Segundo o Inquérito do Golpe, o plano contava com um robusto detalhamento das etapas de implementação da ruptura democrĂĄtica, que incluĂa trĂȘs linhas de operações: "eleições limpas", "legalidade" e "informacional". Plano golpista era delirante, mostra relatório da PF
Além da conclusão da PolĂcia Federal de que Jair Bolsonaro não só sabia, como executou, articulou e liderava o plano golpista de ruptura democrĂĄtica, também chama atenção no relatório do inquérito um organograma que mostra como os golpistas pretendiam estar em todos os lugares, caso o golpe acontecesse. E mais: eles tinham um delĂrio de que conseguiriam dar ares de legalidade ao golpe.
Segundo a PF, o plano contava com um robusto detalhamento das etapas de implementação do golpe, que incluĂa trĂȘs linhas de operações: "eleições limpas", "legalidade" e "informacional".
O plano previa, por exemplo, forjar supostas provas de fraude eleitoral e irregularidades para justificar o golpe e até um inquérito sobre "eleições limpas e abertas". Portanto, quem conduziria isso seria a PolĂcia Federal, dominada pelo governo golpista. A operação ainda previa novas eleições.
Além disso, os golpistas tentariam convencer o mundo a reconhecer o novo regime. Eles tinham essa ilusão de que seriam capazes de fazer essa mĂĄgica. De acordo com a PF, os indiciados contariam com apoio do Congresso. Isso chama atenção porque pode ter tido algum sinal verde de alguém, ou de um grupo, considerando algum tipo de apoio a um decreto que poderia abrir a porteira do golpe.
Um dos itens relatados pela PF também inclui o termo "denĂșncia aceita, inquérito aberto". Ou seja, eles também contavam com o apoio da Procuradoria-geral da RepĂșblica, porque a denĂșncia não só seria apresentada, como ela seria aceita pelo Supremo, então também se contava com figuras que ajudariam o governo golpista.
O terceiro tópico relatado pela PF é o "informacional". Segundo os investigadores, os golpistas previam benefĂcios à população mais pobre para dar um ar de segurança e levar a comunicação de que o Brasil estaria "em boas mãos".
Além disso, montariam uma estrutura para vender ao exterior a ideia de que tudo que estava acontecendo era em razão de fraude eleitoral. Eles eram tão delirantes, tão delirantes, que achavam que conseguiriam convencer o Brasil e o mundo de que os antidemocrĂĄticos eram aqueles que defendiam a democracia, e não o contrĂĄrio. A maior ironia de todas.
Bolsonaro no centro da trama
O relatório da PolĂcia Federal foi divulgado nesta terça-feira (26) e apresenta a ação de diversos polĂticos e militares na trama golpista que ameaçou a democracia entre o fim de 2022 e o inĂcio de 2023, após a vitória do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva nas urnas. Um dos polĂticos com papel central na trama, segundo a PF, é o ex-presidente Jair Bolsonaro, que seria beneficiado com o golpe de Estado. O nome de Jair Bolsonaro é citado 643 vezes no documento.
Além de Bolsonaro, a PF indiciou outras 36 pessoas por envolvimento na suposta tentativa de golpe. O inquérito foi encaminhado, por Moraes, à Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR), que poderĂĄ — ou não — apresentar denĂșncia contra o grupo.