da dona Edilene", fazendo referência à ex-primeira-dama do Estado, Edilene Oliveira, mulher do então governador José Melo. A ex-secretária finalizou dizendo que houve falta de gestão de saúde séria.
"Sinceramente, eu não me orgulho de ser ingênua não. Depois de 17 anos na rede privada, só que é muito diferente. Você sai de uma coisa organizada para um caos, deputado. É um caos. Precisava ter realmente, além de muita boa vontade política, gestores de Saúde comprometidos com a população", concluiu.
O segundo depoimento da sessão foi do médico João Carlos dos Santos, que prestou serviço para a empresa Norte Serviços Médicos. João Carlos foi quem realizou os exames ginecológicos naquele ano, no interior.
Ele informou que cobrou R$ 78 mil pelos exames, mas só recebeu R$ 60 mil da empresa, enquanto a mesma recebeu o pagamento de R$ 868 mil, cerca de 1000% em cima do serviço contratado.
A reportagem entrou em contato com a empresa Norte Serviços Médicos sobre as declarações, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
*Com colaboração de Fábio Melo, da CBN Amazônia.
CPI da Saúde ouve depoimentos de gestões anteriores