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Quem é Mauro Cid e qual era seu papel no governo Bolsonaro

Tenente-coronel, que está preso desde maio, foi escalado para a função de ajudante de ordens de Bolsonaro pouco antes da posse, em 2018, quando estava pronto para assumir uma função nos EUA.

Por Redação em 18/08/2023 às 11:59:22
Tenente-coronel, que está preso desde maio, foi escalado para a função de ajudante de ordens de Bolsonaro pouco antes da posse, em 2018, quando estava pronto para assumir uma função nos EUA. Quem é Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro preso em operação da PF

Oficial com mais de 20 anos de Exército, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid ocupou o cargo de ajudante de ordens de Jair Bolsonaro nos quatro anos de mandato do ex-presidente. Desde 3 de maio, Mauro Cid está preso após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid no sistema do Ministério da Saúde.

Investigações envolvendo o nome de Mauro Cid, entretanto, não se limitam a este caso. A seguir, entenda quem era Mauro Cid, como ele virou "faz tudo de Bolsonaro" e qual era seu papel no governo do ex-presidente.

Quem é Mauro Cid?

Mauro Cid tem 44 anos, é tenente-coronel e filho de Mauro César Lourena Cid, general da reserva que foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, no sul Fluminense.

Mauro Cid concluiu a Academia Militar das Agulhas Negras em 2000. Ele também foi instrutor da própria Academia e fez os principais cursos da carreira militar, como a escola de Comando Estado Maior, tendo sempre ficado entre os melhores da turma, como explicou Guilherme Mazui, repórter do g1 em Brasília em entrevista ao podcast O Assunto de 10 de março de 2023.

Também em entrevista ao mesmo episódio, Andréia Sadi, colunista do g1 e apresentadora e comentarista da GloboNews, contou que até o último dia de mandato de Bolsonaro, o ajudante de ordem "se escalou como o artilheiro" do governo.

Como ele virou ajudante de ordens de Bolsonaro?

Mauro Cid foi escalado para a função de ajudante de ordens de Bolsonaro pouco antes da posse, em 2018, quando estava pronto para assumir uma função nos EUA.

O que é um ajudante de ordens?

Com uma sólida carreira acadêmica, ele abriu mão de acompanhar uma missão nos EUA para assessorar Bolsonaro. Pela função, ganhava R$ 1,7 mil, mais o salário militar de R$ 26 mil.

Nos quatro anos de mandato, o "faz tudo de Bolsonaro" tinha funções que iam de ajudar em lives e filmar o "cercadinho" onde Bolsonaro falava com apoiadores na saída do Palácio do Alvorada até a encaminhar pagamento de demandas particulares da família do ex-presidente.

Em entrevista ao Fantástico, Adriana Marques, professora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explicou as atribuições do cargo:

"O ajudante de ordens é uma espécie de secretário particular do presidente da República. Vai estar sempre ao lado do presidente e vai cuidar, inclusive, de questões sensíveis e mais pessoais, como a correspondência do presidente da República, vai ter acesso ao telefone celular. É uma função de bastante prestígio."

É comum ver o ajudante de ordens carregando objetos como pasta e celular da autoridade, além de recepcionar visitas, por exemplo. Mauro Cid é fluente em inglês e espanhol e traduzia artigos para Bolsonaro e intermediava encontros com estrangeiros.

"O presidente é uma das autoridades que tem direito a ter um ajudante de ordens. No caso do presidente, é um trabalho em tempo integral. Os ajudantes de ordem ficam tanto em Brasília quanto em viagens dentro e fora do país e é um trabalho de assistência direta, inclusive para assuntos de natureza pessoal", explicou Mazui.

Como foi a prisão de Mauro Cid?

Mauro Cid foi preso pela Polícia Federal em 3 de maio de 2023, mesmo dia que fez buscas na casa de Bolsonaro em Brasília.

A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes dentro do inquérito das "milícias digitais" que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Na decisão, o ministro considerou "plausível" a linha de investigação da Polícia Federal de que grupo ligado a Bolsonaro inseriu informações falsas no ConectSUS para obter vantagens ilícitas.

Caso dos cartões de vacina

A suposta fraude nos cartões de vacinação do Bolsonaro e da filha de 12 anos aconteceu em 21 de dezembro passado, pouco antes de viajarem para os EUA no penúltimo dia de mandato, segundo investigação da Polícia Federal. As pessoas beneficiadas conseguiram emitir certificados de vacinação e usar para burlar restrições sanitárias impostas pelos governos do Brasil e dos EUA, segundo os investigadores.

Segundo apurou a TV Globo, Mauro Cid teria determinado que um sargento da Ajudância de Ordens da Presidência da República incluísse dados forjados nos sistemas do Ministério da Saúde.

A inserção de dados falsos teve de ser refeita, em outra oportunidade. Isso porque, na primeira tentativa, o grupo inseriu no sistema lotes que tinham ido para outras cidades – e não para Brasília, como a fraude tentava apontar.

Nessa segunda tentativa, segundo os investigadores, os envolvidos deixaram rastros que facilitaram a apuração dos supostos crimes. Segundo a Polícia Federal, Mauro Cid era quem controlava o cadastro de Bolsonaro no ConecteSUS. Os acessos à plataforma foram feitos por um computador atribuído a Cid.

