O presidente russo, Vladimir Putin, reiterou nesta sexta-feira (5) ao primeiro-ministro hĂșngaro, Viktor Orban, que a Ucrânia deve abandonar as regiões que Moscou considera suas se quiser paz, em um encontro criticado pelos outros membros da União Europeia (UE) e por Kiev. O lĂder ultraconservador, que mantém laços estreitos com a RĂșssia, chegou a Moscou quatro dias após assumir a presidĂȘncia semestral da UE. Putin recebeu Orban no Kremlin e afirmou considerĂĄ-lo um representante da UE, embora esta tenha criticado a viagem e lembrado que o premiĂȘ hĂșngaro não tinha um mandato do bloco para visitar a RĂșssia. O secretĂĄrio-geral da Otan, da qual a Hungria também faz parte, disse que Orban o informou sobre sua viagem, mas enfatizou que não estava agindo como representante da aliança de defesa transatlântica. O presidente russo indicou que o encontro com Orban serviu para discutir as "possĂveis vias de resolução" do conflito na Ucrânia, onde a RĂșssia lançou uma ofensiva em fevereiro de 2022.
Na reunião, Putin reiterou que a ex-repĂșblica soviética deve abandonar quatro regiões do leste e sul que Moscou reivindica como suas próprias. "Estamos falando da retirada total de todas as tropas das RepĂșblicas Populares de Donetsk e Luhansk, e das regiões de Zaporizhzhia e Kherson", disse em declarações transmitidas pela televisão, após uma conversa com Orban que descreveu como "franca e Ăștil". O governante hĂșngaro reconheceu que hĂĄ "posições muito distantes" entre os dois lados e insistiu que ainda hĂĄ "muitos passos a serem dados" para "acabar com a guerra" e "estabelecer a paz". "Mas para restabelecer o diĂĄlogo, hoje foi dado o primeiro passo importante e eu continuarei esse trabalho", afirmou.
Antes de viajar para Moscou, Orban visitou Kiev na terça-feira, onde pediu ao presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que considerasse um "cessar-fogo" com a RĂșssia. Zelensky defende uma "paz justa" para a Ucrânia, e seu governo expressou que a viagem a Moscou não foi "coordenada" com Kiev. Os lĂderes da UE também criticaram Orban, de 61 anos, no poder desde 2010. Orban "não recebeu nenhum mandato do Conselho da UE para visitar Moscou", declarou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, reforçando que "o primeiro-ministro hĂșngaro não representa a UE de forma alguma". Borrell lembrou que a posição da UE sobre a RĂșssia, devido ao conflito na Ucrânia, "exclui os contatos oficiais entre a UE e o presidente" Putin. A titular da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lamentou a viagem e afirmou que o "apaziguamento" não impedirĂĄ Putin. VĂĄrios dirigentes da UE criticaram a visita a Putin, que é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por acusações de crimes de guerra durante a ofensiva na Ucrânia.
O bloco dos 27 paĂses é contra a ofensiva militar lançada pela RĂșssia e impôs duras sanções contra Moscou. No entanto, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, que sofreu uma tentativa de assassinato em maio, na qual levou quatro tiros, disse que teria "adorado" acompanhar Orban em Moscou "se [seu] estado de saĂșde o tivesse permitido". Os Estados Unidos também se declararam "preocupados" com a visita de Orban a Putin. Esta viagem "não farĂĄ avançar a causa da paz e é contraproducente para promover a soberania, a integridade territorial e a independĂȘncia da Ucrânia", disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
Durante os seis meses que um paĂs exerce a presidĂȘncia rotativa do Conselho da UE, pode estabelecer temas prioritĂĄrios em sua agenda."Orban chegou a Moscou como parte de sua missão de paz", afirmou seu assessor de imprensa, Bertalan Havasi, à agĂȘncia nacional de notĂcias MTI. Em uma entrevista à rĂĄdio estatal hĂșngara nesta sexta, Orban alegou que a paz não pode ser alcançada sem um diĂĄlogo. "Se ficarmos apenas sentados em Bruxelas, não seremos capazes de nos aproximar da paz. É necessĂĄrio agir", afirmou o lĂder da extrema direita ao responder a uma pergunta sobre sua viagem à Ucrânia.
Esta é a primeira visita de um dirigente do bloco europeu à RĂșssia desde que o chefe do governo austrĂaco, Karl Nehammer, viajou para Moscou em abril de 2022 na tentativa de uma mediação. Orban e Putin se reuniram pela Ășltima vez em outubro de 2023 na China, onde discutiram a cooperação energética. O lĂder hĂșngaro critica o apoio da "elite tecnocrata de Bruxelas", onde estão sediadas as instituições europeias, ao ex-presidente americano Donald Trump e se mostra relutante em fornecer ajuda financeira à Ucrânia.
Fonte: JP