Na época, Bolsonaro afirmou que não tomou vacina e que não houve adulteração nos registros de saúde dele e da filha. "Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso", disse. Já Mauro Cid e família afirmaram que se manifestariam quando tiverem acesso aos autos do processo.

Caso das joias apreendidas na Receita

Em 2021, o governo Bolsonaro tentou trazer ao Brasil, de forma irregular, joias com diamantes avaliadas em R$ 16,5 milhões que eram presentes do governo da Arábia Saudita. Sem terem sido declaradas, as joias ficaram retidas na Recita no aeroporto de Guarulhos desde então.

Segundo o blog da Andréia Sadi, a tentativa frustrada de recuperação das joias, por parte do governo federal, começou com um pedido de Bolsonaro, de acordo com depoimento prestado à PF por Mauro Cid.

Segundo alegou Cid à PF, Bolsonaro informou a ele em meados de dezembro de 2022 sobre a existência de um presente retido pela Receita Federal e pediu que ele checasse se era possível regularizar os itens. De acordo com Cid, não houve ordem de recuperação do presente por parte do ex-presidente, mas sim uma solicitação.

O ex-ajudante de ordens, então, teria entrado em contato com Júlio César Vieira Gomes, então secretário especial da Receita, que confirmou que havia um pacote retido e que já havia um pedido de liberação dos itens datado de novembro de 2021, em nome do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

No depoimento, Cid afirmou que Júlio César o orientou sobre como deveria ser feito o documento para solicitar à Receita a retirada do presente, inclusive sobre quem deveria assinar o pedido. A maior parte das tratativas aconteceu por meio do WhatsApp, de acordo com o ex-ajudante de ordens.

Júlio César foi quem assinou o despacho que pedia que os auditores da Receita no Aeroporto de Guarulhos atendessem ao pedido de Cid e entregassem o conjunto de joias apreendido na alfândega, avaliado em R$ 16,5 milhões.

Julio César foi exonerado em meados de junho. Em nota na época, a defesa de Júlio César Vieira Gomes disse que a exoneração ocorreu "a pedido" e que "não há até o momento qualquer processo administrativo disciplinar em desfavor do ex-secretário". Disse também que não há "qualquer imputação por parte da Administração Pública acerca das condutas realizadas pelo então servidor relativamente ao seu regular exercício profissional na atuação junto à Receita Federal no caso das joias".

Venda de presentes

Na última sexta-feira (11), Mauro Cid, que já está preso, e o pai foram alvos de uma operação da Polícia Federal sobre a suposta tentativa de vender ilegalmente presentes dados ao governo federal por delegações estrangeiras. O pai não foi alvo de mandado de prisão.

Investigações da PF mostram que joias e presentes entregues Bolsonaro no exercício do mandato de presidente começaram a ser negociados nos Estados Unidos em junho de 2022. Naquele mês, a equipe de Mauro Cid solicitou ao Gabinete de Documentação Histórica a lista dos relógios recebidos de presente pela Presidência até aquele ponto do mandato do então presidente.

Na operação da semana passada, a Polícia Federal disse ao Supremo tribunal Federal (STF) ver indícios de que um relógio de aproximadamente US$ 51 mil vendido por Mauro Cid nos EUA foi dado de presente a Bolsonaro em viagem oficial, mas não foi registrado oficialmente no acervo do governo federal.

Segundo os investigadores, "há fortes indícios de que o relógio Patek Phillippe (...) teria sido presenteado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, em novembro de 2021, por autoridades do Reino do Bahrein e posteriormente vendido."

A PF destacou que fotos do relógio foram enviadas por Mauro Cid para um contato cadastrado em sua agenda como "Pr Bolsonaro Ago/21" em 16/11/21 durante a viagem ao Bahrein.

Como revelado pelo blog da Natuza Neri nesta quinta-feira (17), o advogado Cezar Bittencourt, que defende oMauro Cid, disse que seu cliente vai dizer que vendeu as joias da Presidência nos EUA a mando de Bolsonaro e que entregou o dinheiro para o ex-presidente.

Minuta para decretação de GLO

Em junho, a revista "Veja" revelou que a Polícia Federal descobriu a existência de uma minuta para a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) no celular de Mauro Cid.

A minuta para decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) encontrada no celular de Cid previa estado de sítio "dentro das quatro linhas" da Constituição. O termo é o mesmo que o ex-presidente usava frequentemente em seus discursos e declarações públicas.

Conforme o relatório da Polícia Federal (PF), a declaração de estado de sítio foi encontrada em um documento não assinado que Cid fotografou e enviou como imagem para um contato salvo em sua agenda como "Major Cid - AJO Pr" em 28 de novembro de 2022. De acordo com a PF, "o envio, aparentemente, serviu como backup das imagens".

Em outro trecho do documento encontrado no celular, são listadas, sem citar provas, situações classificadas como exemplos de "desvirtuação da ordem constitucional pelos Tribunais Superiores" e que justificariam o estado de sítio.

Fonte: G1

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